Afro Fashion Day: seletiva do Muzenza reúne 82 modelos em Plataforma

Jovens disputam uma vaga na passarela do desfile de moda promovido pelo CORREIO

Publicado em 20 de setembro de 2019 às 23:07

- Atualizado há um ano

. Crédito: Florian Boccia/Estúdio Correio

Aos 23 anos, Júnior Batista é um homem estiloso e confiante, mas nem sempre foi assim. “Eu me achei inferior quando era mais novo mas, com o decorrer do tempo, vim trabalhando isso em mim e provando que é possível conquistar espaços como este aqui hoje. Vim buscar meu sonho”, declara. Igual a ele, outros 154 jovens de vários bairros e até de cidades da Região Metropolitana de Salvador se inscreveram para participar da quinta seletiva de modelos não agenciados do Afro Fashion Day 2019. Júnior Batista foi um dos 82 jovens que foram Plataforma participar da seletiva Realizada no Centro Cultural Plataforma na tarde desta sexta-feira (20), a etapa recebeu o nome do Muzenza, um dos seis blocos homenageados esse ano pelo desfile de moda realizado pelo CORREIO em novembro, celebrando com beleza e criatividade o mês da Consciência Negra. A temporada de seletivas começou com o Olodum e seguiu com os Filhos de Gandhy, Malê Debalê e Ilê Aiyê. A próxima, e última, será na próxima quinta-feira (26), na sede do Cortejo Afro, em Pirajá. Jovens de 13 a 24 anos moradores de Salvador e Região Metropolitana podem se inscrever pelo link bit.ly/afdseletivas2019. Não é necessário residir no bairro. Júri avalia uma das candidatas Concorrida O júri da seletiva desta sexta-feira foi formado pelo curador de moda do Afro Fashion Day, Fagner Bispo, pelo bailarino, coreógrafo e figurinista do Muzenza, Siry Brasil, pela designer de acessórios Rebeca Matos, da marca Maria Coruja Ateliê, e pelo modelo e produtor da FocusModa, Jonas Bueno. “Essa seletiva de Plataforma foi mais concorrida que as dos outros anos. Vai ser difícil escolher porque tem muita gente talentosa”, revelou Fagner.

Cláudia Maria, 23, participava pela segunda vez. “O Afro ganhou uma magnitude tão grande que se tornou um sonho para mim. É muito importante ocupar mais espaços”, avalia. Rei do Muzenza há 16 anos, Siry Brasil sabe o impacto que um discurso pode ter mesmo quando passa por caminhos não óbvios, como uma passarela. “Sou estilista e sei como esse trabalho de valorização dos jovens é também educativo. É uma questão de valorização”, diz. Washington de Alcântara e Cláudia Maria: "É muito importante ocupar mais espaços" Em novembro, em data e local a serem confirmados, seis jovens que participaram das seletivas subirão na passarela do Afro Fashion Day e desfilarão ao lado dos modelos selecionados entre as agências de Salvador. Todos estarão usando roupas e acessórios produzidos por marcas baianas. A Maria Coruja Ateliê, de Rebeca Matos, é uma delas. “Hoje foi especial para mim porque, da mesma forma que é uma honra estar entre as marcas, sei que será muito especial para os vencedores das seletivas. Uma oportunidade para que meninas e meninos que jamais teriam essa chance possam um dia estar mundo a fora, como tantos outros que temos acompanhado”, acredita.  Adrielle Camile chegou às semifinais no ano passado Vencedor das seletivas de 2018, Jonas Bueno, 26, se viu no papel de jurado trazendo consigo a experiência de ser avaliado. “Sei bem o quanto é tenso para eles participarem”, conta. O modelo está à frente do projeto FocusModa, que há cinco anos incentiva jovens através das passarelas, artes plásticas e teatro. Adrielle Camile, 16, é uma de suas alunas que conta que as aulas a ajudaram a melhorar sua atitude e postura. No ano passado, a modelo chegou à semifinais. “Eu quero ser uma daquelas meninas na passarela e estou me dedicando para isso”, conta.

[[galeria]]

Jonas vê como inspirações jovens como Camile ou como o bailarino Washington de Alcântara, 20, que diz “sou artista e ser artista estar em vários lugares provando quão singulares nós somos”. “Para mim o Afro é um anzol que só pesca, só puxa.  Eu me sinto representado quando vejo um jovem negro, periférico, de 1,50 cm, entrando na passarela porque o Afro traz o empoderamento. O Afro diz: ‘você pode, você consegue, traga sua atitude que a aqui a gente resolve’”, avalia.