Agenda Bahia: Persistência e inteligência fazem toda a diferença

Conheça histórias de quem faz diferença usando as novas tecnologias

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  • Da Redação

Publicado em 14 de outubro de 2020 às 05:00

- Atualizado há um ano

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A frase do matemático britânico Clive Humby sobre os dados se tornou um mantra dos tempos pós-modernos. “Os dados são o novo petróleo”, disse numa sociedade ainda dependente do combustível fóssil. Entretanto, a leitura de Humby sobre os novos tempos não parou por aí: assim como o petróleo precisa ser refinado para servir aos homens, os dados precisam ser analisados. Aprender a conversar no idioma do bigdata, blockchain e inteligência artificial (AI, na sigla em inglês) é o que pode fazer diferença entre o fracasso e o sucesso. 

Quem hoje vê o baiano Diego Figueredo à frente da bem sucedida Nexo AI, dificilmente consegue imaginar a trajetória de recomeços que ele precisou trilhar como empreendedor. Tudo começou aos 17 anos, inicialmente para atender uma demanda pessoal de ter acesso a internet de banda larga em Guarajuba. Os links dedicados em alta velocidade só eram oferecidos para empresas e a um custo elevado. A solução? Adquirir um e passar a fornecer o serviço para outros moradores da região.

O negócio foi um sucesso. A empresa expandiu e passou a oferecer para outros locais da Linha Verde até Salvador, tornando-se o maior provedor em termos de extensão da Bahia. Diego vendeu sua parte no negócio e resolveu investir na bolsa de valores. Ganhou muito dinheiro na primeira semana, mas acabou perdendo quase tudo depois. Já vendeu placas de computadores, cuidou do negócio da família, trabalhou numa transportadora onde se tornou sócio e investiu em franquias, onde ele “quebrou” pela última vez – pelo menos “até agora”, diz. 

Quando estava prestes a se formar em administração pela Fundação Getúlio Vargas, Diego Figueredo descobriu o universo da tecnologia. Montou a sua primeira startup, na área de logística, mas não conseguiu evoluir para um produto. Ainda passou por algumas tentativas até que chegou a um guia de turismo virtual, usando inteligência artificial (AI, na sigla em inglês). E foram essas duas letrinhas – AI – que fizeram toda a diferença na vida dele. 

Após participar de uma competição na IBM e perder, a startup chamou a atenção de um diretor da IBM por ter sido a única que fez o desenvolvimento todo durante o encontro. Isso foi em novembro de 2016. A equipe voltou para Salvador e Diego passou a enviar mensagens constantemente para ele mostrando a evolução da empresa. Em janeiro de 2017, uns “20 e-mails” depois, a equipe foi convidada a participar de um teste para se tornarem parceiros globais da IBM. 

“Eu estava quebrado. O que tinha de TV, computador, eu vendi para conseguir vir. Aluguei um AirBNB e levei o time para passar um mês e começamos a trabalhar. Com duas semanas fechamos um primeiro contato e eu não voltei mais para Salvador”, lembra. De lá para cá a empresa segue firme crescendo. Em 2019, a empresa iniciou uma operação em Nova York, ganhou prêmio em Las Vegas da IBM, como principal parceiro de inovação estratégica para a América Latina. A lista de clientes conta com nomes como Nestlé, Bayer, Volkswagen e Brastemp. 

Diego é um dos três palestrantes do Agenda Bahia ao Vivo que acontece hoje a partir das 11h no canal do CORREIO no Youtube (correio24h). Além dele, o evento vai contar com as presenças de Sil Bahia, codiretora executiva do Olabi e idealizadora do Pretalab, e de Julio Begali, Head da SMARTie. As apresentações serão mediadas pela apresentadora Camila Marinho.  

'Todas as empresas são atingidas pela tecnologia'

CEO da Nexo AI, Diego Figueiredo vai mostrar como os conceitos de Blockchain, Inteligência Artificial e Big Data chegaram para mudar estruturas e sustentar novos modelos de negócios. Empreendedor desde os 17 anos, formado em administração pela FGV, o baiano comanda uma empresa que se tornou um dos principais players de inteligência artificial do país, com escritórios em São Paulo e em Nova York. 

O que é a Nexo AI atualmente?

A Nexo atua como um braço de inovação, com o objetivo de usar tecnologia para transformar o negócio das empresas. A gente utiliza tecnologias emergentes de formas estratégicas. A gente tem clientes gigantes, que têm times grandes de tecnologias, mas esses times acabam sufocados pelas demandas do dia a dia e não conseguem parar com o time de negócios e discutir como levar empresa para o próximo nível. 

Como a empresa se dedica apenas a isso, para você é mais fácil conduzir o processo de inovação?  

Exatamente, eu fico no meio entre os times de tecnologia e de negócios das empresas, plugo nos dois, entendo quais são as demandas e necessidades deles, os desafios e dores, sento com a equipe de tecnologia, vejo o que já estive de pronto, o que ainda precisa ser feito para melhorar os processos e a partir daí eu desenvolvo o que é necessário. Entrego o produto pronto. 

O que mudou no processo de inovação neste mundo pós-digital em que vivemos?

A grande diferença é que antes a inovação e tecnologia ficavam clusterizadas dentro das empresas. Havia um setor específico para pensas e trabalhar nisso. Hoje as empresas entenderam que independente dos setores em que atuam, elas são atingidas pela tecnologia e precisam estar sempre atentas. Um vendedor de pastel hoje pode vender pelo Ifood, Rappi, então é atingido por tecnologia de qualquer jeito. Depois da pandemia qualquer empresa precisa se perguntar sobre como ela pode levar o seu produto ou serviço de maneira digital até o consumidor. 

Qual é o impacto da inovação na criação de novas oportunidades? 

Toda inovação acontece em ondas. Antes a gente pegava taxi telefonando ou levantando a mão e chamando. Até que surgiu o Easy Taxi, 99, Uber... No início os aplicativos causaram uma enorme confusão, tivemos greves de taxistas, houve resistência, mas essa tecnologia já foi assimilada. Vai ter que surgir outra inovação. Está despontando o carro autônomo, que vai furar a linha que dos aplicativos e você não vai ter mais um motorista. E depois ele vai servir de suporte para outra  que vai chegar. A inovação acontece em ondas. 

As novidades são acessíveis para empreendedores de pequeno porte?

 A gente nunca teve um ambiente tão propício ao desenvolvimento de tecnologias quanto agora. Eu queria ter tido em 2016 as condições que existem hoje. Nunca houve tanta estrutura para criar novos negócios. Na época do meu pai era muito mais difícil chegar lá. 

Por diversidade na produção das tecnologias

A codiretora executiva do Olabi e idealizadora do Pretalab, Sil Bahia, conta como redes conectadas, makerspaces, tecnologias, diversidade e antigos saberes podem gerar impactos positivos na sociedade. Ela é mestre em cultura e territorialidades pela UFF e pesquisadora associada do Grupo de Arte e Inteligência Artificial da USP e do Grupo de pesquisa em Políticas e Economia da Informação e Comunicação da UFRJ.

Como foi o nascimento do Olabi?

O Olabi é uma organização social com o foco na democratização das tecnologias. Surgiu em 2014 muito em função do contexto de cultura maker, do faça você mesmo, tentando entender o que é isso no contexto brasileiro. Nós somos fazedores por excelência, estamos sempre criando soluções para problemas diários. Eu cheguei ao Olabi em 2015 para trabalhar como coordenação em comunicação e em um ano trabalhando lá, eu fui percebendo uma coisa que era muito nítida, que poucas pessoas negras estavam nos espaços de inovação e de tecnologia. Comecei a pensar no que fazer para trazer as pessoas que se parecem comigo para este univerno. É quando surge a Pretalab. 

O que é tecnologia para vocês?

A gente entende tecnologia muito menos como um sistema ou uma técnica, ou muito menos como sendo apenas algo digital. Tecnologia para nós é um conjunto de técnicas aplicadas. Marcenaria, o chochê, a costura. Ao expandir um pouco essa visão, conseguimos criar diálogos com outros mundos, outros fazeres e outras viagens. Assim conseguimos criar diálogos com as tecnologias digitais, que se tornaram tão poderosas e de ninchos. Em geral, quem produz tecnologia é o homem branco do hemisfério norte. A gente trabalha para que haja mais diversidade na produção de tecnologia e não apenas no consumo dela. 

O Olabi já atendeu mais de 20 mil pessoas em três ano. Esse resultado é uma resposta à desigualdade? 

 Talvez o grande sucesso do Olabi é porque ele está muito ligado a assuntos de fronteiras. Temos muitas bolhas e eu acho que nossa vocação é criar pontes, fazer diálogos entre mundos que aparecentemente não dialogam. Foram mais de 20 mil pessoas nas atividades mais diversas porque a gente acredita muito nesta mistura. Quando a gente fala em diversidade, não falamos apenas das questões de gênero e raça. Queremos diversidade de práticas, de jeitos de ser e de fazer, diversidade etária também. A gente tinha um curso no Olabi que era costura hi-tech, que misturava costura com eletrônica , com impressão 3D. Talvez nosso sucesso se dê pela capacidade de traduzir conteúdos numa linguagem mais popular e também pela pegada de aproximar mundos que não conversam muito. 

O que é a tecnologia social? 

Neste período de isolamento eu tenho pensado muito a respeito do nosso papel no desenvolvimento tecnológico. A inovação é criada por pessoas e se é assim, ela também é social. Essa é a importância de se pensar sobre tecnologia social. Temos que entender que não é necessariamente digital. Pode ser também. 

'A coleta de dados hoje já está presente em quase tudo'

Head da SMARTie, Julio Begali abordará o uso das tecnologias para potencializar a transformação digital voltada à Gestão Ambiental, além da utilização de ecossistemas de startups verdes para maximizar inovação voltada para a sustentabilidade. A SMARTie é o programa de Corporate Venture do Grupo Solví, maior grupo de coleta, valorização e destinação de resíduos da América Latina.

O que é a SMARTie?

O grupo Solvi decidiu no final do ano passado colocar foco na interface com o ecossistema de inovação aberto e com startups, que vem ganhando força nos últimos anos. O grupo sempre foi muito voltado à inovação, mas sempre voltada para as tecnologias de tratamento e de destinação de resíduos, que é o negócio do grupo. Também atuou com muita força em melhorias de seus processos de gestão. No ano passado, o grupo entendeu que deveria ter uma equipe focada na produra de inovações disruptivas, que são novos modelos de negócios, tecnologias que ainda estão incipientes ou em testes. A SMARTie foi criada com este propósito, de fazer essa conexão entre o grupo e o que tem sido feito fora da empresa. 

Qual a importância desse relacionamento entre uma empresa tradicional e o universo das startups?

Quando a gente fala de uma empresa já consolidada há muito tempo como a Solvi, ela tem em seu DNA o jeito de fazer negócio de antigamente, que é um jeito que funciona, tanto que o grupo está aí até hoje. Mas devido às mudanças dos últimos anos, com a aceleração da informação, das tecnologias, esse modelo começa a ser testado e começa a ficar defasado. Daí se entende a necessidade de trabalhar com o novo ambiente. Como se faz a adequação de um grupo tão grande e com uma cultura tradicional, para que ele pense de maneira exponensial? Uma das maneiras de se fazer isso é conectar a empresa com as startups, que já nascem com essa cultura. Quando se faz isso, a empresa mais tradicional começa a revisar sua própria cultura e se inserir cada vez mais. 

Esse movimento é acessível para empresas de menor porte? 

O foco é exatamente esse. Startups normalmente são muito pequenas. E o propósito é conseguir aproximar a Solvi deste tipo de empresas. 

Como a tecnologia pode ajudar no desenvolvimento e melhoria da gestão ambiental? 

Uma delas é a questão tecnológica, que é algo feito pela Solvi já há muito tempo. Você olha novas maneiras de transformar resíduos em combustível, que é algo que já é feito em Salvador. Nossas operações em Salvador são inclusive bem emblemáticas. A gente tem também a gestão da informação. Hoje, praticamente tudo o que a gente se relaciona tem algum tipo de sensor que coleta dados. Isso contribui para a gestão ambiental. Um outro ponto é a questão dos novos modelos de negócios. As startups trazem para a discussão a possibilidade de novos modelos de negócios. Às vezes, não traz uma inovação tecnológica, mas traz um uso diferente para coisas que anteriormente não eram utilizadas como poderiam por parte das empresas. 

O Fórum Agenda Bahia 2020 é uma realização do CORREIO, com o patrocínio do Hapvida, parceria do Sebrae, apoio da Braskem, Claro, Sistema FIEB, SMARTie e SINDIMIBA e apoio institucional da Rede Bahia e da rádio GFM 90,1.