‘Agora ou você é ponto com ou é ponto fora’, diz a ‘Tubarão anjo’ Camila Farani

Investidora anjo no Programa Shark Tank, Camila Farani mostra como um negócio pode alcançar o ‘pitch matador’ mesmo na crise

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  • Priscila Natividade

Publicado em 27 de dezembro de 2020 às 16:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Divulgação

Não é tarefa fácil convencer alguém a comprar sua ideia. Em um momento de crise então, para conquistar esse investimento não dá para remar contra a maré. “Não adianta mais resistir. Quem estava reticente teve que se adaptar e muitos que não vendiam online entenderam a importância de estar nas prateleiras do mundo digital e, por consequência, viram seus resultados melhores que nas lojas físicas”. O conselho é de uma das maiores referências do país em empreendedorismo e investimento em startups e sócia fundadora da G2 Capital, Camila Farini. 

‘Tubarão anjo’ do Shark Tank Brasil, exibido pelo Canal Sony, Camila conta atualmente com mais de 40 startups de todas as regiões em seu portfólio e detém investimentos que superam R$ 1 bilhão em valor de mercado. A empresária acaba de lançar também o projeto Ela Vence, um hub que vai oferecer capacitação e crédito para estimular o empreendedorismo e a liderança feminina (www.elavence.com.br). A iniciativa disponibiliza uma linha de  de até R$ 50 mil com juros de 0,49% ao mês. O prazo para adesão termina no dia 31 (quinta-feira). E como alcançar o ‘pitch matador’ de quem já investiu, aproximadamente, R$ 30 milhões junto com co-investidores no Brasil e mundo? Veja na entrevista.  

Que tipo de negócios e startups o investidor anjo está em busca na pandemia? 

As empresas de tecnologia  têm sofrido um pouco menos os impactos da pandemia, já que na crise temos visto que a aceleração da digitalização foi compulsória. As startups e empresas de tecnologia em destaque são aquelas que estão trazendo soluções para a nova realidade do consumidor.Cresceram muito durante a pandemia negócios que atendem à economia de baixo contato (low touch economy) - como soluções de logística para delivery - e também que facilitaram a interação entre as pessoas nos processos remotos. Acredito que as startups que têm chamado mais atenção dos investidores neste momento são dos segmentos de logística, alimentação saudável, telemedicina, educação, e-commerces, bem estar e experiência do cliente.O que é determinante para ser encontrado por investidores nesse momento?

O que eu vejo mais acontecer é ter uma startup, tem tecnologia, mas não tem uma boa pessoa de produto, especialista naquilo. Então o primeiro de tudo é se ela conta com um time complementar. O segundo ponto que eu analiso é o modelo de negócio: se existe um grande problema, se tem uma solução e quão tracionado pode ser este negócio (ou seja, quanto ele pode crescer). E terceiro e não menos importante: quais são, dentro do tamanho do mercado, as possibilidades de saída. Para ser atrativo ao mercado, precisa ter atitude, que é alcançada com prática do negócio, pé no chão e “sola de sapato”. Outro ponto é ter coerência: no que fala, nos números, sem sonhar ou viajar, mostrar que sabe do que está falando.Como você vê o futuro do varejo diante de todas as mudanças? 

Realmente essa pandemia desafiou os pilares do comércio físico, diga-se de passagem, que vai continuar a existir, mas totalmente reformulado e compulsoriamente digital. A integração perfeita entre todos os canais (sejam eles online - web, app, redes sociais - ou off-line -TV, lojas físicas, rádio) é cada vez mais importante. É uma mudança de mentalidade. 'Quem conseguir entregar entregar conveniência, comodidade e eficiência mostrará a que veio', afirma a investidora (Foto: Divulgação) O que é um negócio inovador?   Nossos pensamentos já se acostumaram à tecnologia como sinônimo de inovação. Mas em quais outras dimensões ou setores ela vem acontecendo? Fiz no início do ano uma viagem ao Japão, onde orientei empreendedores brasileiros em visitas técnicas formais, além de andar pelas ruas com o olhar atento a novas experiências. Algo válido de observar é como os japoneses trabalham as partes da engrenagem para tornar o todo inovador. Processos, produtos, pessoas. Esses são os três elementos que podem diferenciar negócios, independente do ramo e que podem trazer ganhos de competitividade. Quem não olhar para isso, certamente ficará para trás.Entre os negócios que você se tornou anjo no Shark Tank Brasil, que experiência destacaria? Para citar um exemplo, mencionaria a CatMyPet (www.catmypet.com), empresa especializada em produtos para gatos que, me conquistou. O faturamento da empresa após a mentoria, triplicou. E eles não param de inovar. Recentemente ficaram conhecidos como a primeira marca a oferecer álcool em gel para animais de estimação.

Qual a estratégia para chegar ao 'pitch' perfeito?   A estrutura de um pitch “matador” como costumo falar, envolve alguns requisitos: 1) Problema 2) Solução - o que é seu produto/serviço? 3) Modelo de negócios - Quanto e como você cobra pelo seu produto? Que incentivos oferecem ao seu consumidor? 4) Mercado - equipe, sócios, mentores, parcerias, patrocínio e apoio; 5) Concorrência - Direta (produtos/serviços similares) e indireta (potenciais substitutos do seu produto/serviço). Também é preciso levar em consideração os pontos de fricção (quais são as fragilidades do seu projeto?), estratégias de crescimento, planos futuros, investimento estratégias de saída (quem são os potenciais compradores do negócio?) e o captable (qual a estrutura acionária atual da empresa). Quem conseguir entregar conveniência, comodidade e eficiência mostrará a que veio.

QUEM É

Camila Farani  Desde 2016 como uma das “tubarões” do programa de TV Shark Tank Brasil, Camila é uma das maiores referências do país em empreendedorismo e investimento em startups, reconhecida como a melhor Investidora-Anjo no Startup Awards em 2016 e 2018. Carioca, ela também é sócia-fundadora da G2 Capital, que conta com mais de 40 startups em seu portfólio. Camila detém investimentos que superam R$ 1 bilhão em valor de mercado.