Agronegócio: investimentos de outros setores ultrapassam os R$ 220 milhões

Com 26% do PIB agrícola do estado, a região Oeste vem atraindo investimentos em outras áreas, como é o caso do setor de comércio e serviços

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  • Da Redação

Publicado em 3 de junho de 2017 às 16:52

- Atualizado há um ano

Uma praia em pleno cerrado. Com direito a areia ao redor e água salgada. Shopping, que pretende transformar o entorno em um bairro, e até fábrica de cachaça para agregar valor a produção de pequenos lambiqueiros da região. Esses são apenas alguns empreendimentos que devem diversificar a cadeia econômica no Oeste do estado, tradicionalmente conhecido pelo alto desempenho na produção de soja, milho e algodão. Somando os três empreendimentos, os investimentos ultrapassam os R$ 220 milhões. Região Oeste é a principal fronteira agrícola da Bahia, responsável por 26% do PIB do setor (Foto: Divulgação)A principal fronteira agrícola da Bahia responde por 7% do Produto Interno Bruto  (PIB) do estado, o que corresponde a R$ 15,168 bilhões. Quando se leva em conta apenas a participação no PIB da agropecuária, a participação do Oeste baiano é de R$ 4,023 bilhões. Isso  representa 26% de tudo o que é produzido nos campos do estado. O enorme potencial agrícola atrai fornecedores de insumos e máquinas para turbinar a produção, mas não apenas isso. O Oeste é atrativo para indústrias e o setor de comércio e serviços.

“A agropecuária acaba sendo o principal indutor por essa demanda maior por serviços. Vários vendedores de máquinas e equipamentos estão se instalando aqui para ficar mais próximos dos produtores, fazendo investimentos e ampliação. Tudo isso  constrói um ciclo virtuoso para a região do agronegócio”, pontuou Luiz Gonzaga, chefe de gabinete da Secretaria de Desenvolvimento da Bahia (SDE), durante a Bahia Farm Show, em Luís Eduardo Magalhães. “Existem projetos para geração de álcool, energia a partir do eucalipto e uma possibilidade muito grande também de trazer uma fábrica de tecelagem”, diz.

ExpansãoEntre os empreendimentos que chegam ao Oeste está o complexo de lazer Aldeia Parque que promete transformar o cerrado em mar, com a instalação de uma praia artificial com água salgada, ondas e areia também. Esta é só mais uma das outras 40 atrações do parque, que iniciou as obras há 90 dias, em Rosário, distrito do município de Correntina (BA). Essa é a segunda unidade da Aldeia Parque no país. A outra fica em Barra do Piraí, no Rio de Janeiro.

Com orçamento na ordem de R$ 160 milhões e previsão de inauguração da primeira etapa para o Verão de 2019, a expectativa é que o parque transforme a região oeste em um destino turístico. “Nós vamos gerar aí mais de 400 empregos diretos e mais de mil indiretos. Como o oeste é uma região muito pujante, nós vamos unir o útil ao agradável. Vamos trazer para uma região do agronegócio um destino turístico para o oeste da Bahia”, afirma o proprietário do empreendimento, Walter Gama Terra Júnior.

Primeiro shoppingO alto potencial de consumo e a riqueza da região também são os principais fatores que atraíram empreendimentos como o Shopping Parque Oeste, o primeiro a ser construído em Luís Eduardo Magalhães. Próximo ao centro da cidade, o equipamento vai contar ainda com condomínio residencial, lotes comerciais, hotéis e um hipermercado.  “A cidade vem crescendo, o que só aumenta a viabilidade do equipamento, visto que, na cidade, falta opção de entretenimento e lazer”, diz.  Na primeira etapa do projeto foi investido em torno de R$ 60 milhões. O shopping está previsto para ser inaugurado em 2021. 

Novos negóciosAinda na aposta em diversificar os negócios, a Cachaçaria Vó Nenzinha é mais um projeto que vem tomando corpo na região. Criada há seis meses, a empresa começou com a representação de bebidas de várias regiões. O próximo passo é produzir a cachaça com o rótulo próprio, explica o empresário Thássio Reis.

Ainda de acordo com ele, a previsão é que a cachaça genuína do Oeste deve começar a ser comercializada no final de 2018. “É uma bebida que ganhou uma valorização no mercado com um conceito diferente no rótulo, na embalagem e é isso que queremos trazer para o produto e ganhar tanto o mercado interno quanto o externo”. A empresa investiu R$ 100 mil desde o começo do ano.

Retomada no campoSe os investidores estão começando a investir na diversificação da produção para outras áreas no Oeste, o agronegócio,  realidade há muito tempo, não fica para trás.  Após cinco anos consecutivos de estiagem, o produtor do Oeste baiano deve voltar a investir. Segundo dados da Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia (Aiba), a expectativa é que a produção de algodão, colhido a partir de junho, seja  270% maior em comparação com a última safra do ano passado. A soja também teve um bom desempenho, com produtividade 54% maior em comparação ao mesmo período.

“Quando nós conseguimos uma safra boa, damos um suspiro longo e criamos coragem para a próxima jornada. No momento que nós produzimos 54 sacas de soja, em média, por hectare, só duas abaixo no nosso recorde, isso aí é excelente e gera muito otimismo. Agricultura é feita disso”, destaca o presidente da Aiba e da Bahia Farm Show, Celestino Zanella. Os números da atual edição ainda estão sendo fechados, mas na última edição da feira, mesmo em crise, o volume de negócios ultrapassou R$ 1 bilhão.

Na safra atual, a região plantou 1,580 milhão de hectares de soja, 190 mil de algodão e 180 mil de milho. A média de expansão de área chega a 3%. Segundo o assessor de agronegócio da Aiba, Luis Stalke, o Oeste começa a se recuperar. “O produtor começa a fazer algumas coisas que ele deixou parado por conta dessas perdas consecutivas”, ressalta.

Uso de alga eleva produção em até 10%Quem acha que lugar de alga marinha é no mar não imagina a quantidade de nutrientes que ela possui e de que maneira isso pode interferir no desempenho da lavoura. Elas podem ser fontes naturais de cálcio, magnésio e dezenas de outros nutrientes, que resultam em melhorias no campo, o que pode significar uma produtividade em torno de 10% maior, ao potencializar a eficiência do adubo químico.Algas estimulam atividades fundamentais para a fertilidade do solo (Foto: Divulgação)“O objetivo maior do produto é aumentar a produtividade devido às ações do algen como fonte nobre de nutrientes marinhos e como também um potencializador do adubo químico”, explica o responsável técnico da Oceana Brasil, Ricardo Macedo. A empresa desenvolveu a tecnologia de extração sustentável das algas marinhas, a partir de fragmentos mortos da espécie Lithothamnium. A tecnologia de fertilização do solo foi apresentada durante a Bahia Farm Show.

Desde 2013, o produto é comercializado em escala comercial. “O diferencial em relação aos diversos insumos é ser de origem 100% vegetal”, pontua Macedo.

Na lavoura, ele é capaz de substituir qualquer fertilizante que seja utilizado para fornecer cálcio para o solo, entre eles o gesso, óxido de cálcio, nitrato de cálcio, cloreto de cálcio, farinha de concha, farinha de osso.

Os produtos são extraídos no município de Tutóia, no Maranhão, onde há um ambiente favorável ao crescimento de algas.  Pelo menos, 12 produtores utilizam o sistema de fertilização a partir de algas marinhas. Em solos como o do cerrado, que naturalmente apresenta características de baixa fertilidade, as algas ajudam a estimular a atividade microbiana. A matéria orgânica estimulada nesse processo é o principal componente de fertilidade dos solos tropicais.

Tecnologias que conciliem o aumento de produção com o uso sustentável dos recursos têm interessado cada vez mais o produtor, como explica a bióloga e diretora de Meio Ambiente da Associação dos Produtores e Irrigantes da Bahia, Alessandra Chaves. “Se não houver hoje a utilização de boas práticas no manejo do solo, o produtor não consegue alcançar um bom resultado. A produção está cada vez mais atrelada à sustentabilidade. O volume de produção é crescente onde esse manejo é adequado”.

O médio produtor Luiz Antônio Pradella é adepto às boas práticas na lavoura onde cultiva comercialmente milho e soja na Região Oeste do estado. Ele tem testado o uso de produtos biológicos no solo, mas defende também uma boa rotação de cultura para formação de biomassa. “O manejo de rotação de cultura protege o solo e melhora a sua diversidade biológica”, afirma. A alternação de espécies vegetais em uma mesma área produtiva é feita como cultivo de milheto, sorvo e branquiária. “O solo é coberto e transforma parte desta biomassa em matéria orgânica, que o torna melhor para a agricultura. O sequestro de carbono ainda beneficia o meio ambiente como um todo”.

*A repórter viajou  a convite da Bahia Farm Show