Agropecuária cresce 13% e sustenta PIB brasileiro

O campo foi responsável por 70% do crescimento econômico, que foi reforçado pela volta das famílias brasileiras às compras. O PIB da agropecuária obteve, em 2017, o melhor resultado já registrado

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  • Donaldson Gomes

Publicado em 1 de março de 2018 às 04:27

- Atualizado há um ano

O ano de 2017 foi da agricultura na economia brasileira. De novo. O setor agropecuário cresceu 13% em 2017 ante 2016 e garantiu o crescimento de 1% no Produto Interno Bruto (PIB) nacional no ano passado, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).  O campo foi responsável por 70% do crescimento econômico, que foi reforçado pela volta das famílias brasileiras às compras. O PIB da agropecuária obteve, em 2017, o melhor resultado da série histórica iniciada em 1996. 

O avanço econômico, porém, perdeu força ao longo do ano, o que indica uma recuperação ainda lenta. No quarto trimestre, o PIB cresceu apenas 0,1% em relação ao trimestre anterior. O resultado ficou abaixo do esperado por analistas do mercado, que era uma alta de 0,3%. 

No período, o bom desempenho da indústria e dos investimentos reforçou as expectativas em torno de um avanço maior da economia em 2018. Ao mesmo tempo, alguns economistas revisaram para baixo as projeções para o crescimento do PIB deste ano, ao verem que o consumo das famílias perdeu força na reta final do ano. 

Tendência de alta A desaceleração no ritmo de crescimento da economia ao longo de 2017 não muda, no entanto, a tendência de recuperação gradual da atividade econômica, de acordo com o diretor de Estudos e Políticas Macroeconômicas do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), José Ronaldo de Souza Junior. Segundo ele, o movimento é reflexo de estímulos extraordinários que ficaram concentrados na primeira metade do ano, como o bom desempenho do PIB Agropecuário e a liberação dos recursos inativos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS).

“Como esses extras puxaram muito para cima o crescimento nos dois primeiros trimestres, o avanço dos meses seguintes parece pequeno. Mas não houve nenhum estímulo extra, e mesmo assim a atividade econômica teve consistência para se manter em patamar superior ao daquele período”, explicou o diretor do Ipea.

Além do setor agropecuário, outro que cresceu foi o de comércio e serviços. A expansão foi de apenas 1%, mas respondeu por 20% do resultado na economia. Os 10% restantes foram puxados pelo pagamento de impostos.

Patamar de 2011 Apesar do avanço, a economia brasileira ainda está 5,95% menor do que era antes da recessão, calculou a corretora de recursos Gradual Investimentos. Mesmo que o país cresça 2,6% este ano, ainda seria necessária uma expansão de 3,5% para voltar ao tamanho que tinha em 2014, no período pré-crise. “Mesmo que a economia suba 3% é pouco, o que me preocupa é que as melhoras não estão sendo traduzidas em consumo e já há evidências de que a produção industrial de janeiro não vai vir bem”, avalia o economista André Perfeito, da Gradual.

De acordo com a coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, Rebeca de La Rocque Palis, com resultado de 2017 o PIB retorna ao patamar observado no primeiro semestre de 2011. “Isso considerando o valor adicionado em termos reais, já descontada a inflação”, enfatizou a pesquisadora.

Ritmo forte O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, defendeu que o ritmo de crescimento da economia é forte, e citou que o governo manteve a projeção de alta de 3% PIB para este ano. “Pode haver uma variação pontual no crescimento trimestral, mas o ritmo de crescimento é forte, tanto que mantemos projeção de alta de 3% em 2018”, afirmou. Ele disse que o resultado de 1% foi “exatamente” o que foi calculado pelo governo. “Isso é positivo”, afirma.

Setor produtivo volta a investir no Brasil

Após um longo período de perdas, os investimentos na economia começam enfim a esboçar reação. A Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF, medida dos investimentos privados no PIB) encerrou o último trimestre de 2017 com crescimento de 3,8% em relação ao mesmo período do ano anterior. O resultado interrompeu uma sequência de 14 trimestres consecutivos de queda.

A taxa de investimento no ano, porém, desceu a 15,6%, atingindo o patamar mais baixo da série histórica iniciada em 1996. O resultado reforça que o caminho até a recuperação das perdas passadas será longo, e a retomada dos investimentos pesados ainda depende do andamento das concessões, da redução da capacidade instalada ociosa e do ambiente político, segundo analistas.

Na comparação com o trimestre imediatamente anterior, o avanço na FBCF foi de 2,0% no quarto trimestre de 2017, o terceiro avanço seguido. A Formação Bruta de Capital Fixo ainda ficou em território negativo no fechamento de 2017: -1,8%. O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) prevê uma expansão de 5,2% no investimentos este ano.

Em 2017, o componente máquinas e equipamentos cresceu 3,0%, enquanto o componente da construção recuou 5,6%. Os demais tipos de investimentos, como pesquisa em inovação e desenvolvimento, cresceram 1,2%. “Com a crise fiscal, uma das primeiras coisas que o governo corta são investimentos. Teve uma redução importante dos gastos do governo nesse período, e também na área privada”, justificou Rebeca Palis, coordenadora de Contas Nacionais do IBGE. “É normal que a construção demore um pouco mais para recuperar mesmo”, avaliou.

O governo comemorou o resultado do PIB de 2017. “Isso representa esperança para o país”, disse o presidente Michel Temer, ainda pela manhã, à rádio Tupi do Rio de Janeiro. Ele afirmou que sob a sua batuta “tudo tem sido crescimento no país”, nos setores industrial, varejista e até no social.

Chuvas renovam expectativas

O agronegócio baiano deve superar o crescimento alcançado nacionalmente, acredita o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado da Bahia (Faeb), Humberto Miranda. Ele explica que houve aumento de produção e produtividade nos principais cultivos do estado. 

E para 2018, as expectativas são ainda melhores. “Vai crescer principalmente pelas condições climáticas. Está chovendo no estado inteiro”, comemora. Ele ressalta o bom momento na região Oeste da Bahia e Chapada Diamantina. 

A Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia (Aiba), entidade representativa do Oeste baiano, comemora o aumento na produção. O presidente Celestino Zanella destaca o recorde de produção do algodão, com 320 arrobas em 2017. “As chuvas não foram tantas, mas foram muito bem distribuídas. Esse recorde é muito significativo e o preço também ajudou bastante”, comemorou Zanella. 

“No comércio, que em 2017 surfou na onda positiva provocada pelo aumento no consumo das famílias, os supermercados despontam entre os mais beneficiados, junto com as farmácias”, destaca o presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Salvador (CDL), Alberto Nunes. “Nós representamos diversos segmentos e vimos áreas que cresceram, que se mantiveram e outras que sofreram quedas”, explicou. 

“Acreditamos que a recessão do país está acabando e não está tendo uma piora, assim como estava tendo antes. Com isso, temos mais emprego e isso reflete no poder de compra das pessoas, que têm mais segurança na hora de adquirir produtos”, disse Nunes.

O assessor econômico da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado da Bahia (Fecomércio), Fábio Pina, explicou que o PIB do estado ainda não foi divulgado, mas que dados colhidos pela Federação apontam que a Bahia teve recuperação em 2017, mas abaixo da obtida nacionalmente. “A Bahia sofreu mais e deve demorar mais para se recuperar”, diz. “A tendência é que comece a convergir, que todos venham a crescer”, disse. 

Com a colaboração de Júlia Vigné