Águas de março: Codesal registra 10 deslizamentos de terra pelas chuvas 

Ao todo, Defesa Civil registrou 21 ocorrências em Salvador; Transalvador contabiliza 4 acidentes 

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  • Marcela Vilar

Publicado em 1 de março de 2021 às 17:08

- Atualizado há um ano

. Crédito: Arisson Marinho/CORREIO
Bairro do Caminho de Areia ficou com ruas alagadas nesta manhã por Arisson Marinho/CORREIO

O mês de março começou com muita chuva e tempo fechado na madrugada e manhã desta segunda-feira (1), em Salvador. Foi árvore caída, deslizamento de terra, ruas e casas alagadas – que causaram congestionamentos e quatro acidentes, segundo a Transalvador - e até desabamento de imóvel. Ao todo, a Defesa Civil de Salvador (Codesal) registrou 21 ocorrências entre a meia noite e 14h da tarde de hoje. Depois do almoço, a chuva até que deu uma trégua. A previsão para os próximos dias, segundo o diretor-geral da Codesal, Sosthenes Macêdo, é de que o céu permaneça claro, sem muitas nuvens.  

Nas últimas 24 horas, o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) indicou que 34,8 mm de chuva caíram em Salvador, com ventos de velocidade média de 28,8 km/h. Os bairros com índices pluviométricos mais altos nas últimas 24 horas foram, segundo a Codesal: Caminho das Árvores (42,8 mm), Pituba (38,6 mm), Saramandaia (37,2 mm) e Bom Jauá (36,6 mm).  

Antes do tempo abrir, no entanto, o toró trouxe transtornos para muita gente. Alexandre Michael, por exemplo, que vai a pé, chegou a se atrasar 40 minutos para o trabalho. “Peguei uma chuva pesada no caminho para o trabalho e atrapalhou bastante o percurso, tive muita dificuldade para passar em certos lugares, porque a rua começou a ficar toda alagada. A madrugada toda já estava aquela chuva, de manhã parou, e começou a agravar de novo justo no horário que eu sair. Para piorar, esqueci o guarda-chuva no trabalho”, relata o jovem, de 21 anos, morador do bairro de Periperi.  

Como o trabalho é um negócio de família, não houve problema de broncas do chefe. Também já é costume alagamentos pela localidade. Normalmente, a garagem da casa de Michael sempre inunda, mas não chegava a entrar no apartamento. Além do inconveniente de chegar todo molhado no trabalho, Alexandre tinha receio de pegar uma “gripe braba” em meio à pandemia do novo coronavírus.  

Também não faltou água na Avenida general San Martin, sentido Calçada. Essa foi uma das ruas que tiveram trânsito intenso por conta das fortes chuvas, segundo a Transalvador. Além dela, congestionamentos causados pelas ruas alagadas foram registrados no Dique do Tororó, sentido Bonocô; no Itaigara, sentido Pituba; e na Rua Nilo Peçanha, no bairro da Calçada. Os quatro acidentes que ocorreram entre às 19h de domingo e às 11h de segunda-feira (1), segundo o órgão, deixaram duas vítimas não-fatais. 

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Na San Martin, o eletromecânico Antônio Mendes, 37, que sempre transita de bicicleta, teve que molhar a barra da calça para chegar ao trabalho nesta manhã. Já é “de lei” inundar na Avenida. “Quando chove, é clássico: sempre acontece alagamento. Quando chove dois milímetros, já alagou tudo. É comum, porque aqui não tem boa drenagem e também por conta da educação do povo, que joga as coisas para entupir os bueiros, aí entope mais as vias, junta uma coisa e outra”, reclama o morador.  

No Dique do Tororó, o cacau caiu com força desde 6h da manhã, como relatou o morador Carlos José de Jesus, 59 anos. Ele trabalha na Vasco da Gama como mecânico há mais de 40 anos e disse que “sempre encharca” quando chove. “Já molha de qualquer maneira, porque a rede de esgoto é muito ruim. Quando chove assim, a gente tem que esperar parar para poder trabalhar, porque o beiral da pista alaga tudo e não tem condições de trabalhar a não ser em terra”, narra o mecânico, conhecido como “Bobó”. O movimento na oficina também reduz em dias chuvosos: “Atrapalha o trabalho”. No final da manhã, no entanto, a rua já não estava mais alagada, segundo José.  

O restaurante da esposa de Benedito Oliveira, 54 anos - “Cantinho da Daniela” - ficou livre de inundações nesta segunda. As chuvas recorrentes na Avenida Jequitaia, no Comércio, faziam com que o estabelecimento sempre enchesse de água. “Não é à toa que chamam de Ladeira da Água Brusca”, brinca Benedito. Dessa vez, ela só incomodou. “Choveu como sempre, mas não chegou a incomodar ou tirar nosso ritmo de trabalho ou causar aquele transtorno, empatando todo mundo. Foi aquela chuvinha devagar e constante, não foi aquele toró. Mas foi bom que lavou a ladeira toda e tirou o cheiro de peixe”, conta o funcionário. 

Vórtices ciclônicos  Uma das causas meteorológicas das chuvas de hoje, de acordo com o chefe do 4º Distrito de Meteorologia (Disme) do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), Itajacy Diniz Garrido, foi a formação de vórtices ciclônicos. “As chuvas nas últimas 24 horas foram devido aos vórtices ciclônicos, que são fenômenos que ficam no alto da atmosfera. Eles conseguem trazer volume de chuva para dentro da cidade, pegando os ventos úmidos dos oceanos e jogando aqui para dentro com água. Em uma linguagem mais técnica, são altos níveis de uma área de ventos, que gira em sentido horário, que fazem com que o ar seco desça e venha para a superfície, formando essa massa de ar, que causam as chuvas”, explica Garrido.  

O chefe do 4º Disme do Inmet ainda esclarece que a origem dessas precipitações pode ter outro motivo. “A ocorrência de chuvas é durante o mês inteiro de março, e a gente tem que lembrar que elas sempre vêm com paradas de descarga elétricas devido aos vórtices, mas, em alguns momentos, pode-se dar também devido à predominância das frentes frias que vão começar a atuar na capital. Normalmente, no mês de março, o período chuvoso de Salvador tem início na segunda quinzena, mas começa mesmo em abril”, adiciona o especialista.  

Itajacy acrescenta ainda que a previsão para o mês de março é de 150 mm, sem muita variação de temperatura – em torno de 26° a 32° C. Em fevereiro, o índice foi de 52 mm, cerca de 50% abaixo da média histórica, de 157mm.  

Codesal de prepara para Operação Chuva  Com a aproximação do período chuvoso na capital baiana, que se inicia em abril, a Codesal já iniciou os preparativos para a Operação Chuva e intensificará os trabalhos nesse mês de março. Este dia primeiro, no entanto, foi tranquilo, segundo Sosthenes Macêdo, diretor da Defesa Civil de Salvador (Codesal). “Hoje foi um dia tranquilo, mas, na virada do mês, começa a Operação Chuva, então estamos realizando uma série de vistorias, com intervenções da Defesa Civil, que acontece o ano inteiro, e os outros órgãos começam a intensificar os trabalhos de prevenção”, afirma Macêdo.  

Sosthenes ainda pontua que essas ações preventivas, como a implantação de geomantas e contenções, são justamente as que evitam acidentes e ocorrências mais graves. “Ano passado tivemos o maior ano de chuvas em 36 anos, fizemos 10.055 vistorias, e, esse ano, também vamos fazer com maior intensidade para que não tenhamos o que tivemos ano passado e a gente consiga passar fevereiro sem tragédias”, reforça o diretor-geral. Segundo ele, janeiro teve mais do que o dobro de chuvas do esperado – foram 189 mm, 54% a mais que a estimativa, de 85,2 mm. 

De acordo com o boletim meteorológico do órgão, a presença de ar quente manterá o tempo estável, reduzindo a possibilidade de chuvas. Porém, os ventos úmidos do Oceano Atlântico favorecerão precipitações. Hoje (1), o tempo é de céu nublado a parcialmente nublado com chuvas fracas a moderadas, qualquer hora do dia. Há risco para alagamentos e pequenos deslizamentos de terra. Já entre terça (2) e domingo (7), a previsão é de céu claro a parcialmente nublado, com poucas chances de chuvas isoladas, em decorrências da atuação de uma massa de ar quente e seco. As temperaturas nesse período deverão variar entre 24° e 32° c.   

Em caso de emergência, a Codesal está disponível 24h pelo número de telefone 199 ou 156. Tenha em mãos seu CPF, endereço completo e ponto de referência. 

Boletim Codesal de 00h até 14h desta segunda  1 Alagamento de imóvel - Barra/Pituba 1 Ameaça de desabamento - Cajazeiras 3 Ameaças de deslizamento - Cabula/Tancredo neves 1 Árvore caída - Subúrbio/Ilhas 1 Desabamento de imóvel -  Cabula/Tancredo neves 1 Desabamento parcial de imóvel - Pau da Lima 10 Deslizamentos de terra - 9 em Brotas/Centro e 1 no Subúrbio/Ilhas 10 Orientações técnicas - 9 em Brotas/Centro e 1 no Subúrbio/Ilhas Total: 21 ocorrências

Bairros que mais registraram chuvas nas últimas 24h Caminho das Árvores - 42,8 mm Parque da Cidade (Pituba) - 38,6 mm Saramandaia - 37,2 mm Bom Jauá - 36,6 mm Ondina - 34,8 mm Fazenda Grande do Retiro - 34,2 mm Cabula - 34,1 mm Federação - 34,0 mm Retiro - 34,0 Liberdade - 31,4 mm

*Sob orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro