'Aguenta coração!', exclama Pitty sobre tocar o disco Matriz na Concha

Com ingressos esgotados em duas horas, show gratuito acontece neste sábado (30)

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  • Da Redação

Publicado em 29 de novembro de 2019 às 05:40

- Atualizado há um ano

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Indicada ao Grammy Latino de Melhor Álbum de Rock ou Música Alternativa no Grammy Latino pelo álbum Matriz, Pitty perdeu a estatueta para os conterrâneos da BaianaSystem, premiados pelo álbum O Futuro Não Demora. Se a indicação deixou a cantora honrada e feliz, a conquista do Grammy pela BaianaSystem fez com que ela se sentisse representada. "Merecidíssimo", resume.

O grupo, inclusive, participa da sexta faixa do seu álbum, Roda, que mistura rock'n roll à sonoridade e ao vocal inconfudíveis da banda liderada por Russo Passapusso.

É porque em Matriz Pitty quis explicitar suas raízes e estar junto a frutos do mesmo chão, mesmo que de gerações e estilos distintos. "Existe algo entranhado no inconsciente de uma menina que cresceu e foi criada nessa terra que é ancestral e maior do que eu. Acho que isso é o que nos une nas diferenças", argumenta.

Por isso, além da BaianaSystem, participam Lazzo Matumbi, em Noite Inteira e Sol Quadrado; Larissa Luz, em Sol Quadrado e Nancy Viegas, em Noite Inteira. Entre as 13 faixas há duas releituras de artistas baianos: Motor (Teago Oliveira), da banda Maglore e Para o Grande Amor, de Peu Souza. "O Matriz tem essa coisa da investigação sonora, da construção e desconstrução ao longo desse tempo, e de refletir sobre o presente e o futuro", explica Pitty.

Nesse sábado (30), ela se apresenta na Concha Acústica, dentro do TNT Stage, cujos ingressos gratuitos esgotaram em menos de duas horas. O show será especial, com participação ao vivo dos convidados que ela traz no disco: BaianaSystem (Russo Passapusso e Robertinho), Larissa Luz e Lazzo Matumbi.  A abertura será de Teago Oliveira, vocalista da banda Maglore, que acaba de lançar seu primeiro disco autoral. Para ele, uma surpresa esperada ter a casa cheia. “Salvador é uma das capitais mais criativas do mundo. É natural que as pessoas queiram acompanhar tudo isso. Uma coisa retroalimenta a outra. Salvador tem uma magia ligada as artes e o publico inconsciente ou conscientemente valora isso”, comenta. Pitty regravou a mùsica Motor, da Maglore, e isso foi uma das grandes felicidades do ano pra gente. Me sinto honrado por este convite. Admiro muito a carreira dela! Espero em breve também dividir a noite com ela tocando com a Maglore. Ia ser muito astral! - Teago OliveiraConfira entrevista completa com a cantora:

Abrir o álbum com os versos "Eu me domestiquei/ Pra fazer parte do jogo/Mas não se engane, maluco/ Continuo bicho solto" é um recado? Para quem? Não é um recado, é mais uma reflexão comigo mesma. De olhar essa trajetória, de observar o que mudou, o que foi feito e perceber que a essência permanece. Essa parte essencial que permanece é esse bicho solto, e sempre será.

Em todas as reportagens sobre o disco consta informação de que em Matriz você retorna às raízes baianas. Mas elas sempre estiveram presentes, não? Você classificaria esse momento como um retorno? Uma celebração? Uma revisitação? Elas sempre estiveram presentes sim, você tem razão. Às vezes de forma mais explicita, às vezes não. E pensar em raizes também de forma mais complexa, para além do estereótipo. Pensando nisso, cada um como baiano vai ter a sua bagagem, sua vivência, sua raiz. Então, o Matriz tem essa coisa da investigação sonora, da construção e desconstrução ao longo desse tempo, e de refletir sobre o presente e o futuro. Na minha raiz baiana também tem punk rock. Na de outros não. Somos fruto do mesmo chão, mas temos nossos recortes. E existe algo entranhado no inconsciente de uma menina que cresceu e foi criada nessa terra que é ancestral e maior do que eu. Acho que isso é o que nos une nas diferenças. (Foto: TV Globo) Você regravou Motor, de Teago, que abre seu show na Concha. Canção que recentemente também foi gravada por Gal. Fala um pouco sobre essa regravação, e conta para gente se vai rolar uma dobradinha entre vocês no palco? Essa composição é muito especial, eu me emociono sempre que a canto. O Matriz é sobre isso também, dar visibilidade a compositores e artistas baianos de estilos outros além dos que são conhecidos. São muitas Bahias, e essa é uma delas; muito linda e rica.

Não sei se me engano, mas depois de você, acredito que a Maglore seja a banda baiana com maior projeção no rock nacionalmente. Fala um pouco sobre como você enxerga o trabalho dos meninos, e mais especificamente de Teago. Acho maravilhoso. Como disse, em termos de composição, letra, arranjo, sempre achei muito sofisticado e popular ao mesmo tempo. Tem uma coisa muito baiana no sotaque, na abordagem dos assuntos, mas não é clichê. Tem a coisa do cancioneiro popular brasileiro, é nordestino e cosmopolita ao mesmo tempo. Pra quem vem de um lugar onde a cultura popular é muito forte, é interessante ver essa combinação. (Foto: Divulgação/ Red Bull Station) Ouvindo Ninguém É de Ninguém lembrei da sonoridade de Larissa Luz, um som dançante, eletrizante, rocker também, que a gente não consegue classificar muito bem - não que essa seja a intenção. Como foi encontrar a sonoridade de Matriz? Foi um processo de justamente se libertar de rótulos e encontrar a vibração de cada música. Por isso a dificuldade de classificar, porque a mistura é feita sem fórmulas, deixando fluir. Mantendo a coerência, a costura entre textos e sons, e a essência- que sempre se impõe. Em Matriz, a liberdade de criação foi além de todos os álbuns anteriores, e eu achei que isso trouxe um resultado muito rico. É chegar na despreocupação de “ter que ser” rock, porque já se tem a consciência de que será porque a essência o é. É rock porque nós somos. Tem outros ritmos junto porque nós temos. As experimentações com rocksteady e dub, o batuque, os ritmos sincopados. E aí foi realmente dar vazão às ideias, sentimentos, parcerias, ritmos, sem amarras. O nosso elo era contar essa história com a música em primeiro plano. Eu fui deixando fluir e percebendo que disco era aquele que estava surgindo."É chegar na despreocupação de “ter que ser” rock, porque já se tem a consciência de que será porque a essência o é. É rock porque nós somos. Tem outros ritmos junto porque nós temos" - Pitty[[publicidade]]

Larissa, inclusive, é uma das participações do disco, assim como BaianaSystem e Lazzo Matumbi. Fala um pouco sobre essas participações. Pedro Antunes, da Rolling Stone, escreveu que "Matriz é, principalmente, um disco sobre outra Bahia, aquela contemporânea, do hoje, contada e cantada por quem veio dali, de diferentes gerações". Concorda com isso? Concordo, acho que ele foi muito sensível nessa observação. É isso mesmo, essa nova geração traduz uma cena que eu me identifico, e que existiu nos anos 90 e 2000, e que veio antes da gente. Essa coisa visceral, ritmica, potente, livre. Todas essas participações me deixam muito honrada e traduzem esse sentimento pra mim de pertencimento.

Matriz apresenta 11 faixas e duas vinhetas que dividem o disco em três partes, embora o álbum inteiro tenha muita coesão, mesmo porque você compôs e/ou participou de todas as músicas do álbum. Nesses tempos de streaming, fazer um álbum, com essa coesão, ainda é importante? Não acho que há regra. Eu lancei disco porque quando percebi tinha um disco pra lançar (risos). Quando vi, havia uma obra possível de ser costurada, com conceito e coesão. Aí sim, eu resolvi amarrar as pontas. Não o contrário, de forçar pra ter que ter um disco. Na real eu comecei a turnê sem nem saber se ia lançar disco, nem estava querendo muito. Estava numa de fazer uns singles e projetos especiais, e quando eu vi tinha essa obra surgindo, se impondo, na minha frente. Eu respeitei e abri passagem. (Foto: Reprodução/ Twitter) Você dedicou a Matriz o maior tempo que já dedicou à produção de discos, não sei se por conta da gravidez ou não. De qualquer modo, você acha que o tempo foi fundamental no seu entendimento sobre o que seria esse seu novo trabalho? Ah, fala também sobre o fato de ter iniciado essa ideia nos palcos... Acho que o tempo foi massa nesse aspecto. Poder escutar, reescutar. Em estúdios diferentes - o que muda o som e sua percepção sobre ele. Poder reescrever partes, pensar sobre elas. Transitar com essas parcerias e deixar a soma vir naturalmente. Tudo isso acho que enriqueceu o processo. Começar essa experiência no palco também foi uma coisa inédita, e que sinto que deu um caldo. Compartilhar a criação e as mudanças de arranjo com o público, fazer disso um processo coletivo.

Você foi indicada ao Grammy Latino, na categoria Melhor Álbum de Rock, junto com a BaianaSystem, que acabou conquistando o prêmio. Como viu a indicação? E como recebeu o resultado? Fiquei super honrada e feliz com a indicação, e principalmente com meus colegas de categoria. Só tinha gente que eu admiro, me senti num lugar bom. O Baiana ter recebido esse premio é merecidíssimo, e eu me sinto representada.

Você chega a Salvador com Matriz depois de toda essa história. O que espera dese show na Concha, cujos ingressos (gratuitos!) se esgotaram em menos de duas horas? Catarse, poesia, visceralidade y amor! Vai ser muito especial tocar esse disco em casa... Só de falar já dá um nó na garganta. Aguenta coração!

Serviço: Concha Acústica do TCA (Campo Grande). Amanhã, às 16h. Ingressos esgotados.