'Ainda dói', diz mãe de jovem morto em restaurante no Cabula

Família afirma que denúncia do MP-BA coincide com versão de testemunhas

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  • Da Redação

Publicado em 30 de novembro de 2017 às 21:01

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Arquivo CORREIO

Faz sete meses que a dona de casa Rosilândia Santos, 46 anos, sepultou o corpo do filho caçula Guilherme dos Santos Pereira da Silva, então com 17 anos. O adolescente morreu depois de ser baleado no pomar do restaurante Paraíso Tropical, no bairro do Cabula, em 17 de abril. Nesta terça-feira (28), o Ministério Público da Bahia (MP-BA) informou que denunciou o proprietário do estabelecimento, o famoso chef de cozinha Beto Pimentel, e dois funcionários do estabelecimento por envolvimento com a morte do jovem. Guilherme foi baleado na cabeça (Foto: Arquivo CORREIO) A dona de casa contou que soube das acusações através da imprensa, mas disse que não ficou surpresa. Ela afirmou que a apuração do MP-BA coincide com a versão apresentada pelos adolescentes que estavam com Guilherme e testemunharam o crime. Apesar de o tempo ter passado e de a família ter voltado à rotina, Rosilândia ainda não conseguiu se desfazer dos objetos que pertenciam ao filho.

"A gente não vai conseguir superar isso tão cedo. Ainda dói. Sinto falta do meu filho e a saudade é muito grande. As coisas dele estão guardadas, como uma lembrança. A versão do Ministério Público é muito parecida com a dos amigos que estavam com o meu filho. Sentimos que agora está começando a ser feita Justiça", afirmou, em entrevista nesta quinta, ao CORREIO.

Ela contou que a família está fazendo algumas camisas com a foto de Guilherme, e que vai se mobilizar para protestar durante o julgamento do caso. Na semana passada, a dona de casa levou outro susto ao saber que o outro filho, Rafael Santos, foi assaltado quando retornava do trabalho. "A gente está voltando à rotina porque não podemos ficar parados, mas o medo não desaparece", disse. Beto Pimentel foi denunciado pelo MP-BA, que o colocou na cena do crime (Foto: Arquivo CORREIO) Denúncia Guilherme e outros três amigos entraram no pomar do Paraíso Tropical no final da tarde de 17 de abril, uma segunda-feira. A família do adolescente disse que o objetivo do grupo era coletar frutas que estavam no quintal, mas eles foram surpreendidos por um funcionário do local. Os amigos do jovem conseguiram fugir, mas ele morreu depois de ser baleado na cabeça. O corpo foi encontrado dois dias depois, no mesmo terreno. Ele era o caçula de dois irmãos.

Segundo a denúncia do MP-BA, Beto Pimentel ofereceu a própria arma para o funcionário Fabilson do Nascimento Silva, o Barriga, que, por um buraco no portão, atirou contra o adolescente. A promotoria afirmou também que o chef teria ordenado ao funcionário que atirasse nos demais adolescentes. Em seguida, sem prestar socorro à vítima, o dono do restaurante, junto com Fabilson e outro funcionário identificado como Antônio Santos Batista teriam retirado o corpo da cena do crime e o colocaram a uma distância de 350 metros, conforme laudo pericial.

A denúncia foi feita pelo promotor Antônio Luciano Assis e recebida pela juíza Andrea Sarmento Netto, que manteve a prisão preventiva de Fabilson e proibiu Beto de se ausentar de Salvador sem autorização judicial. Beto e Fabilson foram denunciados por homicídio qualificado, por motivo fútil, e mediante emboscada, e por ocultação de cadáver. Antônio Batista responde por auxiliar na ocultação. Beto ainda foi denunciado por posse irregular de arma. Fabilson foi preso algumas semanas após o crime (Foto: Arquivo CORREIO) A defesa do chef e proprietário do restaurante alega que Fabilson mudou o depoimento para incriminar Beto pela morte do adolescente. O funcionário teria dito na primeira versão que a arma usada no crime era de um rapaz que estava fazendo um serviço na cobertura do telhado do restaurante, dias antes do crime.

A defesa afirma também que Beto estava tomando banho em casa quando foi avisado por Fabilson que o pomar estava sendo invadido. E que o funcionário atirou de forma acidental. A defesa acredita que Fabilson deu outra versão ao crime depois de saber que a vítima seria sobrinho de um traficante do bairro de Pernambués, e o vigilante temia ser preso e sofrer represália da facção criminosa dentro do presídio.

A juíza ordenou a citação dos réus e o prazo de 10 dias para que a defesa dos acusados responda por escrito à acusação. A magistrada não acatou o pedido de prisão preventiva feito pelo MP-BA para Beto, que não tem antecedentes criminais e possui residência e trabalho fixos.