Alcymar Monteiro terá CD lançado com o CORREIO nesta terça (27)

Disco tem canção em defesa do forró tradicional, em que critica o breganejo. A música Círio de Nazaré participação de Elba Ramalho

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  • Roberto Midlej

Publicado em 24 de fevereiro de 2018 às 06:32

- Atualizado há um ano

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Pouco antes do São João do ano passado, o leitor do CORREIO recebeu um CD de Alcymar Monteiro encartado ao jornal. E, como o Carnaval já passou, é hora de se preparar para as festas juninas novamente ao som do forrozeiro que tem mais de 30 anos de carreira e mais de cem álbuns lançados, incluindo coletâneas e discos ao vivo.

Nesta terça, o CORREIO trará encartado o álbum Feliz da Vida, com 16 canções do músico nascido em Aurora, no Ceará, há 68 anos. “É o pontapé inicial para esse maravilhoso São João que a Bahia faz e é uma forma de introduzir o verdadeiro forró na cultura brasileira. Afinal, serão distribuídos 60 mil discos ao povo baiano”, diz o cantor.

E quando ele diz “verdadeiro” forró, faz questão de dizer com muita ênfase, dando um recado àqueles que fazem o forró dito “moderno”: “Não há forró novo nem velho: o que tem é forró autêntico. Não tem música feia nem bonita, mas há música boa e há música ruim”, diz Alcymar, em tom provocador, mas sem citar nomes.

“Esses lacaios pegam o nome ‘forró’ e usam como trampolim para enriquecer. Eles podem fazer a música que quiserem e botar o nome que quiser, mas não chamem de ‘forró’, que está na cultura musical brasileira”, diz, já em tom indignado.

E esse forró autêntico está presente com bastante força em Feliz da Vida, em Canções como Festival Nacional de Quadrilhas e São João da Fronteira. Das 16 músicas, 10 são compostas por Alcymar sozinho ou em parceria com outros músicos.

Elba

Elba Ramalho participa da faixa Círio de Nazaré, composição de Alcymar. “É uma canção religiosa que fala da maior romaria da região norte do país. E Elba nos emprestou a sua voz linda. Ela continua um juriti, cantando bonito como sempre”, diz Alcymar, em referência à ave conhecida por seu canto característico.Esses lacaios pegam o nome ‘forró’ e usam como trampolim para enriquecer. Outra canção, Meninos do Brasil, faz referência à Seleção Brasileira: “Tá lindo/ Tá Bonito/ Vamos Lá, Brasil, é gol, é gol, é gol/ Golaço do Brasil”, diz a letra. E Alcymar, que acompanha futebol, diz que está otimista com o desempenho do Brasil na Copa da Rússia: “Acho que podemos ganhar. Tenho visto outras seleções e o Brasil está acima delas. A Argentina, por exemplo, só conseguiu vaga na Copa graças aos milagres de Messi. Mas precisamos tomar cuidado porque tem muito jogador aí que faz uma jogadinha qualquer e comparam logo a Pelé”.

Preocupado com os rumos que o forró tradicional pode ter, Alcymar já se engajou numa luta pela manutenção do ritmo marcadamente nordestino. 

O músico, junto com colegas, trabalha pela aprovação da Lei Luiz Gonzaga, para preservar as tradições juninas: “Os artistas que não cumprimem as exigências da Lei não vão ter direito a patrocínio de governo federal, municipal, nem estadual”, revela Alcymar, que espera ver a Lei Luiz Gonzaga ser votada muito em breve.

O forrozeiro reclama da falta de apoio do governo à cultura tradicional, especialmente ao Nordeste: “O Ministério da Cultura, historicamente, é um factoide: nunca ajudou as classes menos favorecidas. Só atua no eixo Rio-São Paulo e o resto do país para ele não tem importância. Eles esquecem que nomes muito importantes de nossa cultura, como Caetano Veloso, Gilberto Gil e Patativa do Assaré são do Nordeste. Não sei sequer o nome do ministro e eu o ignoro”.

Vaquejadas 

Alcymar se engajou em outra briga: a defesa da realização das vaquejadas, que acontecem tradicionalmente no Nordeste e, volta e meia, são atacadas por grupos que defendem os animais e pedem a extinção daquelas festas. “Eu estive no Congresso e falei sobre isso. Acho um pouco demagógica a postura de políticos que querem acabar com as vaquejadas. O ministro Supremo que quer proibir a vaquejada chega em casa e vai comer aquele bifão!”, diz Alcymar, que a situação contraditória.

Para ele, nas vaquejadas, os animais não passam por sofrimento: “O vaqueiro já não pode usar o espora e o chão tem que ser especial para o animal não sofrer. Nem se puxa mais o rabo dele hoje. Puxa por uma corda. Além disso, tem até veterinário para cuidar deles nas vaquejadas. Sofrimento para o boi é ir para o matadouro e virar comida de ministro”.O Ministério da Cultura, historicamente, é um factoide: nunca ajudou as classes menos favorecidasVale acrescentar que Alcymar é vegetariano há mais de 30 anos, por acreditar que é mehor para o seu corpo. “Nada contra quem come, mas eu prefiro não comer carne, que, embora seja muito saborosa, tem uma digestão complicada quando comparada a uma verdura. E tenho que cuidar da minha saúde, pra ganhar esse dinheirinho e ir vivendo, né?”, brinca o cantor.

E o traje sempre branco, segundo Alcymar, também ajuda a ganhar o tal dinheirinho: “Luiz Gonzaga me disse que eu tinha que ter uma marca e o branco se tornou essa marca. Ajuda a me identificar. Quem vê um homem de branco na TV cantando forró não tem dúvida: só pode ser eu”.