Além da decoração: conheça os candidatos a vice-governador da Bahia

Eleitores ainda não dão atenção aos vices, mesmo com histórico de substituição dos governadores

  • D
  • Da Redação

Publicado em 23 de setembro de 2018 às 14:55

- Atualizado há um ano

. Crédito: .

Decoração, necessidade, coerência ou até mesmo conveniência. Os candidatos a vice - presidentes e governadores - podem ocupar diversos espaços. A importância do cargo, no entanto, não pode ser negada: dos nove mandatos desde o início das eleições diretas, em 1986, três acabaram sendo ocupados por vice-presidentes e três vice-governadores.

Nacionalmente, Itamar Franco e Michel Temer eram vices e assumiram depois dos impeachments dos então presidentes Fernando Collor (1992) e Dilma Rousseff (2016). José Sarney tomou posse após a morte de Tancredo Neves (1995). 

Na Bahia, além de vice-governadores, presidentes do Tribunal de Justiça (TJ-BA) e da Assembleia Legislativa (AL-BA) chegaram a assumir o governo. Em 1986, Waldir Pires renunciou para candidatar-se à vice-presidência e Nilo Coelho assumiu. 

Em 1998, Paulo Souto se licenciou para concorrer às eleições e César Borges assumiu o fim do mandato. Em 2002, Otto Alencar foi governador por nove meses, sucedendo César Borges, que não concluiu seu mandato como governador para eleger-se senador.

Neste ano, são sete candidatos a vice-governador pela Bahia. Concorrem Dona Mira (Psol), Dra Antônia (PRTB), Dra. Mônica Bahia (PSDB), Jeane Cruz (MDB), João Leão (PP), José Itamario (Rede) e Silvano Pessoas (PCO). 

Do total, 57% (4) são mulheres e 43% (3) são homens. Todos os candidatos têm mais de 40 anos. A maioria (57,14%) tem entre 40 anos a 54 anos e o restante tem entre 55 e 74 anos. Dos sete, quatro são brancos. O grau de instrução é balanceado: dois têm ensino fundamental incompleto, dois médio completo, dois superior completo e um superior incompleto.

O papel do vice é definido na Constituição Federal. Ele deve substituir o presidente no caso de impedimento ou nos casos de vacância do cargo. Deve, também, auxiliá-lo, sempre que por ele convocado para missões especiais. 

Nos últimos quatro anos, o vice-governador da Bahia foi João Leão (PP). Ele assumiu o governo cinco vezes durante o mandato de Rui Costa (PT). A primeira vez que Leão assumiu foi quando Rui viajou para a Europa para reuniões com executivos da área de energia solar e farmacêutica. O progressista ficou à frente do governo por 13 dias. A Secretaria de Comunicação (Secom) não soube informar por quanto tempo Leão ficou à frente do Executivo estadual. 

Sem atenção O pesquisador em comunicação política da Universidade Federal da Bahia, Wilson Gomes, que coordena o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Democracia Digital, ressalta que geralmente no processo eleitoral os candidatos a vice quase não aparecem e não têm papel definido na chapa majoritária. 

“O vice não tem papel na chapa, a chapa é dos dois. Em geral, ele trabalha na campanha se o titular deixar. Os vices que não tem capital político, que saem do nada, terão o papel que os coordenadores de campanha lhes atribuírem. Isso é sempre negociado. Para a escolha do vice, muitos fatores podem contar. Dentre eles está o financeiro, o capital político, o de representatividade... O vice pode ocupar vários espaços a depender de muitas coisas”, afirmou Wilson Gomes. O professor ainda avaliou que o papel de substituir o titular “não é pouca coisa”. “Tem muito mais papel previsto na Constituição do que se vê nas práticas de campanha”. 

Para Gomes, apesar de os vices eleitos “assumirem com frequência demais”, eles não estão na mira dos eleitores.“As pessoas até deveriam olhar mais para os vices de seus candidatos, mas não vejo ninguém dando valor, não. As pessoas já estão com suas energias concentradas demais nos titulares. Mesmo em vices que se demonstraram perigosos nacionalmente, eu não vejo ninguém preocupado com isso”, avaliou.De acordo com o professor, a preocupação existente é com o vice dos candidatos adversários - estratégia utilizada em outras eleições. “É uma forma de atacar o candidato e isso sempre se fez. Lula foi muito atacado quando Brizola era vice dele. Atacar o candidato pelo vice, no entanto, é muito diferente de eu me preocupar com o vice do meu partido”, destacou. 

O historiador político da Universidade Federal da Bahia (Ufba) Carlos Zacarias defende que, historicamente, a população não dá tanta atenção para os candidatos a vice.“Mesmo quando um vice assumiu depois da morte de um presidente, ele não foi valorizado. Nas eleições seguintes tivemos um novo vice no poder e a população não se mobilizou por isso. Eu mesmo tenho dificuldade de pontuar os vices de candidatos que não estejam bem colocados nas pesquisas, por exemplo. Acredito que a população também tem essa dificuldade”, pontuou.Zacarias ressalta que o papel do vice dentro da chapa depende do interesse do partido. “Há aqueles que têm o papel de trazer eleitores, outros de trazer tempo de televisão, ou de ter mais apoio político. Lula mesmo colocou José Alencar porque ele era alguém que tinha inserção nos meios empresariais. Era a imagem que ele queria passar, que não iria confrontar o capital e ele cumpriu esse papel, importante não só para a eleição de Lula mas também de atenção à sua pessoa  durante o governo”, disse. 

O historiador ressaltou que Dilma fez um movimento parecido, mas no campo político - e não social. O MDB (então PMDB) de Michel Temer foi escolhido estrategicamente, de acordo com Zacarias. “O partido sempre teve uma grande presença no cenário nacional. E isso vinha desde a redemocratização. Isso foi necessário para que Dilma saísse vencedora das eleições”.  Para ele, o vice agrega politicamente ao trazer partido e correligionários. Na Bahia, de acordo com ele, faz diferença ao trazer votos de cidades em que o candidato a governador pode não ter tanta inserção.

** O CORREIO entrou em contato com os candidatos a vice-governador da Bahia, questionando-os sobre prioridades do estado, segurança, educação, saúde, infraestrutura e geração de emprego e renda. Confira o perfil deles:

DONA MIRA Dona Mira é candidata a vice pelo Psol (Foto: Divulgação) Dona Mira tem 59 anos, é negra, professora de ensino fundamental, solteira, tem superior incompleto e já foi candidata a 2º suplente ao Senado de França em 2010. Em sua lista de bens declarados, Mira declarou R$ 60 mil, valor de sua residência em Jardim Cajazeiras. Dona Mira tem três filhos e é filiada ao Psol há mais de 10 anos e é vice de Marcos Mendes (Psol).

Mira tem como prioridade para o estado maior investimento em habitação, saúde e retirar isenções fiscais para grandes empresas, além de uma auditoria das contas do estado. Para ela, é necessário “inverter as prioridades”. Nas áreas de segurança, a candidata acredita que é preciso “rever a guerra aos pretos e pobres, que é transvestida por eles de ‘guerra às drogas’”. Ela vê a educação como prioridade e quer aumentar salário de professores. Na saúde, quer aumentar a atenção à prevenção. Ela acredita que, enquanto mulher negra, agrega na chapa de Marcos Mendes. 

DRA. ANTÔNIA  Dra. Antônia é candidata a vice pelo PRTB (Foto: Arquivo pessoal) Dra. Antônia tem 53 anos, é negra, advogada, solteira, tem ensino médio completo e nunca concorreu a cargos anteriormente. Em sua lista de bens, Antônia declarou R$ 20 mil em um veículo. Ela reside em Alagoinhas, tem três filhos e já foi filiada ao PSL. Atualmente é vice de João Henrique (PRTB). “Eu coliguei com o PRTB porque ele prioriza a família e eu estou vendo a família correndo sérios riscos”, disse. 

Para Antônia, a Bahia tem duas prioridades: a saúde e a segurança. Ela destaca que trabalha como advogada criminalista e que "vive no meio da sociedade e entendo na pele o que eles sofrem". Para a segurança, ela aposta na ressocialização dos presos e é favorável ao desarmamento. "Quem tem arma é bandido. Pessoas de bem não podem usar arma", disse. A prioridade, na educação, é fortalecer cursos primários e escolas públicas. Para a saúde, quer criar cargos específicos para a regulação. Na área de geração de renda e emprego, ela acredita que políticas públicas para abertura de vagas para jovens devem ser desenvolvidas. 

DRA. MÔNICA BAHIA Dra. Mônica Bahia é candidata a vice pelo PSDB na chapa do DEM (Foto: Divulgação) Dra. Mônica Bahia tem 41 anos, é branca, médica obstetra, tem superior completo e nunca disputou cargo anteriormente. Ela é casada e está grávida de cinco meses. Ao Tribunal Superior Eleitoral, a vice de Zé Ronaldo (DEM) declarou R$ 297.819,57 em bens, divididos entre quotas empresariais, apartamento, dinheiro de poupança, carro e título de capitalização.

Médica, Mônica vê como prioridade a área da saúde e a segurança pública. Como proposta principal, quer criar um centro de treinamento para policiais, com equipe multidisciplinar. “Essa proposta seria minha como deputada estadual”, disse. Quer valorizar a educação, investir mais no ensino fundamental e criar metas de qualidade para as escolas. Na saúde, quer aumentar a quantidade de leitos disponíveis com a construção de hospitais regionais. Para a infraestrutura e geração de renda, quer oferecer melhor infraestrutura para o estado com ferrovias e portos, além de redução de impostos para indústrias. Antes de se filiar ao PSDB neste ano, Mônica militava pelo Movimento Brasil Livre (MBL). 

JEANE CRUZ Jeane Cruz é candidata a vice pelo MDB (Foto: Divulgação) Jeane Cruz tem 51 anos, é parda, professora de ensino médio, divorciada, mãe de três meninas, tem superior completo e já foi candidata a vereadora de Dias D'Ávila em 2012, prefeita da cidade em 2008 e deputada federal em 2006. Tem R$ 870 mil em bens declarados, dentre terreno, veículo, imóvel, quotas e apartamento. Já foi filiada ao PT, PSB e agora está no MDB como vice de João Santana (MDB).

Para ela, a saúde e a questão da regulação devem ser resolvidas como prioridade. Um investimento “pesado” em educação deve ser realizada com auxílio dos profissionais. Para melhorar a questão da segurança pública, Jeane aposta em geração de emprego e renda e na educação e saúde. Acredita que sua principal contribuição para a chapa é a educação.

JOÃO LEÃO João Leão é vice e candidato a reeleição pelo PP na chapa do PT (Foto: Divulgação) João Leão tem 72 anos, é branco, empresário, casado, tem três filhos e ensino fundamental incompleto. É o atual vice-governador da Bahia, foi eleito deputado federal por cinco mandatos. Já foi prefeito de Lauro de Freitas, secretário de Infraestrutura do Governo e secretário da Casa Civil de Salvador. Vice do governador Rui Costa (PT), tem mais de R$ 2 milhões em bens declarados, dentre depósitos bancários, apartamento, veículo e quotas de capital.

Para João Leão, a Bahia precisa crescer, se desenvolver e fazer parceria com o empresariado para aumentar a receita e geração de emprego. “Aumentando receita, podemos pagar salário maior ao funcionário e resolver algumas questões que estão na prateleira”, disse. Para melhorar a segurança, João Leão aposta na educação. “Aposto muito na família. As pessoas precisam tomar conta de seus filhos”, ressaltou. Para educação, Leão quer implantar uma escola técnica em cada município do estado para melhorar a empregabilidade, além de implantar o turno integral nas salas de aula. O progressista quer melhorar os hospitais de pequeno porte para influenciar na questão da fila da regulação. Para geração de emprego e renda, Leão aposta na infraestrutura e de estudo dos territórios de identidade. 

JOSÉ ITAMÁRIO José Itamário é candidato a vice pela Rede (Foto: Divulgação) José Itamário tem 66 anos, é branco, técnico de telecomunicações, casado, tem quatro filhos, tem ensino médio completo e nunca foi candidato antes. O vice de Célia Sacramento (Rede) declarou ter R$84.359,48 em bens ao Tribunal Superior Eleitoral, dentre casa, participações societárias e outros bens imóveis.

Para Itamário, os maiores problemas do estado são o desemprego, a saúde, a educação e a segurança. “Todos no mesmo nível de prioridades”. Para ele, o primeiro passo é incentivar a construção civil para gerar empregos rapidamente. Além de outros setores como agricultura familiar e pequenos negócios. A retomada empresarial é um dos principais pontos de Itamário, que quer explorar a energia eólica e solar, diminuindo o preço das contas de energia, incentivando as empresas.

SILVANO ALVES Silvano Alves é candidato a vice pelo PCO (Foto: Arquivo Pessoal) Silvano Alves tem 43 anos, é branco, desempregado, casado, tem ensino fundamental incompleto e já foi candidato a vereador pelo PMDB em 2012 e a deputado federal em 2006 pelo PCO. Hoje é vice de Orlando Andrade (PCO). Não tem nenhum bem declarado.

Silvano diz que, apesar de acreditar que não será eleito, tem como eixo central de luta o protesto contra “o golpe”. Uma das prioridades do estado, para ele, é a geração de emprego. Para ele, os desempregados devem ganhar isenção para água, luz, escola e outras despesas. O salário mínimo ideal, para ele, é de R$ 4,5 mil. Para a segurança, Silvano quer acabar com a polícia militar e criar a polícia comunitária, com representantes eleitos pela população. Ele defende também a estatização do ensino público e da saúde. Ele ainda quer limitar o trabalho para 35 horas semanais para “que mais pessoas trabalhem”.

**

Eleição nacional tem vices polêmicos O mesmo movimento de escolha do vice por fatores específicos, que costumam variar entre necessidade, conveniência, coerência e até mesmo falta de opção é observado nacionalmente. As coligações e alianças dos presidentes também devem ser observadas. 

São 14 candidatos a vice-presidência nacionalmente: Ana Amélia (PP), Eduardo Jorge (PV), Manuela D'Ávila (PCdoB), General Mourão (PRTB), Germano Rigotto (MDB), Helvio Costa (DC), Hertz (PSTU), Kátia Abreu (PDT), Léo da Silva Alves (PPL), Paulo Rabello (PSC), Professora Suelene Balduino (Patri), Professor Christian (Novo) e Sonia Guajajara (Psol).

Provavelmente você nunca ouviu falar de muitos dessa lista. Outros, no entanto, buscam um protagonismo maior de diversas formas. Nas últimas semanas, o candidato a vice de Jair Bolsonaro, o general Hamilton Mourão ganhou os holofotes após dar indício da possibilidade de intervenção militar, caso seja eleito, e que casa com mãe e avó é "fábrica de desajustados". Afirmou, ainda que as Forças Armadas devem intervir quando um dos poderes não está funcionando. 

Ele, no entanto, não é o único que ficou famoso por suas polêmicas. Kátia Abreu, vice de Ciro Gomes (PDT), chegou a questionar os direitos humanos em tweets de 2013. Ela também tem declarações polêmicas sobre o povo indígena e apoia o projeto da escola sem partido. Ela já mudou de partido três vezes desde 2010: DEM para PSD e para o MDB (que foi expulsa por ataques ao presidente Temer) e, enfim, PDT. Ela é contrária, ainda à divulgação da lista suja do trabalho escravo.

Eduardo Jorge, vice de Marina Silva (Rede) prega o vegetarianismo, pregando a diminuição do rebanho bovino. "Vamos viver dos produtos vegetais. Não precisamos torturar animais para isso", disse durante um debate promovido pela Veja.

A vice de Geraldo Alckmin (PSDB), Ana Amélia (PP), defendeu o porte de armas para produtores rurais e é a favor do Projeto de Lei dos agrotóxicos, atacado por políticos e especialistas. 

A vice de Fernando Haddad (PT), Manuela D'Ávilla foi criticada por ter pedido voto após a tragédia do Museu Nacional, que pegou fogo no início do mês. "Não quer que a tragédia do Museu Nacional aconteça com o Museu Nacional de Artes, com o Arquivo Nacional? Vote em um candidato que vá revogar a PEC do teto de gastos #LulaManuHaddad", escreveu Manuela. Ela apagou o post. 

Para Wilson Gomes e Carlos Zacarias, a atenção ao vice-presidente também deveria ser maior. “O movimento nacional é igual ao estadual. Eles só prestam atenção no vice do candidato adversário, para criticá-lo”, diz Wilson Gomes.