Alerta de fofura! Tartarugas marinhas são soltas no Porto da Barra

A ação do projeto Tamar foi parte da programação da Operação Praia Limpa, da Limpurb

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  • Thais Borges

Publicado em 13 de janeiro de 2018 às 16:45

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Mauro Akin Nassor/CORREIO

As águas do Porto da Barra podem estar entre as preferidas dos soteropolitanos, mas quando se trata de tartarugas marinhas, o porto não é lá o destino preferido delas para fazer a desova de seus ovinhos. Por aqui, as tartarugas preferem as bandas de Busca Vida, em Camaçari, e da Praia do Forte, em Mata de São João, na Região Metropolitana de Salvador (RMS). 

Por isso, quem esteve no Porto da Barra neste sábado (13) teve uma agradável surpresa: pôde acompanhar a soltura de 30 filhotes acompanhados pelo Projeto Tamar. Ao lado de uma representante das tartarugas do tipo ‘oliva’, 29 tartarugas cabeçudas caminharam da areia até o mar, diante de uma plateia cheia de expectativa. As tartarugas nasceram em Vilas do Atlântico (Foto: Mauro Akin Nassor/CORREIO) De acordo com a bióloga do Tamar em Arembepe Nathália Berchieri, as tartarugas nasceram nas sexta-feira (12), na praia de Vilas do Atlântico, em Lauro de Freitas, na RMS. De cada ninho, nascem cerca de 120 tartarugas. No entanto, algumas não conseguem andar em direção ao mar. São essas que são acompanhadas pelo projeto, 

“Fazemos a soltura dos filhotes retidos, o que não sairiam naturalmente do ninho”, explicou. Só para dar uma ideia, a Bahia acolhe, todos os anos, cerca de 10 mil ninhos de tartarugas marinhas – chegando, assim, a responder por um terço das desovas em todo o Brasil. Só que, em Salvador, por exemplo, é mais frequente que os ninhos fiquem a partir do Farol de Itapuã em direção ao litoral norte do estado. 

Do Farol de Itapuã para o outro lado do litoral da cidade, só são encontrados entre 20 e 30 ninhos por ano. “No Farol da Barra, não fazemos solturas. É uma coisa praticamente inédita”, diz ela, embora as águas da praia sejam tranquilas para a descida dos bebês. Mas, segundo Nathália, a caminhada da areia até o mar é muito importante: ela cria o chamado processo de ‘imprinting’ nas tartarugas, deixando aquele percurso na memória. Assim, quando elas vierem desovar seus próprios ovos, virão para este local.  A soltura fez parte de uma ação conjunta entre o Tamar, a Limpurb e o Fundo Limpo (Foto: Mauro Akin Nassor/CORREIO) Ou seja: daqui a 20 anos, quando chegarem à vida adulta, pode ser que alguma dessas tartaruguinhas recém-nascidas volte justamente ao Porto para deixar seus filhotes. O problema é que as estatísticas vão contra elas. “De mil filhotes que nascem, só um chega à vida adulta. Hoje em dia, o que mais mata esses animais é a pesca. Em segundo lugar, o lixo”. 

Somente 0,05 grama de lixo já é suficiente para matar uma tartaruga. O que acontece é que os bichinhos podem confundir o lixo com comida. Como elas não conseguem expelir, podem contrair doenças e até tumores. 

O pequeno Gabriel Vieira, 10, prestou atenção em cada detalhe. Ele já tinha até visitado uma das sedes do projeto Tamar, mas nunca tinha assistido a uma soltura. “Foi muito legal ver. E foi bom saber que, como a moça explicou, tem mergulhadores aqui hoje retirando o lixo do mar. Vai ser bom para as tartarugas”, comentou. 

Praia limpa A ação do projeto Tamar, na verdade, foi uma parceria do projeto Praia Boa é Praia Limpa, que tem sido promovido pela Limpurb desde dezembro, nas principais praias de Salvador. Além do Tamar, participaram mergulhadores da Fundo Limpo, programa da Escola de Mergulho Galeão Sacramento, que retiraram resíduos de lixo do fundo mar. 

Enquanto a equipe da Limpurb fazia a conscientização na areia e no calçadão, conversando com banhistas, os mergulhadores retiravam o lixo. De acordo com o presidente da Limpurb, Kaio Moraes, a praia do Porto da Barra, juntamente com Piatã, é uma das que tem maior volume de resíduos. “É o segundo ano que tocamos esse projeto e mostramos os riscos ao ambiente e para a saúde da população. Trouxemos o Fundo Limpo e o Projeto Tamar também porque dizem que a palavra convence, mas o exemplo arrasta”, afirmou. Entre janeiro e dezembro do ano passado, 14 mil toneladas de lixo foram recolhidas das praias da cidade pelo órgão. 

Ao todo, cerca de 100 pessoas participaram da mobilização – dessas, 50 somente do projeto Fundo Limpo. “Começamos a fazer isso há dez anos, porque as pessoas vinham mergulhar e diziam que viam mais lixo do que peixe. Hoje, fomos convidados a participar com a Limpurb”, explicou a mergulhadora Fernanda Fernandes, da Galeão Sacramento.  Equipes da Limpurb conversaram com quem foi ao Porto da Barra (Foto: Mauro Akin Nassor/CORREIO) O projeto tem circulado por praias como Stella Maris, Flamengo, São Tomé de Paripe, Tubarão, Piatã, Ribeira, Boa Viagem e Cantagalo, segundo a coordenadora de educação comunitária da Limpurb, Letícia da Cunha. “Nós distribuímos sacolas biodegradáveis e conversamos com as pessoas para não deixar o lixo na praia”. 

A professora Luciene Lessa, 52, e seu filho, o estudante de Administração Bruno Bonfim, 21, aprovaram a ação. Luciene costuma trazer uma sacolinha para guardar o lixo, mas, neste sábado, tinha esquecido. “Eu estava observando o trabalho deles e até comentei que eles podiam distribuir sacolinhas. Alguns minutos depois, uma delas chegou aqui para conversar comigo e me entregou uma sacola. É importante porque dá pena de ver como as pessoas não sabem aproveitar a natureza”.