Algodão baiano é desejado por compradores internacionais

De olho no mercado externo, cotonicultores da Bahia planejam aumentar em 20% a área plantada no próximo ano

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  • Georgina Maynart

Publicado em 31 de agosto de 2018 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: (Foto: Divulgação Abapa)

A safra baiana de algodão 2018 nem acabou de ser colhida e os compradores estrangeiros já estão de olho na próxima safra, que só será plantada em 2019. Um grupo formado principalmente por empresários asiáticos está percorrendo os campos do Oeste para conhecer de perto a produção do estado. São 25 empresários de indústrias têxteis e de empresas de exportação de Bangladesh, China, Indonésia, e Vietnã, além de Turquia (Europa) e Colômbia (América do Sul). Eles estão realizando uma visita técnica nas lavouras, nas indústrias de beneficiamento e nos laboratórios de análise das fibras. Através dos relatórios, a comitiva internacional confirma a qualidade da fibra dentro dos padrões internacionais de resistência, elasticidade e comprimento. “Conhecer de perto estas instalações traz mais confiabilidade do que estamos comprando”, afirma Thanh Le Quang, gerente de qualidade de uma indústria têxtil do Vietnã. Os compradores também observam a tecnologia empregada no sistema de produção. Cerca de 75% da área plantada do Oeste tem selo nacional de Sustentabilidade, concedido pelo Programa de Algodão Brasileiro Responsável (ABR), e certificado internacional avaliado pelo Better Cotton Iniciative (BCI). “Embora a qualidade seja o principal fator na compra, vem aumentando o interesse pelo algodão de propriedades que conquistaram o selo de certificação internacional que comprova para o mercado consumidor as práticas sustentáveis na produção agrícola”, afirma Márcio Kitabayashi, da trading Cofco INTL, especializada em produtos agrícolas.

Projeção

O algodão que está sendo colhido já foi todo vendido. A missão técnica amplia a possibilidade de comercialização das próximas safras. De olho na projeção de expansão deste mercado, os cotonicultores da Bahia já planejam aumentar em 20% a área plantada no próximo ano, alcançando 313 mil hectares. “Os preços estão 10% mais valorizados em relação ao ano passado e existe uma demanda crescente do mercado internacional. Trazer potenciais compradores com possibilidade de fechar negócio para as próximas safras somente estimulam a produção na Bahia”, pontua a produtora rural Alessandra Zanotto. A cadeia produtiva do algodão emprega mais e 40 mil pessoas na Bahia, segundo a Associação de Produtores de Algodão do estado (ABAPA). Apesar de ter perdido participação nacionalmente, a Bahia se mantém como segundo maior produtor de algodão do país. O estado responde atualmente por 23% da produção nacional da fibra. Entre os municípios que mais produzem estão São Desidério, Correntina e Formosa do Rio Preto. Depois da Bahia, os compradores internacionais vão seguir para os estados de Goiás e Mato Grosso. A missão faz parte de um projeto da Associação Brasileira de Produtores de Algodão. A possibilidade de negócios com o mercado internacional é promissora. “A Bahia tem a maior produtividade do algodão em área de sequeiro do mundo e as condições climáticas são ideais para garantir uma qualidade da fibra bastante procurada no mercado têxtil. Somos altamente tecnificados. Fazemos parte de uma cadeia produtiva que emprega mais de 40 mil pessoas na Bahia levando desenvolvimento e renda para todo o estado. Só temos com que nos orgulhar”, afirma Júlio Cézar Busato, presidente da ABAPA.

Colheita

Sem contratempos significativos desde a greve dos caminhoneiros, a colheita de algodão do Oeste avança dentro do plano inicial. A safra 2017/2018 de algodão está com a colheita 85% concluída. A produção deve chegar a 1,2 milhão de toneladas. Os produtores têm até o dia 20 de setembro para colher os 15% que restam. Nesta data começa o prazo de 60 dias do “vazio sanitário”, um período em que não deve haver plantas vivas e restos do algodoeiro no campo. O vazio sanitário foi adotado para prevenir e combater pragas nas lavouras, principalmente o bicudo, a mais comum nestas plantações. O produtor que não cumprir as exigências sanitárias pode ser multado pela Agência de Defesa Agropecuária. O vazio termina dia 20 de novembro.

Mercado internacional 

Esta semana a Associação de Algodão da Índia, país com a maior área plantada de algodão do mundo, confirmou que a chuva insuficiente e a redução da área plantada devem influenciar na produção e nas exportações. A próxima safra dos indianos deve ser 16% menor do que no ano passado. O anúncio foi feito no momento em que a comércio internacional da pluma acompanha o longo conflito comercial entre os Estados Unidos e a China. Os Estados Unidos são os maiores exportadores de algodão. A China é o maior importador. A troca de acusações entre os dois gigantes da economia mundial envolve a concessão de subsídios, questões de política econômica protecionista e dilemas comerciais que incluem outras commodities, como a soja. Para os especialistas, apesar de despontar como possível fornecer de novos mercados, e ser beneficiado pela redução da área plantada na Índia, China e nos Estados Unidos, o algodão brasileiro também sofre com a guerra comercial. Com o preço da fibra cotado na bolsa de Nova York, as oscilações internacionais atingem a produção de vários países, inclusive a do Brasil.