Ambulantes contam estratégias para driblar concorrência na Av. Sete

Vendas de fim de ano estão fracas na região, reclamam camelôs

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  • Kalven Figueiredo

Publicado em 24 de dezembro de 2018 às 19:10

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Kelven Figueiredo / CORREIO

Segunda parcela do décimo terceiro liberada, final de ano, expectativa grande para lojistas e ambulantes. Mas como se diferenciar e atrair mais clientes? Flávia Pinho, 40 anos, começou há cerca de um mês a vender roupas na avenida mais movimentada do Centro de Salvador para garantir um dinheirinho no final do ano.

Com pouco tempo na Avenida Sete, ela aponta o aumento de concorrência ali. “Para garantir as vendas e fidelizar os clientes, eu fico atenta ao que mais vende e aposto em preços acessíveis”, explica.

Flávia não é a única que teve a ideia de empreender na Avenida Sete. Junto a ela está Lorena Cardoso, 31. Depois de investir em uma loja online, Fashion Plus, que vende pelo Instagram, a microempreendedora aproveitou a movimentação maior na avenida neste fim de ano para expandir suas vendas.

“Aqui eu consegui dobrar meu lucro, porque além de vender às minhas clientes, acabo conseguindo mais alguns que passam por aqui e conhecem meu trabalho”, conta. Ela ainda diz que o fato do cliente ao vivo ter a experiência de sentir o tecido e ver o corte da roupa de perto faz toda a diferença. “Aqui eles conseguem ver todos os detalhes da peça, o que facilita a negociação”, acredita.

Rosangela Macedo é professora de matemática durante o ano letivo, mas em dezembro, quando poderia aproveitar suas férias, ela se une às duas irmãs, que trabalham como camelôs na Avenida Sete. Juntas, elas vendem artigos de moda praia para garantir uma renda extra. Esse ano, o lucro tem sido de R$ 500 por dia, o que está na média, diz a professora. Apesar disso, ela acredita que poderia estar melhor - muitos vendedores se queixaram do baixo fluxo de compras no Centro esse ano.“A concorrência tem aumentado muito, mas a gente acaba se sobressaindo na base do grito mesmo e do bom atendimento ao cliente. A simpatia e cordialidade nestas horas contam muito”, afirma. Professora de matémática resolveu apostar em artigos de mdoa praia para expandir a renda neste final de ano (Foto: Kelven Figueiredo / CORREIO) Tem até gente vindo do interior para garantir sua renda. Regiane Almeida, 45, veio de Juazeiro para vender suas sandálias e sapatos na capital. “O movimento tava fraco, mas agora eu tô vendendo até bem”, disse. A esperança da camelô é de que as vendas de amanhã sejam melhores que as de hoje. “Amanhã eu quero voltar pra casa sem nada”, diz, aos risos.

Vencendo a concorrência E dicas valiosas como a de Rosangela é o que não faltam. Para sobreviver à crise, Cilene de Oliveira, 41, aposta em diversos pontos da cidade. Ela afirma que suas vendas subiram desde que a primeira parcela do 13º salário foi liberada em novembro. “Esticar um pouco o expediente aqui na Avenida Sete valeu à pena. Mas amanhã eu vou lá pra Barra, como geralmente faço”. Conhecida como 'Rainha das Bolsas', Lânia Soares acredita que diferenciar sua mercadoria da concorrência é o melho jeito de ganhar o cliente (Foto: Kelven Figueiredo / CORREIO) Já a estratégia da autodeclarada ‘Rainha das Bolsas’, Lânia Soares, é investir em novidades, produtos de qualidade e com certa sofisticação. “Eu invisto só nas mercadorias filé, por isso para mim as vendas têm sido maravilhosas. Hoje eu já vendi por volta dos R$1000”, revela. Parte do segredo também está na sua animação e simpatia na hora do atendimento, explica.“Eu amo ser camelô. É muito melhor porque você trabalha para você e não deve satisfações a ninguém”, diz.Estela Souza, 24, aposta na visibilidade que as redes sociais podem lhe proporcionar. Para impulsionar suas vendas de moda praia, postam tudo no feed do Instagram. “A gente também investe em mercadoria diferente e estamos sempre atentas ao que nossas clientes querem”, conta. Ela diz que suas vendas aumentaram em 50% este ano. Ane Lopes preferiu investir em diversidade de produtos, quem for a sua barraquinha poderá comprar roupas, bijuterias e até alho (Foto: Kelven Figueiredo / CORREIO) Também há quem preferia apostar na diversidade de produtos, como no caso de Ane Lopes, 30, no ramo há pelo menos três anos. Com as vendas mais baixas, ela agora oferece uma maior diversidade aos seus cliente: vende roupas, bijuterias e alho. A combinação inusitada tem até explicação. “Aqui a cliente vem comprar o look e já sai com o tempero da ceia”, brinca.

Movimento baixo Para a maioria dos vendedores, o fim de ano tem sido um fiasco na região da Avenida Sete. Marilene Silva, 54, que trabalha na região há pelo menos 20 anos, é taxativa.  “Esse é o pior fim de ano que estou tendo aqui. As vendas já não estavam boas, mas eu esperava vender pelo menos R$300. Até agora (por volta de 15h)  só consegui vender R$50. Não dá nem para comprar meu peru da ceia”, lamenta.E quem pensou que o empurra-empurra e a grande circulação de pessoas no local seria sinônimo de muitas vendas, se enganou. Seu Narcelio Alves, 76, se queixa de um dos volumes de venda mais baixos em sua carreira de 20 anos como camelô. “Tem muita gente passando por aqui, mas ninguém compra nada. Esse ano parece que o povo resolveu deixar o décimo no banco”, brincou.  Seu Narcelio aponta o aumento do número de camelôs como o maior vilão das vendas neste ano (Foto: Kelven Figueiredo / CORREIO) As queixas frequentes também indicavam o aumento de camelôs na área, potencializado nos dois últimos meses - o estado tem hoje cerca de 1,1 milhão de desempregado, o que também contribui com aumento da informalidade. Marisa Pereira, 58, que trabalha há 40 anos como camelô no local, vai nessa linha e lamenta o resultado. “Há dois ou três anos, nessa época eu vendia mil reais fácil. Mesmo com a baixa eu pensei que venderia ao menos R$500, mas na verdade só vendi metade disso", diz. 

* Com orientação da coordenadora Perla Ribeiro