Amigos e familiares se despedem de Waldir Pires no Mosteiro de São Bento

Corpo do ex-governador da Bahia está sendo velado neste sábado (23)

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  • Luan Santos

Publicado em 23 de junho de 2018 às 11:07

- Atualizado há um ano

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O ex-governador da Bahia Waldir Pires, que morreu nesta sexta (22), tinha uma relação intensa com o Mosteiro de São Bento que já durava mais de 50 anos. Foi lá que ele celebrou, em 2001, suas bodas de ouro com Yolanda Pires, falecida em 2005. Lá também ele realizava anualmente uma missa em homenagem à esposa desde a morte dela. No mosteiro, Waldir comemorou seus 90 anos de idade, em 2016. Além disso, construiu boa relação com os abades do mosteiro desde o período da ditadura militar, entre eles com dom Timóteo e dom Gerônimo e, mais recentemente, com dom Emanuel, que costumava celebrar as missas em homenagem à esposa dele.  (Foto: Luan Santos/CORREIO) Por toda esta relação, o mosteiro foi o local escolhido pela família de Waldir Pires para o velório do corpo do ex-ministro. A cerimônia acontece neste sábado (23) desde as 9h, com a presença de familiares, amigos, admiradores e políticos, dos mais diversos partidos e correntes ideológicas. À tarde, será celebrada uma missa em homenagem a ele. Neste domingo (24), uma nova missa será celebrada às 10h e o corpo de Waldir será cremado no Cemitério Jardim da Saudade, às 11h. 

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Um dos primeiros a chegar ao velório foi o general Marcos André da Silva Alvim, comandante da 6a Região Militar. Ele afirmou que desempenhou o papel de ministro da Defesa com muita dignidade. "Represento aqui 6 mil militares em nome do Exército Brasileiro para prestar condolências ao ex-ministro da Defesa. Foi um homem de estado que serviu com muita dignidade", disse. 

Filho do ex-governador, Francisco Waldir Pires Júnior afirmou que o pai deixa um legado que transcende a política. "Tinha muita serenidade e inteligência, sempre muito afável no trato com as pessoas", diz. Ele recorda que o pai já não acompanhava o cotidiano da política brasileira, mas não deixava de falar sobre o tema."Ele não acompanhava a conjuntura, mas política era o que ele trazia como principal sentimento. Era o meio pelo qual ele tinha para lutar pelo que ele acreditava, desde sempre. Então, a política ainda estava no nosso dia a dia", comenta.  O governador Rui Costa (PT), que foi ao velório do ex-ministro, afirmou que Waldir tem uma história exemplar. "É uma referência para as novas gerações, para a juventude. Era um homem pouco apegado ao poder, mas apegado às ideias que poderiam contribuir para um Brasil melhor", afirmou. O ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad (PT) e a cantora Margareth Menezes também foram à celebração.

"Waldir Pires é um gigante da política. É um homem que vai ser lembrado por muitas gerações. Era uma pessoa que tinha compromisso com o país e com os que mais precisavam, nesse enorme Brasil", destacou Haddad, durante a missa de sábado (23). "Apesar da sua firmeza de propósito, caráter e integridade, ele era uma pessoa muito amável. Sabia dirigir as palavras para seus adversários políticos e para seus companheiros. Sempre tinha um gesto construtivo, integrador, que aproximava as pessoas. É uma pessoa que vai deixar uma lembrança bacana, de como a política pode ser bem feita", completou o ex-prefeito de São Paulo.

Amigo de Waldir, o ex-governador Roberto Santos chegou ao velório de cadeira de rodas. Mais próximo ao corpo de Waldir, levantou para se aproximar e se despedir daquele que, para ele foi um exemplo para a política e, em alguns momentos, foi até adversário. "Ele nos agradiava sempre com seu jeito. Temos quase a mesma idade, então convivemos muito na política. Nossa geração certamente tem ele como uma das mais ilustres figuras. Era muito sério, conhecia muito a Bahia e suas necessidades. Fomos até adversários, mas sempre nos respeitamos muito, e minha admiração por ele sempre foi grande", contou. Roberto Santos também foi se despedir de Waldir Pires (Foto: Luan Santos/CORREIO) O funcionário público Luiz Henrique Teixeira, 65 anos, chegou ao mosteiro carregando nos ombros uma toalha com o nome de Waldir Pires. Foi uma das peças utilizadas na campanha ao governo do estado em 1986, quando foi eleito governador. 

"Eu sou eleitor desde desde 1970. Votei para deputado, vereador, senador e governador. Waldir era mais que um exemplo, ele era um político único, marcado pela seriedade, inteligência e honestidade", afirma, ao recadodar da campanha de 1986. 

"Naquele ano, participei da campanha, trabalhei com ele. O que me movia era o ideal dele por uma Bahia melhor e desenvolvida. Era doutor Waldir de helicóptero no céu e eu de carro na terra. Fomos a mais de 150 municípios", lembra. 

Waldir foi uma das inspirações para a senadora Lídice da Mata (PSB). Na década de 1970, ela participou de atividades comandadas por ele. "Eu lembro que foi um momento muito marcante, quando ainda era estudante. Foi uma palestra com ele. Waldir era muito gentil e tinha uma oratória extraordinária. Era um líder inteligente e cativante", afirma. 

Outro momento recordado por ela foi durante sua campanha à Prefeitura de Salvador. "Na época, Waldir era do PDT, partido que tem como símbolo uma rosa. Então, ele me deu uma rosa vermelha para simbolizar a adesão à campanha. Foi, sem dúvidas, um líder fundamental para o período democrático", enfatiza. 

Ao longo do dia, familiares chegaram ao mosteiro para se despedir de Waldir. Emocionados, chegaram próximo ao corpo por algum tempo. Amigos da família também participam da solenidade.

Admiradores do interior

Políticos do interior do estado foram ao velório para dar o último adeus a Waldir. Entre eles o ex-prefeito de Juazeiro Joseph Bandeira, que conviveu com o ex-governador durante décadas na política baiana. "Nas últimas vezes em que foi a Juazeiro, ele ficou comigo. Lembro muito nitidamente disso, durante a campanha de 1986. Waldir era um modelo de político, que lutava por suas convicções sem estar preso a qualquer compromisso que não fosse com o povo", diz ele. 

O prefeito de Feira de Santana, Colbert Martins (MDB), também foi ao velório e afirmou que decretou luto oficial de três dias no município. "Estamos aqui para homenagear esta que é uma das mais importantes figuras da história da Bahia. Foi um homem público singular, admirado por todos, respeitado pelos adversários", afirmou. 

Amiga da família de Waldir, a jornalista Olívia Soares lembra que, para além das características políticas, o ex-ministro tinha uma maneira peculiar e ímpar de tratar as pessoas. "Era uma coisa dele. Além da lealdade e dignidade na política, era muito gentil e humildade com as pessoas. Ele tinha a capacidade e paciência de ouvir a todos", conta. 

Um episódio marcante, ela recorda, foi no retorno dele do exílio no final da década de 1970. Muito amigo do ex-governador Clériston Andrade, Waldir voltou à Bahia e retomava seu lugar de líder da esquerda baiana. O ex-senador ACM pediu a Andrade que intermediasse o contato com Waldir. "ACM foi dar as boas vindas a Waldir. Era um tempo em que havia muito respeito e dignidade", conta ela.

Natural de Iraquara, na Chapada Diamantina, a estilista Josileide Castro Lima, 49, lembrou da época em que conviveu com Waldir na casa dos pais. "Tenho uma memória de professor Waldir, antes de qualquer coisa, afetiva. Ele se hospedou na minha casa. Era amigo do meu pai e quando ia pra Chapada, ficava na minha casa. Com 13 anos, declamei um poema de Drummond pra ele", contou Josileide, durante a missa realizada neste sábado (23). Muito emocionada, a estilista lembrou, ainda, da última vez que viu Waldir, no Carnaval deste ano.

"O olhar dele já estava tão longe e o sorriso tão desbotado... Aí quando eu disse 'sou sua profunda admiradora, o senhor nos deixa um legado de honra, dignidade, delicadeza, justiça e honestidade no trato da coisa pública. Nos deixa um caminho a seguir, uma luta muito grande', ele pegou no meu rosto e disse: 'Você é tão linda. Seu pai era um grande homem". Então levantou amparado pelo filho e pela nora e eu pensei 'a gente não vê mais ele'. E assim ele foi...", completou, Josileide entre lágrimas.

Respeito é uma das mercas dele apontadas pelo ex-deputado Domingos Leonelli, primeiro secretário do PSB na Bahia. "Tinha a serenidade dos sábios. Sempre mostrava respeito à democracia. Aliado a isso, tinha a seriedade pessoal e a tolerância, que é seu maior legado", diz. 

Leonelli esteve no front da campanha de Waldir ao governo em 1986 após o retorno do ex-ministro do exílio, inicialmente no Uruguai e depois em Paris, na França. "Ele foi um dos poucos líderes da esquerda, como Miguel Arraes e Leonel Brizola, que voltaram do exílio e retomaram a liderança política sem contestação", diz.