Amigos e parentes se despedem de Joãozito: 'Generoso, artista único'

Artista e agitador cultural foi cremado no Cemitério Jardim da Saudade, nesta segunda-feira (16)

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  • Laura Fernades

Publicado em 16 de outubro de 2017 às 13:37

- Atualizado há um ano

. Crédito: Marina Silva/CORREIO

Pessoas sentadas na grama, em uma canga, escutavam em silêncio a música instrumental tocada ao vivo minutos antes da cerimônia de cremação do artista plástico e cenógrafo baiano João Pereira, 51 anos. Diante do momento de dor, amigos, parentes e artistas destacaram que a atmosfera suave marcou a despedida de Joãozito no cemitério Jardim da Saudade, em Brotas, na manhã desta segunda-feira (16).

“Ele era isso... Só em um momento tão duro é que a gente vê tanta beleza”, disse a artista plástica Lanussi Pasquali, enquanto enxugava as lágrimas ao falar do marido que morreu ontem, em casa, vítima de câncer na vesícula. “Ele sempre foi uma pessoa cheia de vida e intensa em tudo o que fazia. Descobriu o câncer, mas continuou atuante. Morrer não combina com ele...”, reforçou a artista plástica e amiga Mayra Lins, 37, durante o velório.

Nascido em Amargosa, em uma família com dez irmãos, Joãozito foi lembrado pelos presentes por sua generosidade e capacidade de agregar pessoas. “Generoso, um artista único, intenso, um cara que gostava de agregar. Joãozito é um exemplo de experiência de vida”, destacou a cantora e amiga de longas datas Rebeca Matta, 50. “Perece brincadeira isso... João é uma imortal. Deixa na gente um tanto de reflexão sobre a passagem da vida. É preciso viver intensamente, ele dizia...”, lembrou a cantora.

Emocionado, o baterista Moisés Pereira, 45, lembrou que Joãozito “sempre foi um grande irmão e conselheiro”. “Irmão sempre briga muito, né? Mas entre os dez, tinham uns três ou quatro que nunca brigavam e João era um deles. Era como se fosse um pai pra gente. Sempre orientava, dava conselhos...”, contou Moisés. O músico disse, ainda, que João era muito discreto, por isso contou para poucas sobre o câncer descoberto em 2014. “Ele era muito reservado. Não contava muito sobre os problemas dele. Mas por onde passou, ele deixou um rastro de gentileza e bondade”, completou.

Experimentações Formado pela Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia (Ufba), Joãozito ganhou destaque nas artes visuais com a exposição Encontros com Da Vinci, a primeira de sua carreira. Influenciado pela obra do pintor italiano, retratou figuras insólitas e tipos marginalizados, reforçando sempre as quebras de estereótipo. As experimentações do seu trabalho envolviam o audiovisual e técnicas interativas e que utilizavam formatos como o 3D.

Curador e empreendedor, Joãozito era responsável por diversas exposições e projetos culturais na Bahia. Entre os trabalhos recentes, liderou a ocupação da Galeria do Museu de Arte da Bahia (MAB), a exposição Só Cabeças, no Museu de Arte Moderna (MAM), e a feira de arte Pedra Papel Tesouro, no Palácio da Aclamação.

“Além de artista reconhecido, Joãozito se destacava como grande articulador, aglutinador, produtor e criador de importantes movimentos e realizações artísticas para a Bahia. O IPAC se solidariza com todos os familiares do artista”, lamentou, em nota, o Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (IPAC), responsável pelos museus.

Criador e proprietário da empresa Blade Cenografia & Design, há 20 anos, Joãozito trabalhava ao lado da esposa, Lanussi, com quem teve dois filhos. A empresa é responsável por curadorias de projetos e eventos culturais, como a exposição de arte e realidade virtual que ocupou o espaço Carybé de Artes, no Forte de São Diogo, em 2016.