Amigos na ficção, Acácio e Valentim moram juntos e são como irmãos na vida real

Baianos Dan Ferreira e Danilo Mesquita levam o dendê no sangue e dão o que falar em Segundo Sol

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  • Naiana Ribeiro

Publicado em 24 de junho de 2018 às 06:12

- Atualizado há um ano

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. por Foto: João Miguel Junior/TV Globo

Te amo mô pivete!! Meu irmão ❤️???? @odanferreira

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Era 9 de novembro de 2009 quando o empresário e olheiro Sérgio Mattos encontrou o baiano Danilo Ferreira nas ruas do Rio de Janeiro. Poucas horas depois, no mesmo local, esbarrou-se com mais um Danilo: o Mesquita, também baiano. Mal sabiam as crias da terra do dendê que, quase nove anos depois, seriam grandes amigos; muito menos que estariam morando juntos e atuando na mesma novela.  A amizade do capoeirista Acácio Pereira e do estudante Valentim Falcão vai muito além das telas de Segundo Sol, trama das nove da TV Globo. Fora o nome e a idade (26 anos), os jovens atores têm diversas semelhanças: ambos nasceram em Salvador e têm muitas lembranças (e saudades) da Baía de Todos os Santos. Formaram-se como atores no Rio de Janeiro e estão dando o que falar na história que mostra sua terra natal. (Foto: João Miguel Junior/TV Globo) “Está sendo incrível interpretar um personagem tão cheio de conflitos em horário nobre. Mas o melhor é poder falar um pouco do meu povo, da minha história e poder participar dessa grande homenagem à Bahia e à minha cidade, que sou apaixonado. Sempre tive sonho de fazer teatro ou cinema sobre o estado e nunca pensei que a TV me daria isso”, afirma Mesquita, que está em sua quarta novela.  Além de assumir o namoro com a prostituta de luxo Rosa (Leticia Colin), o filho roubado de Luzia (Giovanna Antonelli) sofreu um acidente na última semana. “O amor dele com Rosa tem muitas camadas e tem ainda o fato de que ele é irmão de Ícaro. É uma novela que a cada semana vai surpreendendo o público e também a gente. Mas uma coisa que gosto é que o Valentim parece frágil, mas quando está com Rosa é forte. É uma relação muito bonita, mas ainda tem muita coisa para acontecer com esse triângulo amoroso”, antecipa o ator e músico. Na próxima semana, Valentim irá apresentar Rosa como sua namorada para a família (Foto: Reprodução) O estudante de medicina, instrutor de capoeira, líder comunitário e namorado deManu (Luisa Arraes) também pode surpreender nos próximos capítulos. “Estou adorando fazer o Acácio, porque ele tem várias faces. É um um cara de personalidade tranquila, mas escuto também que é misterioso. Nas ruas, muita gente diz que ele está escondendo algum segredo. Acho isso bom, porque dá abertura para o autor levar ele para vários caminhos e pode ter algumas viradas. Vão começar a aparecer situações em que dá para perceber com mais clareza a multiplicidade do personagem”, revela Ferreira, que estreou nas telas em 2012, no elenco de apoio de Malhação, e estava longe de novelas desde 2016. (Foto: João Cotta/TV Globo) Na trama, os dois ficaram mais próximos após Valentim virar um sem teto. Na vida real, se encontraram pela primeira vez em um curso de artes dramáticas, em 2010, e moram juntos desde 2012.“A gente descobriu que frequentava os mesmos lugares e não se conhecia. Depois do curso, Dan morou na minha casa com meus pais, aqui no Rio. Já namorei a irmã dele e hoje a gente mora juntos. É uma relação de irmão mesmo. Ele é gente de verdade e dou valor”, destaca Ferreira. 

Mesquita define o encontro como coisa do destino e conta que o olheiro Sérgio Mattos os conheceu no mesmo dia, em 2009. “São muitas coincidências. A gente veio da Bahia, tem o mesmo nome... E tinha o mesmo sonho. Lembro de Sérgio dizendo que eu precisava conhecer ele. Desde que a gente se encontrou, sempre foi uma relação muito bonita. A família dele me acolheu demais - tenho a mãe e o pai dele como da minha família. Vai muito além da amizade. Vivemos muita coisa juntos. Ele é meu irmão da vida: tem uma nobreza e uma energia sem igual”, elogia.  [[galeria]]

Apesar de já terem criado raízes no Rio de Janeiro, os dois sentem falta da Bahia. Morando há oito anos na capital carioca, Danilo Mesquita viveu na casa dos pais, no bairro do Cabula, até os 18 anos. “Minha avó mora lá há 45 anos e minha mãe chegou no bairro bem pequena. Todo mundo me conhece. Quando chego aí fico sem camisa, descalço, ao lado da minha família e dos meus amigos... É o melhor sentimento do mundo”, conta ele, que pensa em voltar para a Bahia, mas não por agora. “Minha relação com o Rio é maravilhosa. Infelizmente, Salvador não tem o mesmo mercado. É uma pena porque tem muito artista bom resistindo, não só no teatro como na música. Tenho o desejo de morar em Salvador e fazer minha arte, mas cada coisa com seu tempo”, fala.  Baiano se diz honrado por contracenar com atores tão experientes, que antes eram referências, como Deborah Secco e Vladimir Brichta (Foto: João Miguel Junior/TV Globo) Mesmo com a correria, Mesquita vem para Salvador no mínimo duas vezes no ano – no Natal e, sempre que dá, no Carnaval: “É o movimento que mais me emociona. Sou apaixonado pela Bahia e sinto falta do tempero, da comida da minha avó e da minha mãe. Apesar da minha formação ter sido no Rio, a Bahia é a minha maior fonte. Foi ela que me deu tudo que tenho. Me inspira, me emociona e vem de dentro. É onde eu me recarrego e onde vou sempre beber como artista”,  Ao contrário dele, Dan Ferreira foi criado no Rio de Janeiro. Morou em Salvador até um ano e oito meses e voltou para cá de 2007 a 2010. Teve casas em Fazenda Grande do Retiro, São Caetano e Paripe. “Como minha mãe é de Xique-Xique e meu pai de Salvador, desde pequeno vivo a cultura baiana em casa. Todo ano a gente ia de férias. Hoje, tento ir duas vezes por ano. Gosto muito da festa de Iemanjá, do Carnaval e amo a comida. Amo andar no Centro Histórico, pegar ônibus pela cidade e adoro comer a moqueca de Neinha lá em Plataforma”, revela.  Moqueca de Neinha, em Plataforma, é a preferida de Dan Ferreira (Foto: Reprodução) Baianês Daqui, os dois também levam o sotaque. Sempre ajudam os colegas atores a utilizarem as gírias e expressões da melhor forma. “No Rio, falaram que a gente tinha que perder sotaque para ser ator. Esse é o primeiro trabalho que não preciso deixar a fala ‘neutra’. Na preparação, a gente ajudou os colegas. Com respeito ao povo baiano, estou me esforçando para fazer da maneira mais respeitosa e atual possível. Por ter morado muito tempo aqui, me vi tendo que estudar algumas coisas para abrir mais vogal, tonificar as sílabas e para ficar fiel”, diz o intérprete de Acácio. 

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Mesquita teve medo de ficar forçado. “Procuro falar normal. Mas sei que é difícil fazer um sotaque que não é o seu. Não é só falar, como entender a Bahia, a musicalidade e as referências da nossa cultura. Os nossos colegas estavam preocupados em se aproximar disso”, acrescenta.

Tanto os Danilos quanto o ator Chay Suede fizeram 16 aulas de capoeira com o Mestre Mobília, no Rio, para encarnar seus personagens. "Tinha feito capoeira com seis anos, mas tomei uma 'bênção' (golpe na barriga) e não quis mais voltar. Fiquei traumatizado. Com a novela, estou me reencontrando na capoeira. Tem me ajudado muito não só nas cenas, mas virou uma paixão e é um exercício completo. Sempre que posso faço aulas”, conta Ferreira.

O retorno à prática casou com um momento da sua vida em que ele tem pesquisando mais sobre sua ancestralidade. “Tenho deixado bastante tempo pra mim. A gente anda forte pra frente quando olha pra traz”, justifica.  O ator baiano Dan Ferreira (Acácio) e Chay Suede (Ícaro) jogam capoeira (Foto: João Cotta/TV Globo) Representatividade Falando olhar para frente, os dois consideraram positiva a comoção popular em torno da falta de atores negros em Segundo Sol. “Acho massa a população gritando que quer se sentir representada. Era uma oportunidade enorme que a novela tinha de fazer algo revolucionário porque é assim, nossa população é negra. Mas, para além de Salvador, isso da representatividade tem que se estender para outros produtos. Tem que tem mais apresentador preto, mais preto escrevendo... A gente vive numa estrutura racista e isso não é só um problema da novela. Todos nós somos parte do problema e da solução. Temos que pensar na potência da diversidade e precisamos falar desse assunto”, defende Ferreira.  Mesquita ressalta que a falta de negros em uma novela ambientada na Bahia evidencia um problema estrutural: “As pessoas querem ser vistas e representadas. É um grito óbvio e precisa ser ouvido”.  Danilo Ferreira (Acácio), 26 anos Apelido: DanLugar preferido de Salvador: Centro Histórico. Ama o Largo do PelourinhoComida preferida:  MoquecaHobby: Fazer nada e pesquisar sobre sua ancestralidadeJá morou em: Fazenda Grande do Retiro, São Caetano e Paripe (em SSA); Campo Grande, Ilha do Governador, Méier e São Gonçalo (no Rio)Séries preferidas: Cara Gente Branca, Game of Thrones e Queen Sugar Danilo Mesquita (Valentim), 26 anos Apelido: DanLugar preferido de Salvador: Depois da sua casa, o Santo Antônio Além do Carmo. Adora o Centro de Artes ABOCA (R. dos Marchantes, 12) Comida preferida: Cozido com pirão feito pela avó ou pela mãeHobby: Jogar bola, sair e estar com os amigos, tocar violão e fazer um som Onde foi criado: CabulaSéries preferidas:  Narcos e Ó Paí, Ó