Analógicos? Digitais?

Por Aninha Franco

  • D
  • Da Redação

Publicado em 26 de agosto de 2017 às 00:01

- Atualizado há um ano

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Os eletrodomésticos televisivos avisam, sem parar, que a Era Analógica acabará em 27 de setembro, e que a partir desse dia os eletrodomésticos analógicos não apresentarão mais as emissões digitais. Mas as emissoras digitais oferecem programas totalmente analógicos. As pegadinhas de Faustão são analógicas. As piadas de Faustão são analógicas. As novelas, e mesmo as entrevistas de Pedro Bial, por mais interessantes que sejam, são analógicas quando correm do conteúdo digital de Fernando Gabeira para o conteúdo analógico de Simone e Simaria sem respeito nenhum ao espectador digital. 

A primeira vez que eu assisti televisão, aos oito anos, na casa dos vizinhos Meirelles, Seu Joel e Dona Celeste, pais de Virgínia, Deise, Tadeu e Joelson, a caixa não me encantou. E eu fui uma televizinha esporádica até que a caixa entrou na minha casa e eu continuei esporádica. Achava a caixa repetitiva e preferia ler. Encontrava em Monteiro Lobato assuntos muito sedutores, como filosofia e história, que a televisão nunca mostrava. E preferia o livro ao cinema, exceto para assistir os clássicos italianos ou franceses no Guarani. 

Nos Anos 1970 e 1980, fui seduzida por algumas produções espetaculares das emissoras analógicas. Malu Mulher (1979/1980) com Regina Duarte era totalmente digital. Era o futuro. Era hoje sem substantivos como feminicídio. Era uma delegacia televisiva digital de mulheres. Como era totalmente digital a TV Mulher (Anos 1980) com Marília Gabriela, Clodovil, Ney Galvão e Marta Suplicy discutindo gênero sem a necessidade de empapar as palavras de x. Na TV Mulher até Marta Suplicy conseguiu ser digital, até tornar-se fortemente analógica na política, fazendo o personagem rico que adora pobres.

As novelas inspiradas na obra de Amado eram espetaculares. Foi espetacular Gabriela (1975), criação totalmente digital com Sonia Braga, que a equipe analógica da Globo parece que perdeu, salvas algumas cenas. Era pós-digital, sabe-se lá o que será, mas será, tenham certeza, assistir Zbigniew Marian Ziembiński (1908.1978) no O Rebu (1974), um ator genial, Zimba para os que tiveram a honra de conhecê-lo, um diretor que injetou vida digital no teatro brasileiro com a dramaturgia brasileira de Nelson Rodrigues, uma aula de arte todas as vezes que pintava. Tentem assisti-lo em Tico-Tico no Fubá (1952), se ainda for possível nesse País desmemoriado. 

No século 21, as emissoras de televisão talvez em busca das audiências perdidas para outras telas, tornaram-se largamente analógicas. 

Política Analógica Se as emissoras de TV já foram digitais sendo analógicas, o Brasil político sempre foi e continua sendo completamente analógico num Planeta a cada dia mais digital. A felicidade é que uma população brasileira, finalmente, entendeu que sua civilidade está sendo jogada no lixo todos os dias, por políticos analógicos, na Cidade Imperial de Brasília, copiada da Cidade Proibida Púrpura pré-Mao-Tsé-Tung. Entendeu e ainda não sabe o que fazer com ovadas, caravanas, distritões e fundões, com uma única coisa digital, as impressões digitais de Lula, Renan, Temer ad caterva. 

Mas entender que basta de política analógica para uma cobrança de imposto digital já é uma grande vitória.