Angela Maria entra para o panteão das divas da MPB

Em 70 anos de carreira, Angela Maria gravou 114 discos e vendeu 60 milhões de exemplares

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  • Alexandre Lyrio

Publicado em 1 de outubro de 2018 às 10:08

- Atualizado há um ano

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Para não ser injusto com as outras, melhor deixar elas próprias definirem a grandeza de Angela Maria: “Uma das maiores vozes do Brasil acaba de sair de cena”, escreveu Elza Soares nas redes sociais. “Perdemos a maior cantora do Brasil de todos os tempos”, foi além Alcione. Após esses dois atestados, só nos resta emendar com o que disse em seu Instagram a cantora Roberta Miranda: “Vá com Deus!”. 

Como se vê, é incontestável a importância de Angela Maria para a música popular brasileira. A Rainha do Rádio morreu aos 89 anos, no fim da noite de sábado, no Hospital Sancta Maggiore, em São Paulo. Após 34 dias de internação,  não resistiu a uma infecção generalizada. O corpo da cantora foi velado e sepultado ontem  no Cemitério Congonhas, na capital paulista. Ela deixa quatro filhos. (Foto: Leandro Almeida/Divulgação) Abelim Maria da Cunha nasceu em Conceição de Macabu, no Rio de Janeiro. Filha de pastor protestante, cantava desde menina em corais de igrejas. Assumiu o nome artístico de Angela Maria e começou a carreira aos 19 anos, em 1947.  A intérprete de clássicos como Fósforo Queimado, Vida de Bailarina, Orgulho, Ave Maria no Morro e Lábios de Mel se notabilizou como representante do samba-canção. Entre seus sucessos está também o inesquecível mambo Babalú.Angela Maria gravou 114 discos e vendeu 60 milhões de exemplares. Seu último álbum de estúdio foi Angela Maria e as Canções de Roberto & Erasmo, lançado em 2017 pela gravadora Biscoito Fino. Consagrou-se na era dourada do rádio, tornando-se uma referência ao lado de Maysa, Nora Ney e Dolores Duran. O marido da cantora, Daniel D’Angelo, lamentou a perda. “Angela Maria para mim é tudo, está nas minhas entranhas. Para os fãs é fácil, coloca um CD e vai ouvir sua voz. Agora, a Abelim, a minha mulher, só eu a vi e ela não volta mais. Mas, o céu está em festa”, disse Daniel, que esteve casado com a Sapoti por 40 anos.

A festa que o marido de Angela Maria se referiu certamente terá um convidado especial: Cauby Peixoto (1931-2016), seu “marido musical”. Ao longo da carreira, fizeram muitas parcerias. Em 1982, foi lançado o LP Odeon com Angela Maria e Cauby Peixoto, primeiro encontro em disco dos dois amigos. Em 1992, a dupla lançou outro álbum, Angela e Cauby ao Vivo, que rendeu também uma turnê.

Parcerias Angela também fez diversas parcerias, além de Cauby. Cantou com Roberto Carlos, Gal Costa, Caetano Veloso, Agnaldo Timóteo, Alcione, Fafá de Belém, Ney Matogrosso e Agnaldo Timóteo, que foi seu motorista. Com eles, dividiu os vocais no álbum Amigos, vendeu 500 mil cópias. Em 2012, tentou candidatar-se a vereadora da cidade de São Paulo. Há três anos, teve a vida retratada na biografia Angela Maria: A Eterna Cantora do Brasil, escrita pelo jornalista Rodrigo Faour. 

Antes de se tornar uma das maiores intérpretes do Brasil, Angela Maria foi operária tecelã e inspetora de lâmpadas em uma fábrica da General Eletric. Por volta de 1947, começou a frequentar programas de calouros usando nome artístico para não ser descoberta pelos parentes. Sempre quis ser cantora, mas sua posição (inclusive, social) parecia não lhe permitir. 

Em 1948, ela começou a cantar na casa de shows Dancing Avenida, onde foi descoberta pelos compositores Erasmo Silva e Jaime Moreira Filho. Eles a apresentaram a Gilberto Martins, diretor da Rádio Mayrink Veiga, onde começou a trabalhar. Em dado momento (e inevitavelmente dada a potência de sua voz), Angela estourou. Rodrigo Faour com o livro sobre a carreira de Angela Maria (Foto: Thiago Antunes/Divulgação) Sapoti Em 1951, gravou pela RCA Victor os sambas Sou Feliz e Quando Alguém vai Embora. No ano seguinte, sua gravação do samba Não Tenho Você bateu recordes de venda, marcando o primeiro grande sucesso de sua carreira. O apelido de Sapoti, que seria seu sobrenome para toda a vida, foi um carinho do presidente   Getúlio Vargas, encantado  durante uma apresentação. “Menina, você tem a voz doce e a cor do sapoti”, teria dito.

Quando decidiu virar artista, Angela Maria abandonou os estudos, o trabalho na indústria e foi morar com uma irmã no subúrbio do Rio. Durante a década de 1950, atuou intensamente nas rádios Nacional e Mayrink Veiga, como a estrela de A Princesa Canta, nome derivado de seu título de Princesa do Rádio. A alcunha de Rainha do Rádio veio quatro anos depois. 

De rádio em rádio - e depois de programa de TV em programa de TV -, Angela Maria inspirou gerações de fãs e outros artistas, entre eles Elis Regina, que a citava como maior influência. Por isso, além de exaltar a sua grandeza, as colegas escreveram palavras de agradecimento. “Foi-se a minha grande referência como cantora. Aprendi muito ouvindo Angela Maria cantar e, agora, junto com a saudade, ficam meus eternos agradecimentos por todas as coisas lindas que ouvi em sua voz”, destacou Alcione.

Roberta Miranda também publicou nas redes sociais um vídeo antigo ao lado de Angela e escreveu:  “Angela Maria, a quem de minha mãe que me ensinou a amar por esta voz única. Que triste estou! A maior !! Sou aprendiz, te amo #vácomdeus”, escreveu. Outra homenagem foi feita por Fafá de Belém: “Obrigada! Angela Maria, a maior cantora nascida neste país!”.