Ao som do Olodum e nos braços do povo, Hebert Conceição desembarca em Salvador

Pugilista baiano exibiu a medalha de ouro conquistada nos Jogos de Tóquio

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  • Daniela Leone

Publicado em 13 de agosto de 2021 às 12:42

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Nara Gentil/ CORREIO

Um nobre guerreiro em êxtase. Nem a máscara conseguia esconder o sorriso largo que Hebert Conceição estampava por trás dela. Campeão olímpico de boxe nos Jogos de Tóquio, no Japão, o baiano desembarcou em Salvador na manhã desta sexta-feira (13) e foi recebido com festa por uma pequena multidão de fãs, amigos e familiares. "Tanto que eu pedi que não viesse. Não pode aglomerar, pessoal. Pelo amor de Deus", lembrou, por causa da pandemia de coronavírus. Ninguém obedeceu e ele decidiu curtir o momento.

A medalha de ouro conquistada na categoria até 75kg após nocautear o ucraniano Oleksandr Khyzniak ficou exibida no pescoço o tempo inteiro. Não como um símbolo de ostentação, mas de orgulho e humildade. Sem egoismo, queria compartilhar ela com todos. Esbanjando simpatia, Hebert Conceição distribuiu abraços e posou incansavelmente para fotos. Toda a festa foi embalada pela música Nadiba, do Olodum, escolhida por ele para animar as entradas no rinque antes das lutas nos Jogos de Tóquio. Ela tocou no modo 'repeat' nas caixas de som do aeroporto e em uma portátil carregada por amigos.  

"É muito gratificante ser recebido com todo esse carinho pelo povo baiano, pelo povo brasileiro. Que bom que eu retribuí essa alegria lá em Tóquio. Essa música me incentivou muito lá e faz parte também dessa conquista. Estou muito feliz e agora de volta para a terrinha com a alma muito mais leve, com o mesmo espírito de guerreiro" , vibrou Hebert Conceição, que até dançou no aeroporto de Salvador ao som de versos como 'Nobre guerreiro, negro de alma leve. Nobre guerreiro, negro lutador", como fez no ringue em Tóquio.

Criado no bairro de Pau da Lima, o lutador é fã da banda de percussão Olodum, mas quando fez a escolha pela música não imaginou que fosse marcar tanto a conquista dele no Japão. "Eu não esperava que teria tanta repercussão assim, mas o Olodum tem muitas canções que marcam muito e essa canção é uma delas. Eu sempre escuto. Nunca tive o sonho de ser um percussionista, mas eu sempre brinquei tocando em balde, fazendo bagunça com os amigos", contou. Familiares e amigos de Hebert exibem faixa (Foto: Nara Gentil/ CORREIO) "Eu baiano raiz, não podia deixar de representar e enaltecer meu povo, a minha cidade, minha terra, em uma oportunidade tão grande que é os Jogos Olímpicos. E que bom que eu pude apresentar tão bem. O pessoal do Japão, o povo do mundo, conheceu a nossa terra e teve muitos bons exemplos. Fiquei muito feliz com toda a repercussão positiva e que bom que eu representei eles também", vibrou o torcedor do Bahia.

Representou e ficou de alma leve ao ouvir uma outra música enquanto ocupava o local mais alto do pódio, o hino brasileiro. Um feito conquistado com ousadia após derrubar Oleksandr Khyzniak. O ucraniano havia levado a melhor nos dois primeiros rounds da final olímpica. 

"A gente sabia que estava perdendo a luta, me foi passado isso no final do segundo round e eu só teria três minutos para reverter aquela situação. Fui para o tudo ou nada. Se eu tivesse tomado o nocaute não teria perdido nada, pois a luta já estava perdida na pontuação. Esperei ele vir com muito ímpeto, consegui um cruzado lindo e nocauter".

Para além da música do Olodum, Hebert Conceição também não imaginava que a comemoração após a conquista da vaga às semifinais fosse repercutir tanto. Após derrotar o cazaque Abilkhan Amankul, ele não economizou nos palavrões e deixou até o narrador Galvão Bueno desconsertado. “Eu sou medalhista olímpico, car****! Eu mereço pra car****! Nós trabalhamos pra car***, porra! Aqui é Brasil, porra! (...) É Brasil, é Bahia, é Salvador, porra!”, festejou Hebert logo após o soar do gongo. Ali ele já tinha garantido ao menos o bronze.

"Em alguns momentos eu me exaltei, peço desculpas, mas era isso mesmo, o momento de comemorar, de extravasar. Pra gente é tão normal falar as palavras que eu falei ali no ringue, mas para algumas pessoas não. Eu me senti até envergonhado depois assistindo, pedi desculpas ao pessoal que tava presente. É o momento de felicidade, a gente está à flor da pele, não pensa muito nas palavras. Peço desculpas, mas acho que comemorei da melhor maneira", disse, em meio a risos. 

Passos do ídolo

Aos 23 anos, Hebert repetiu o feito de um ídolo que carrega o mesmo sobrenome. Nos Jogos do Rio de Janeiro, em 2016, o também baiano Robson Conceição conquistou o primeiro ouro olímpico do boxe brasileiro. "Depois da luta eu liguei para o Robson e falei 'campeão, você foi o campeão olímpico de 2016, eu o de 2020, você sempre foi minha inspiração e não é porque hoje eu igualei o seu feito que alguma coisa vai mudar. O respeito continua o mesmo, a inspiração continua a mesma e agora vamos juntos inspirar mais campeões'", contou Hebert.

Após a conquista olímpica, na terceira edição que participou, Robson Conceição se profissionalizou. Hebert conquistou o ouro logo em sua estreia nos Jogos e ainda não sabe se vai seguir os passos do ídolo. Por enquanto, ele não quer pensar no futuro. "Descansar, descansar. Tenho contrato com a Confederação ainda. Vou ver o que vou fazer pela frente ainda, mas agora não quero tomar nenhuma decisão no calor do momento. Quero analisar as coisas com carinho para poder tomar a decisão para minha vida", disse. 

No momento, o que o nobre guerreiro quer é descansar sua alma leve. "Eu estou zumbi desde que ganhei essa medalha. Não consegui dormir direito. É muita coisa para fazer, atendimentos, mensagens, mas estou muito feliz, mesmo sem dormir, por estar acontecendo tudo isso na minha vida. Agora vou ver se consigo descansar. Estou com muita saudade de comer o meu feijão com a minha farinha. Não sei como está minha agenda ainda, mas quero desfrutar desse momento que estou vivendo", disse. E do aeroporto seguiu para comer o caruru preparado pela família para recebê-lo.