Aos 85 anos, morre Iracy Lordelo, voluntária mais antiga das Obras Sociais Irmã Dulce 

Fiel escudeira de Irmã Dulce, Iracy morreu vítima de câncer

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  • Jorge Gauthier

Publicado em 1 de dezembro de 2017 às 08:59

- Atualizado há um ano

. Crédito: Andreia Farias/arquivo correio

No lugar que foi sua morada e acolhida nas últimas décadas, os olhos verdes de Iracy Vaz Lordello, 85 anos, se fecharam na manhã desta sexta-feira (1º). Voluntária mais antiga das Obras Sociais Irmã Dulce (Osid), faleceu às 4h em função de complicações de um câncer que lhe acometeu nos últimos 2 meses nas Osid.

Dona de uma voz mansa e firme, ela foi fiel escudeira da freira conhecida como o Anjo Bom da Bahia por ter erguido  – apenas com doações – a maior rede de atendimento totalmente pública do Brasil em atividade.

O corpo de Iraci será velado a partir das 10h na sede do Santuário da Bem-Aventurada Dulce dos Pobres, no Largo de Roma. Às 12h, será celebrada uma missa de corpo presente. Em seguida, o corpo será levado para a capela 6 no Cemitério Campo Santo onde ficará até às 16h quando será enterrado. 

“‘Era uma santa’, costumava dizer dona Iraci sobre Irmã Dulce

Iraci trabalhou como voluntária nas Osid por décadas, diariamente, sem ganhar nenhum centavo. Seu apoio e acolhimento eram marcas registradas. Após a morte de Irmã Dulce, com quem ela conviveu nos primeiros momentos de construção das Osid, ela continuou seu voluntariado.  Em função da morte da voluntária, o lançamento do aplicativo das Osid, que aconteceria hoje, foi cancelado. 

Em nota, as Osid lamentaram o falecimento da voluntária. "Iracy foi discípula, além de testemunha viva e fiel, do legado de amor e serviço da Mãe dos Pobres. Irá, como era carinhosamente conhecida, faleceu na madrugada de hoje (1° de dezembro), aos 85 anos, na sede das Obras Sociais", afirmou a instituição. 

Nascida no município de São Félix, Iracy deixou o Recôncavo baiano para estudar em Salvador, construindo, ao longo dos anos, uma incansável rotina em favor do pobre, do doente, do mais necessitado. Para Irá, não existia fim de semana ou feriado. Todos os dias ela percorria as enfermarias do Hospital Santo Antônio visitando os pacientes, levando conforto e esperança aos acolhidos de Dulce.

"Também cuidava pessoalmente do café dos médicos e ajudava os mais necessitados que chegavam até a instituição. Com tantos anos de dedicação, Iracy era uma apaixonada pelas Obras, revelando, através de gestos concretos, o amor em sua plenitude", destacou as Osid em nota. “A Osid é um pedaço da minha vida e por isso não posso deixar isso aqui. A gente está nesse mundo para servir e a melhor coisa que a gente pode dar às pessoas é o amor”, declarava Irá.Iracy era o símbolo da obra de Irmã Dulce  Em 2011, para produzir uma série de reportagens sobre Irmã Dulce por conta de sua beatificação, convivi bastante com dona Iraci. Sua sabedoria, calma e sensibilidade saltavam aos olhos de quem passava pelas Osid. 

Meu primeiro contato com ela foi quando eu ainda estava na faculdade. Fui pego pelo braço - literalmente - na primeira visita às Osid. Acompanhado por colegas de faculdade,fui abordado por dona Iraci. ‘E aí jovem, tudo bem? Você nunca veio aqui, né? Mas a gente precisa tanto de ajuda. Venha mais!'. Irá era fiel escudeira de Irmã Dulce Foto: Divulgação/Osid O momento marcante foi o primeiro passo do que se tornou uma convivência intensa de quase seis anos nas Osid. O empurrãozinho de dona Iraci me aproximou das ações sociais do Anjo Bom da Bahia. Um dos resultados foi livro Irmã Dulce: Os Milagres Pela Fé (99 páginas), que foi lançado na versão digital pelo selo Correio Cultura em 2014.

Ao longo desses anos, o abraço acolhedor de dona Iraci foi reconfortante. Sempre que chegava nas Osid fazia questão de abraçá-la. Ela, que sempre andava corrida de um lado para outro, fazia questão de perguntar se eu tinha comido, se estava tudo bem, como estava minha família e me mandava sorrir. 

No nosso último encontro, pouco antes dela descobrir o diagnóstico, ela brincou: "No dia que eu morrer não venha no meu enterro. Você é muito feliz para ficar chorando em enterro. Estarei bem ao lado de Irmã Dulce". Essa era dona Iraci. Sempre abria mão pelo bem do outro. Sempre tinha acolhimento na voz, no corpo e no coração.