Aplicativo monitora doença do trigo em todo o mundo

Sistema foi desenvolvido conjuntamente por pesquisadores do Brasil e dos Estados Unidos

  • Foto do(a) author(a) Georgina Maynart
  • Georgina Maynart

Publicado em 3 de outubro de 2018 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: .

Um aplicativo vai ajudar pesquisadores e produtores rurais a monitorar as lavouras de trigo que apresentem sinais de brusone, uma das principais doenças que atacam a cultura e atinge a maioria das variedades cultivadas no mundo. O aplicativo foi desenvolvido por pesquisadores da Embrapa, da Universidade de Passo Fundo, no Rio Grande do Sul, e da Universidade do Kansas, nos Estados Unidos.

O Pic-a-Wheat-Field  – “fotografe um campo de trigo”, em inglês – poderá ser acessado pelo telefone celular. Ele permite vigiar as lavouras e formar um banco de dados sobre epidemias de brusone em qualquer lugar do planeta. O acesso é simples, basta baixar o aplicativo no smartfone (iOS e Android) e cadastrar um usuário. Para que a nova tecnologia funcione com eficiência, o aplicativo será interligado ao Sisalert, sistema de vigilância desenvolvido pela Embrapa que analisa dados climáticos e os riscos de epidemias nas lavouras.

Como funciona

Primeiro o usuário liga o GPS do celular. Ao fotografar, as coordenadas geográficas vão ser extraídas das fotos e identificadas no mapa que localizará a área no globo terrestre. Daí, o banco de dados verifica a existência de uma estação meteorológica no raio de 100km do local da foto. Os dados são transmitidos automaticamente. Caso tenha sido identificado um campo de trigo contaminado, a tecnologia avalia a adequação do clima para a proliferação da doença.

“Os dados coletados no sistema deverão servir para o ajuste dos modelos de simulação da ocorrência da brusone no trigo baseados em dados meteorológicos”, explica o pesquisador José Maurício Fernandes, da Embrapa Trigo.

O produtor rural pode acompanhar também o quadro geral de propagação da doença em outros lugares. Usando a senha e o login do aplicativo, ele tem acesso um portal onde é possível visualizar o mapa com a distribuição de lavouras contaminadas.

“O mapa de distribuição da brusone facilitará a adoção de medidas de controle na eminência de surgimento de uma epidemia ou mesmo a total ausência da doença”, avalia o pesquisador.

Orientação

O sistema permite avaliar a dispersão e a agressividade da doença a cada safra de trigo, e alertar o produtor por meio de mensagens sobre o risco de epidemias que possam ocorrer num período de sete dias depois de registrada a foto.

Daqui a alguns meses, a mensagem também informará o melhor momento de aplicação de fungicidas. “No momento é possível somente cadastrar o usuário e enviar fotos para localizar a incidência da brusone, mas o aplicativo deverá estar completo até o fim deste ano”, completa o pesquisador Willingthon Pavan, da Universidade de Passo Fundo.

A pesquisa foi financiada pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) e coordenado pela pesquisadora Bárbara Valent, da Universidade do Kansas. “O projeto tem como objetivos gerar novas soluções em monitoramento e biotecnologia para combater a brusone, com ações que buscam desenvolver germoplasma resistente, criar sistemas de alerta de epidemias em tempo real e difundir estratégias de manejo no uso de fungicidas para controle de pragas”, explica Valent, que coordena um grupo de pesquisadores do Brasil, Bolívia, Paraguai, México e Bangladesh.

A Doença

A brusone é causada pelo Magnaporthe oryzae, um fungo que ataca a planta, deforma os grãos e deixa o trigo mais leve, reduzindo o rendimento da lavoura. Até 2015, havia relatos da doença apenas em algumas áreas tropicais, como Brasil, Bolívia e Paraguai. Mas em 2016, um fato chamou a atenção para o risco de uma epidemia mundial da doença. Um novo foco foi registrado em lavouras de Bangladesh, na Ásia, continente que mais consome cereais.

O clima não favorece a sobrevivência do fungo em países de clima temperado, mas os maiores centros de pesquisa do hemisfério norte estão em alerta porque a doença pode comprometer a segurança alimentar, principalmente nos países pobres da Ásia e da África.  E tem mais um detalhe crucial: até agora, a maioria dos fungicidas usados para combater a doença não se mostrou eficaz.

Produção brasileira

Dados da Associação Brasileira das Indústrias de Trigo – Abitrigo – indicam que a demanda interna é de 11 milhões de toneladas do cereal.

Mas segundo dados da Sociedade Nacional da Agricultura – SNA –, atualmente o Brasil produz quase cinco milhões de toneladas e importa sete milhões para atender o consumo interno. A maior parte do trigo vem da Argentina, que fornece mais de 80% do volume importado pelo Brasil. A outra parte é comprada do Paraguai, Estados Unidos, Canadá e Uruguai.

Entre os principais problemas enfrentados para aumentar a produção interna estão os altos custos de produção, a falta de incentivo governamental, as oscilações do preço no mercado internacional, o custo do frete e os acordos mantido através do Mercosul, que favorecem a produção dos países vizinhos.

No Brasil os maiores produtores são o Rio Grande do Sul e o Paraná, responsáveis por 90% da safra nacional. Os estados do Centro-Oeste do Brasil e da região do Matopiba - Maranhão, Tocantins, Piauí e Oeste da Bahia - respondem pelo restante da produção. Este ano, com as lavouras de trigo da região Sul afetadas por geadas, as projeções indicam que o Brasil terá que importar ainda mais trigo do que no ano passado.