Após a tempestade

Linha Fina Lorem ipsum dolor sit amet consectetur adipisicing elit. Dolorum ipsa voluptatum enim voluptatem dignissimos.

  • Foto do(a) author(a) Editorial
  • Editorial

Publicado em 20 de janeiro de 2019 às 05:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: .

Durante quase dez anos, Salvador enfrentou um gradual processo de decadência, com reflexos negativos nas mais diversas áreas. Nenhuma delas sofreu tanto com essa longa travessia do deserto quanto o turismo. Astro da economia soteropolitana nos anos 1990, resultado de grandes investimentos governamentais e do reposicionamento da imagem da capital baiana em escalas nacional e internacional, o setor  perdeu, pouco a pouco, espaço na preferência dos turistas. A alta temporada atual, no entanto, deu sinais evidentes de que a tempestade fugiu do horizonte da cidade.

Desde dezembro, o fluxo estimado para Salvador neste Verão  é de 3,7 milhões de visitantes, movimento 8% maior que o período passado, de acordo com dados da prefeitura. Pela primeira vez em seis anos, a capital atingiu o número de 2,8 milhões de leitos ocupados. Crescimento na quantidade de voos extras e índice de hotelaria na marca dos 90% nos principais empreendimentos este mês confirmam também  a tendência de reversão da trajetória descencente no setor.

Para além dos números, basta abrir os olhos para perceber que, sim, Salvador está mais cheia que nos anos anteriores. Em comparação com a temporada do início da atual década, então, a distância é ainda maior.  Por efeito direto, o aumento da movimentação turística beneficia todos os demais segmentos do setor, de bares e restaurante à cadeia do entretenimento, ajudando a segurar e até ampliar a oferta de trabalho e a geração de renda num momento em que os níveis de desemprego continuam fortes.

Grande parte do que parece ser o novo boom do turismo na cidade possui origem no plano de requalificação da capital iniciado nos primeiros anos da atual administração municipal. As obras de modernização da orla, as reformas de pontos turísticos em situação de quase abandono e o retorno dos investimentos na promoção de Salvador para o público externo, sem dúvida, têm papel importante nesse processo.

No período mais recente, um dos exemplos de projetos pensados para alavancar o setor é a revitalização do  Centro Histórico, em especial, o entorno da Rua Chile e da Praça Castro Alves. Tanto que atraiu dois grandes empreendimentos - Fera Palace e Hotel Fasano -, em um movimento que sinaliza para consolidação de um polo de hotelaria de luxo na área, com o necessário reaproveitamento de imóveis antigos subutilizados ou esquecidos.

Entretanto, o passo fundamental para a escalada ascendente do turismo na capital foi dado pelo calendário de eventos de relevo. Três deles merecem destaque. Os festivais da Cidade e da Primavera, realizados, respectivamente, no fim de março e no início de setembro, se tornam fonte importante de atração turística justamente porque ocorrem numa época em que o fluxo costuma ser baixo.

Nos últimos anos, outro festival, o da Virada, impulsionou ainda mais o setor. A grade de atrações estreladas que se apresentaram no período do Réveillon fez dezenas de milhares de pessoas optarem pela capital baiana, em detrimento de cidades com Ano-Novo até então tidos como os mais badalados do país, especialmente o Rio de Janeiro e destinos litorâneos do Ceará e de Pernambuco.

É inegável o papel do megaevento de Réveillon para o aumento gradativo no número de visitantes durante as altas temporadas em Salvador, especialmente, a atual, assim como também são instrumentos importantes de atração turística as festas populares, sem contar, é claro, o cobiçado Carnaval. A Lavagem do Bonfim, realizada na última quinta-feira, teve um movimento nunca visto na história recente da cidade.

Foi comum ouvir participantes declararem não se recordar de terem visto o trajeto de oito quilômetros tão apinhado de gente, como se pode constatar na imagem estampada anteontem na capa do CORREIO, captada pela lente do fotógrafo Betto Jr. A expectativa é que o mesmo fenômeno numérico se repita em 2 de fevereiro, nas festividades do Rio Vermleho em homenagem a Iemanjá.

O coroamento da reoxigenação turística se deu com a inclusão de Salvador na lista das 52 cidades que merecem ser visitadas em 2019, elaborada pelo influente jornal americano The New York Times. O desafio, agora, será consolidar o trabalho realizado a partir de 2013, para evitar a reprise do que ocorreu na década anterior.

Ao mesmo tempo, será necessário investir pesado para revigorar o turismo de negócio e eventos, que só não se esfacelou por completo devido a iniciativas tocadas pelo empresariado e apoiadas pelo poder público municipal. Nesse compasso, o novo Centro de Convenções, provavelmente, fará de 2020 um ano bem melhor que o atual para a cidade.