Após pressão de patrocinadores, Minas afasta Maurício Souza por homofobia

Empresas haviam cobrado 'medidas cabíveis' por crítica de jogador por bissexualidade do Superman; entenda

Publicado em 26 de outubro de 2021 às 18:45

- Atualizado há 10 meses

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O Minas Tênis Clube afastou o central Maurício Souza do elenco masculino de vôlei, após o jogador publicar mensagens com teor homofóbico nas redes sociais. O jogador terá de se retratar e será multado pelo clube.

A decisão foi tomada em reunião nesta terça-feira (26), após os principais patrocinadores cobrarem uma posição do clube. A informação é do ge. Segundo o portal, o Minas entendia que não havia clima para Maurício atuar nos próximos jogos e chegou a cogitar a possibilidade de rescindir o contrato de atleta.

Porém, as partes chegaram a um acordo, e Maurício e mostrou disposto a se retratar. Só depois, ele poderá se juntar novamente ao elenco.

A postagem polêmica do jogador aconteceu no dia 12 de outubro. Nela, Maurício criticava o anúncio DC Comics de que o novo Superman, Jon Kent, é bissexual. "Ah, é só um desenho, não é nada demais. Vai nessa que vai ver onde vamos parar", ironizou, com a imagem divulgada pela editora norte-americana do herói beijando um rapaz.

O atleta ainda reclamou da decisão da TV Globo de usar pronome neutro nas novelas, em respeito a pessoas que preferem não se identificar a um gênero específico.

Nesta terça-feira (26), os principais patrocinadores da equipe de vôlei masculino do Minas se manifestaram, e pediram ao clube “medidas cabíveis”, tendo em vista que Maurício realizou um discurso de ódio.  

"A empresa pauta suas ações e relacionamentos com base em valores que considera inegociáveis, como o respeito a diversidade e inclusão. Assim, a Fiat repudia qualquer tipo de declaração que promova ódio, exclusão, ou diminuição da pessoa humana e espera que a instituição tome as medidas cabíveis e necessárias no espaço mais curto de tempo possível", disse a montadora Fiat.

Já a produtora de aço Gerdau afirmou que "pediu posição oficial do clube sobre as tratativas necessárias ao caso para adotar as medidas cabíveis, o mais rápido possível".

"A Gerdau repudia qualquer tipo de manifestação de cunho preconceituoso ou homofóbico e já solicitou a posição oficial do clube sobre as tratativas necessárias ao caso para adotar as medidas cabíveis, o mais breve possível. Reforçamos nosso compromisso com a diversidade e inclusão, um valor inegociável para a companhia".

Na resposta inicial do Minas, emitido na segunda-feira (25), o clube disse que a opinião do central não representava o time, mas não elucidou se ele iria receber qualquer tipo de punição. “O Minas Tênis Clube pondera que já conversou com o atleta e tem orientado internamente sobre o assunto”, informava a nota.  

Mas, segundo o UOL, o comunicado causou mal-estar interno dentro do clube, que tem grande presença de pessoas LGBTQIA+ em sua base de fãs. A discussão interna era se a postagem de Maurício feria a legislação contra homofobia ou se encaixava no direito à liberdade de expressão. Porém, na reunião desta terça, prevaleceu o entendimento de que o jogador ultrapassou o limite.

Por outro lado, o portal informou que William Arjona, levantador e capitão do time, apresentou uma carta à diretoria do clube, em defesa à "liberdade de expressão" do central, e que, caso ele fosse demitido, todos também sairiam da equipe. O documento teria sido assinado por todo o elenco.

Contudo, o líbero Maíque, que é gay, negou ter participado da tal carta. O atleta se posicionou de maneira mais firme contra as declarações de Maurício.

"Calma gente. Eu não assinei nada! E isso não me inclui. E continuo lutando pelos meus direitos e de nossa comunidade e de todo e qualquer tipo de preconceito. Isso que estão espalhando de eu apoiar algo é fake", disse Maique.

"E claro tem coisas que não compactuo e não aceito. E isso quem deve resolver é clube e não diz respeito a mim! E já deixei claro minha posição sobre. Agora eles que se entendam", completou o jogador.

Jogadores da seleção agradecem

Primeiro jogador da seleção masculina a falar abertamente que é gay, Douglas Souza agradeceu à montadora Fiat pelo posicionamento. "Obrigado por entender que homofobia não é liberdade de expressão ou opinião. Esperamos mais novidades", postou, no Twitter.

Em seguida, o ponteiro do Vibo Valentia e companheiro de Maurício Souza na seleção brasileira reforçou o agradecimento nos Stories do Instagram.

"Meu muito obrigado a Fiat não só por ter se posicionado, mas também por cobrar a atitude do clube. Isso é muito importante para a gente. Por mais marcas e empresas desse jeito. Não dá em pleno 2021 as pessoas acharem que liberdade de expressão é ser homofóbico. A gente espera atitudes e estamos no aguardo. Homofobia é crime, não é opinião", falou.

Logo depois, central Carol Gattaz, que também atua no Minas Tênis Clube e é um dos símbolos da causa LGBTQIA+ no esporte, usou o Instagram para se manifestar. 

"Homofobia é crime. Racismo é crime. Respeito é OBRIGATÓRIO. Está na lei, garantido pela constituição. Já toleramos desrespeito, gracinhas e preconceitos disfarçados de opinião por muito tempo. CHEGA", postou.

Vale lembrar que Douglas já mandado uma indireta para Maurício Souza após a postagem sobre o Superman ser bissexual. O ponteiro celebrou a novidade da DC Comics, e deu início a uma troca de farpas.

"Engraçado que eu não 'virei heterossexual' vendo os super-heróis homens beijando mulheres. Se uma imagem como essa te preocupa, sinto muito, mas eu tenho uma novidade para sua heterossexualidade frágil. Vai ter beijo sim. Obrigado DC por pensar em representar todos nós e não só uma parte", escreveu Douglas.

A publicação de Douglas ganhou apoio de colegas como a própria Carol Gattaz, além de Sheilla Castro, Fabi Alvim, Erika Coimbra, Gabi Guimarães e Suelle Oliveira.

Em "resposta", Maurício fez uma postagem enigmática em seu perfil no Instagram. "Para cima de mim não! Aqui é frágil igual esticador de canto de cerca!", escreveu ele em uma foto com a frase: "Hoje em dia o certo é errado e o errado é certo. Não se depender de mim. Se tem que escolher um lado, eu fico do lado que eu acho certo. Fico com minhas crenças, valores e ideais".