Após quase 50 anos, Igreja do Bonfim decide voltar a abrir durante o Carnaval

Outros templos religiosos também abrirão as portas para baianos e turistas

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  • Gabriel Moura

Publicado em 27 de fevereiro de 2019 às 05:19

- Atualizado há um ano

. Crédito: Evandro Veiga/CORREIO

Depois de quase meio sécula, a Igreja do Senhor do Bonfim abrirá as portas durante o Carnaval. Além dela, outros templos católicos decidiram funcionar normalmente para receber baianos e turistas. Juiz da Devoção do Senhor Bom Jesus do Bonfim, Francisco José Pitanga Bastos conta que, pelo menos desde a década de 80, o feito não acontece.

"A partir do momento que o Carnaval se popularizou aqui em Salvador, nos anos 60, 70, decidimos fechar a igreja na segunda e na terça, pois não havia demanda. A Igreja do Bonfim é a única da Bahia que nunca fecha, só fechava para o Carnaval, e agora ela estará aberta todos os dias do ano", conta.

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No período de festas, o horário de funcionamento da basílica será de segunda a quinta-feira das 6h30 às 19h30; sexta das 5h30 às 19h30; sábado das 6h30 às 19h30 e domingo das 5h30 às 19h30. As missas ocorrerão em diversos horários ao longo do dia.“A nossa intenção é sempre manter a igreja aberta e também atender a demanda do povo e dos nossos seguidores. Fomos percebendo com os passar dos anos que, mesmo com o local fechado, muitos turistas iam lá. Muitos fiéis também desejavam rezar e encontravam ela fechada. Por isso decidimos abri-la neste Carnaval”, explica o Padre Edson Menezes, reitor da Basílica. Abrir as portas da igreja durante a folia não é a única ação que a administração da Igreja do Senhor do Bonfim tem feito para atrair mais turistas no Verão. Desde outubro, o horário de funcionamento da basílica aumentou em uma hora, fechando às 19h30, ao invés do tradicional horário de 18h30.

“É a chamada alta estação. O comércio, tudo funciona de modo que possa atender à população, de acordo com a demanda, a procura. A igreja também tem que atender e corresponder o seu público da mesma maneira”, conta o padre Edson. 

Mesmo ocorrendo neste período de festas, as missas realizadas não terão uma temática especial. Mas o padre garante: “vamos rezar para que o carnaval de todos seja ótimo”.

Outras igrejas As únicas igrejas católicas que estarão fechadas no período de festa são as que ficam nos circuitos do Carnaval (Dodô, Osmar e Batatinha). Entre as que estarão fechadas, está a Catedral Basílica de Salvador, que foi reformada no fim do ano passado, numa obra que custou cerca de R$ 17 milhões. O local só será reaberto na quarta-feira de cinzas (6), para a realização da missa que celebra o início da quaresma, com a presença do arcebispo de Salvador e primaz do Brasil, Dom Murilo Krieger. 

O Carnaval é celebrado sempre 40 dias antes da Páscoa, desde o século XI. Este período é chamado pela igreja católica de "quaresma" e exige que os fiéis façam um sacrifício e fiquem 40 dias sem comer carne vermelha.

A abertura das igrejas anima a alguns católicos, como o empresário Jackson Palma, 28. No ano passado, ele conta que foi a todos os dias da folia momesca e, logo após, procurou o padre da sua paróquia para se confessar e pedir perdão pelos pecados cometidos.“Eu vou para o Carnaval buscando diversão. E, assim como em qualquer outra festa, a gente sempre se excede um pouco nos prazeres. No ano passado, eu bebi demais, fiz besteira e depois tive que pedir perdão à Deus. Então é, sim, uma boa notícia as igrejas abrirem durante este período”, opina Jackson.Do sagrado ao profano Apesar de nem de longe parecer uma festa religiosa, o Carnaval começou como uma celebração católica. Os cristãos se reuniam nos dias anteriores ao início da quaresma para se divertir e aproveitar os momentos antes do jejum. Entretanto, com o passar dos anos e com o rumo que a celebração levou, nem a igreja considera mais este feriado como religioso.“Hoje não podemos mais considerar o Carnaval como uma festa religiosa, propriamente dita, mas sim como uma grande celebração popular. Uma festa que traz alegria, mas que também pode trazer prejuízos”, conta o bispo auxiliar da Arquidiocese de Salvador, Dom Estevam dos Santos Silva Filho.Para ele, embora os festejos carnavalescos possam desvirtuar o sagrado, é possível curtir a folia sem ferir os princípios católicos.

“Desvirtua quando usa das pessoas para explorar o sexo, a sexualidade precoce, a falta de respeito à dignidade humana, quando as pessoas se vendem. Mas tem muita beleza também no Carnaval, como, por exemplo, a alegria da família”, defende.

* Com supervisão da subeditora Fernanda Varela