Após sucesso de Café com Canela, Ilha é promessa no Festival de Brasília

Filme estrelado por Aldri Anunciação e Renan Motta é única produção baiana na competitiva nacional

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  • Da Redação

Publicado em 19 de setembro de 2018 às 05:51

- Atualizado há um ano

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Emerson, um jovem da periferia, quer fazer um filme sobre a sua história na Ilha, lugar onde quem nasce nunca consegue sair. Para isso, sequestra Henrique, um premiado cineasta. Esse é o mote de Ilha, única produção baiana na competitiva nacional do Festival de Brasília - que acontece até domingo na capital federal.

Estrelado por Aldri Anunciação e por Renan Motta, o filme é dos mesmos diretores de Café com Canela, produção que ano passado foi eleito o melhor longa-metragem pelo júri popular no mesmo festival e ainda conquistou as categorias de melhor roteiro, melhor atriz e o Prêmio Petrobras de Circulação.  Aldri Anunciação e Renan Motta interpretam um cineasta e um jovem que deseja fazer um filme em Ilha (Foto: Divulgação) Mas quem se emocionou com o afetivo reencontro entre a professora Margarida (Valdinéia Soriano) e a ex-aluna Violeta (Aline Brunne) e com a solidariedade feminina que permeia Café com Canela, deve se surpreender com os temas abordados em Ilha, onde há certa brutalidade, tensão e protagonismo masculino.

Café com Canela vem sendo exibido em circuito comercial há um mês. Já Ilha será visto pela primeira vez pelo grande público hoje. “Quisemos fazer uma coisa diferente. Ilha nasce de uma outra vontade, de falar sobre o cinema e de quem está fora disso, desse lugar mítico”, sintetiza Ary Rosa, deixando evidente o tom metalinguístico da produção.

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Em alguma medida, a preocupação já aparecia no longa de estreia da dupla, cujo sucesso no festival deu um combustível a mais para Ilha. “Estar em Brasília com Café era uma possibilidade de reconhecimento e, por estar em processo de outro filme, uma possibilidade também de segurança e de generosidade com a equipe. A gravação do Ilha ficou contagiada por esse espírito de muita celebração e certeza de que caminhamos juntos em uma direção e sendo vistos”, afirma Glenda Nicácio. Ary Rosa e Glenda Nicácio dirigem o filme  (Foto: Liz Riscado/Divulgação) Formados em cinema pela Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), os diretores continuam a levantar a bandeira da produção cinematográfica fora dos grandes centros urbanos e a falar de temas universais como afeto, encontro e dores.

Cruzamentos Ilha estava sendo gravado na Ilha Grande de Camamu em setembro do ano passado, e a equipe - parte dela presente no filme anterior - esperou no set de filmagem o retorno dos diretores que estavam em Brasília participando do festival para concluir as gravações.

Aldri Anunciação é um desses nomes que aparece nas duas produções. Em Café com Canela, ele viveu Paulo, marido de Margarida, que se faz presente mais pela voz que pelo corpo em cena. Agora, em Ilha, ele dá vida a um dos protagonistas, o cineasta Henrique. Foi o forte envolvimento que ele construiu com o primeiro personagem, que nem tinha uma centralidade na trama, que fez a equipe convidá-lo para o novo filme. Valdineia Soriano, que ganhou o prêmio de melhor atriz por Café com Canela, volta a trabalhar com a equipe em Ilha (Foto: Divulgação) “A gente fica receoso em oferecer um papel que não é grande para um profissional que a gente reconhece, que é uma grande potência. Aldri é muito sério, muito profissional. E aí, quando pensamos em outro trabalho, vimos com muita tranquilidade que era ele o personagem do Henrique”, conta Ary Rosa.

Valdinéia Soriano volta em Ilha, que traz ainda outros cinco atores do Bando de Teatro Olodum, incluindo Renan Motta, que dá vida a Emerson, o outro protagonista. “Em Café nos debruçamos sobre um casting. Esse é um filme com poucos personagens e a maior parte dos atores são do Bando de Teatro Olodum, que é um grupo que reúne grandes artistas que respeitamos para caramba”, explica Rosa.Festival Ilha é forte candidato a conquistar alguma das premiações do evento e concorre junto a outros oito longas ao Troféu Candango (veja lista abaixo). A possibilidade, no entanto, não é motivo de ansiedade para os dois. “Não nutrimos essa expectativa de vencer. Para gente, o bom é poder passar o filme de novo. Estamos no jogo! O filme só começa quando o espectador assiste”, pondera Rosa. A curadoria do festival priorizou filmes que lidam de alguma forma com questões políticas e sociais do Brasil e do mundo e que tem capacidade de gerar uma discussão que ultrapasse a sala de cinema.

“Filmes que, de uma maneira ou de outra, estão interessados em pensar o que é o cinema, como ele se incorpora às demandas da sociedade e de que maneira o cinema está vivo hoje. Isso está presente na produção brasileira desde sempre em algum grau, mas é a marca do Festival de Brasília”, afirma Eduardo Valente, diretor artístico do Festival.

A baiana Gabriela Amaral Almeida também emplacou seu novo longa na competição, A Sombra do Pai. Produzido em São Paulo, onde ela reside atualmente, o filme trata da dificuldade de comunicação entre um pai e sua filha de nove anos, com pitadas de suspense e horror.

Completando o time baiano de longas, Orin – Música para os Orixás, de Henrique Duarte, será exibido na mostra paralela A Arte da Vida, dedicado a filmes que refletem processos criativos que se entrelaçam à vida dos seus personagens. O documentário trata sobre a influência das músicas tocadas nas festas e rituais de candomblé na formação da música popular brasileira. 

Dentro do Festival de Brasília, acontece também o Festival Universitário (FestUni), que exibe curtas de jovens realizadores estudantes de faculdades de cinema do Brasil. Há três representantes baianos na mostra este ano: Barco – Do Outro Lado da Memória, de Maurício Ricardo (UFBA); Sair do Armário, de Marina Pontes (UFRB); e Mãe?, de Antônio Victor (UFRB).

Confira os filmes selecionados:

Longas documentário

Torre Das Donzelas, Susanna Lira (RJ),

Bixa Travesty, Claudia Priscilla e Kiko Goifman (SP);

Bloqueio, de Quentin Delaroche e Victória Álvares (PE);

Longas ficção

Ilha, Ary Rosa e Glenda Nicácio (BA);

Los Silencios, Beatriz Seigner (SP/Colômbia/França);

Luna, Cris Azzi (MG);

“New Life S.A.”, André Carvalheira (DF)

A Sombra do Pai, Gabriela Amaral Almeida (SP);

Temporada, André Novais Oliveira (MG).

Curtas documentário

Liberdade, Pedro Nishi e Vinicius Silva (SP);

Sempre Verei Cores no seu Cinza, Anabela Roque (RJ)

Conte Isso Àqueles que Dizem que Fomos Derrotados, de Aiano Bemfica, Camila Bastos, Cristiano Araújo e Pedro Maia de Brito (PE)

Curtas ficção

Aulas que matei, Amanda Devulsky e Pedro B. Garcia (DF);

Boca de Loba,  Bárbara Cabeça (CE);

BR3,  Bruno Ribeiro (RJ);

Eu, Minha Mãe e Wallace,  Irmãos Carvalho (RJ);

Kairo,  Fabio Rodrigo (SP);

Mesmo com Tanta Agonia,  Alice Andrade Drummond (SP);

Plano Controle,  Juliana Antunes (MG);

Reforma, de Fábio Leal (PE).

Curta animação

Guaxuma,  Nara Normande (PE)