'Aqui na Sussuarana não tem só vagabundo', diz mãe de jovem morto pela polícia

Amigos e família do segurança Ícaro Silva França, 23 anos, fazem protesto em direção ao CAB 

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  • Da Redação

Publicado em 4 de março de 2018 às 10:06

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Giana Matiazzi/TV Bahia

Do fim de Linha da Sussuarana Nova até o Centro Administrativo, familiares e amigos relembraram a morte do segurança Ícaro Dias, 23, e pediram justiça para aquilo que, desabafa a mãe do jovem, "é uma realidade na periferia". O filho da secretaria de um hospital de Salvador foi atingido na cabeça, no dia 17 de fevereiro, no bairro onde morava desde a infância.

Amparada pela amiga Sueli, Belisa Machado Silva, 42, emocionou-se durante todo o percurso, encerrado em frente à Defensoria Pública, no CAB. Ela foi avisada da morte do mais velho, filho dela com o sargento da Rondesp Carlos Eduardo Lopes, pelo atual marido, que ouviu barulhos de disparos. "Eles [a polícia] já chegam dando tiro. Mataram meu filho pelas costas, não teve troca de tiros nenhuma. Ele era um menino ótimo, trabalhou como segurança no Carnaval", contou Belisa."Ele estava em uma moto e os policiais chegaram, pegaram ele de costas, e atiraram. É de costume eles entrarem no bairro atirando. Aqui na Sussuarana não tem só vagabundo. Tem gente de família e meu filho era tranquilo, muito querido e amado. A gente está aqui pedindo paz para a comunidade e para que isso não aconteça com outras famílias", disse a mãe do jovem. Segundo ela, cerca de 250 pessoas participaram do ato. A família de Ícaro acusa três agentes da Polícia Militar como sendo os autores do disparo que o matou. Ele teria saído de um bar onde bebia com os amigos em direção à casa da namorada, quando, no retorno, recebeu o tiro na cabeça. Um amigo, que pilotava a moto, estava com Ícaro e chegou a ser atingidido de raspão na cabeça, mas passa bem. Por ser testemunha, ele nao foi à passeata. Ícaro trabalhava como segurança Foto: Fernanda Lima/CORREIO Do bar onde parte dos amigos ainda estava, Thais Contreiras, 32, ouviu os disparos. Segundo ela, "a polícia começou a disparar para cima para disfarçar. Fez uma cena para fingir que prestaram socorro". E, relata uma vizinha de Ícaro que prefere não ser identificada, "todas as quartas-feiras a polícia chega atirando em Sussuarana". "Não estamos com os olhos vendados, temos que abrir a boca e mostrar o que acontece em bairros como Sussuarana", afirma. Pedindo paz, os manifestantes soltaram balões brancos no fim da caminhada.  Foto: Fernanda Lima/CORREIO No último dia 19, dois dias após a morte de Ícaro, populares atearam fogo a um ônibus na mesma Avenida Ulysses Guimarães em protesto pela morte do jovem. O corpo dele foi sepultado naquele dia no Cemitério Quinta dos Lázaros.

Em nota, a Polícia Militar (PM) informou que o comando da 48ª CIPM, responsável pelo policiamento do local, instaurou um Inquérito para apurar o fato: "O procedimento está em curso coletando informações e provas sobre o fato. A apuração tem prazo de 40 dias, podendo ser prorrogada por mais 20 dias". ​ (Foto: Giana Matiazzi/TV Bahia)