Aqui se casa! Baianos casam mais, separam mais e têm menos filhos em 2016

Segundo dados do IBGE, maior alta foi em casamentos entre pessoas do mesmo sexo: 42%

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  • Da Redação

Publicado em 15 de novembro de 2017 às 06:30

- Atualizado há um ano

. Crédito: Affonso Photomaker/Divulgação

Casar é coisa de baiano. E quem diz  isso - e comprova, com números - é o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Na contramão do Brasil, a Bahia registrou crescimento dos casamentos entre 2015 e 2016. Se, de um modo geral, o brasileiro casou menos, o número de baianos que casou de ‘papel passado’ saltou de 60.039 em 2015 para 60.734 no ano passado, uma alta de 1,2%, de acordo com as Estatísticas do Registro Civil de 2016, divulgadas ontem.

A oficialização dos matrimônios cresceu tanto entre pessoas do mesmo sexo como entre noivos de sexos diferentes. Os dados se referem apenas aos casamentos registrados em cartórios civis. O casamento entre pessoas do mesmo sexo foi o que teve o maior aumento, e passou de 117 para 167. Essas 50 uniões a mais representam uma taxa de crescimento de 42,7%. Já entre pessoas de sexos diferentes, o crescimento foi de 1,1% e passou de 59.922 para 60.567 - 645 matrimônios a mais.

Embora tenha mais casais, a nova família baiana também tem menos filhos. De acordo com os dados divulgados ontem, 2016 teve a maior queda na taxa de natalidade desde 2006 - 8,8% a menos. Em 2015, nasceram 205.602 novos baianos. Já em 2016, os nascidos no estado caíram para 198.005. Dez anos antes tinham sido 217.123 nascimentos. Mas essa tendência é nacional: no Brasil, a queda foi de 5,1%, atribuída ao zika vírus, à microcefalia e à crise.

Ainda segundo os dados do IBGE, apesar de o número de nascimentos ter caído, cresceu a quantidade de bebês filhos de mães com 40 anos de idade ou mais. De 2006 para 2016, o aumento foi de 15,7%, passando de 4.543 nascimentos para 5.255. Em contrapartida, caiu 24,4% o número de bebês filhos de mães adolescentes.

Por amor e por direitos Para a autônoma Rafaela Rosa, 21 anos, e o professor de Matemática Jedson Matos, 26, já estava na hora de viveram juntos. “Chegou um momento que não dava mais para cada um ficar em seu canto. Além disso, nós dois somos de uma religião que não permite que o casal conviva junto sem o casamento perante os homens e perante Deus”, diz a noiva.

O casamento das psicólogas Rafaela Cabadas, 31, e Aline, 36, foi um jeito de formalizaram o relacionamento das duas e ainda garantir os direitos da união civil. “A gente quis muito mais oficializar por causa do medo de perder os direitos por conta do momento político que estamos vivendo. A gente fez uma cerimônia simples para formalizar”, conta Rafaela.

Elas já moravam juntas há quatro anos e fizeram uma cerimônia mais intimista para familiares e amigos. “Foi bem legal, porque a gente atingiu o objetivo, tanto para os casais homossexuais que foram, quanto familiares. Muita gente falou que estava feliz em nos ver juntas. O juiz quis tirar até uma selfie com a gente”, lembra. Roger e Welder oficializaram a união depois de dois anos juntos: ‘A gente decidiu fazer esse casamento por uma questão de reconhecimento’ (Foto: Acervo Pessoal) O casal Roger Alban, 28 anos, e Welder Cruz, 25 anos, já contribui para aumentar a lista de casórios este ano. A união de dois anos foi celebrada em setembro de 2017. “Quando percebemos, já estávamos morando juntos. A gente decidiu por fazer essa união, esse casamento, por uma questão de reconhecimento e afirmação. De mostrar para os amigos e família que a gente também pode e tem o direito de vivenciar isso”, afirma Roger.

Mais barato Apesar de casarem mais, os baianos vêm economizando na festa. O cerimonialista Rogério Condá conta que uma festa menor e mais intimista é o desejo atual de quem casa na Bahia. “Muitos casais deixam de casar na igreja, por exemplo, e preferem fazer a cerimônia em um local que possa reunir a recepção dos convidados com a bênção religiosa”, disse.

Mesmo assim, o número de casamentos somente na empresa de Condá aumentou 300% de 2015 para 2017: “Geralmente, eles procuram uma cerimônia para, no máximo, 200 pessoas e até R$ 25 mil”.

O economista Matheus Lacerda e a pedagoga Ludimila Lacerda estão entre os casais que oficializaram a união no ano passado. E eles gastaram menos ainda. Matheus conta que não queria comemoração, apenas o registro no cartório, mas a festa era um desejo da noiva.

“Nós fizemos uma comemoração para 100 pessoas, que acabou dando menos pessoas, no nosso prédio. Foi uma festa com o menor custo possível, mas foi bem legal e nós não gastamos nem R$ 10 mil”, conta.

Comportamento Para o presidente do Grupo Gay da Bahia (GGB), Marcelo Cerqueira, o aumento no número de casamentos representa uma mudança de comportamento. “São muitos anos em que os héteros se casam e constituem suas vidas dessa maneira, e agora isso está mudando. É muito interessante ver que agora os gays de alguma maneira é que simbolizam o amor romântico, do casamento”, opina.

Embora os casamentos entre pessoas de mesmo sexo tenham aumentado na Bahia, entre 2015 e 2016, eles ainda representam apenas 0,3% do total de uniões registradas no estado – participação abaixo da média nacional (0,5%) e apenas a 15ª mais alta entre os 27 estados. Santa Catarina (1,2%), Distrito Federal (0,7%) e São Paulo (0,7%) têm as maiores proporções.

Apesar de ser uma porcentagem pequena diante de todo o universo de casamentos, para Cerqueira, o crescimento também mostra que a sociedade está mudando. “Para um casal gay tomar a decisão de se unir, ele já tem uma rede social de apoio, de família, de trabalho, de bairro e comunidade. Então, isso reflete também que, mesmo com todos os problemas, a sociedade está mudando, no sentido de aceitar cada vez mais esse tipo de relacionamento”, observa.   Em todo o país, o movimento foi contrário e houve uma redução de 3,7% no total de casamentos registrados - 41.813 uniões oficiais a menos. Em 2015, foram 1.137.348, e em 2016, 1.095.535 matrimônios. Os estados que registraram maior queda no registro de casamento foram Piauí (-13,2%), Alagoas (-12,5%) e Paraíba (-11,3%). O Amapá teve o maior aumento, de 20%.