Arcos da Ladeira da Montanha começam a ser reformados

Obra vai durar 12 meses e vai restaurar a parte interna e externa das estruturas

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  • Gil Santos

Publicado em 12 de junho de 2019 às 20:13

- Atualizado há um ano

. Crédito: Betto Jr/CORREIO

O pequeno Tatá era um garoto no início dos anos 1950, mas não esquece as imagens das mulheres bem arrumadas e homens de terno e chapéu que frequentavam as sapatarias que ficavam nos arcos da Ladeira da Montanha, no Centro Histórico. O pai dele comandava uma marmoraria no local e era comum ver as pessoas se equilibrando para descer a rua de paralelepípedo.

“Isso faz muito tempo”, lembra Otacílio Natalino Pereira, hoje com 70 anos. Seu Tatá tem razão, e as marcas do tempo estão nas paredes, nas fachadas e nos assoalhos dos 17 arcos que sustentam a Ladeira da Montanha. Nesta quarta-feira (12), o prefeito ACM Neto assinou a ordem de serviço para iniciar as obras de requalificação dessas estruturas.

O projeto foi realizado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), em 2014, e seria executado pelo PAC Cidades Históricas, do governo federal, mas foi doado para a prefeitura, em 2015. Durante a mensagem na abertura dos trabalhos do Legislativo Municipal, em fevereiro deste ano, ACM Neto prometeu que iria tirar o projeto do papel e destacou a importância desta ação.

“A paisagem vai ser outra porque o local terá um aspecto mais bonito, mas sempre preservando o conteúdo histórico. Esse foi um projeto feito pelo Iphan e já foi construído com a preocupação em preservar a questão histórica. Quem passar pela Ladeira da Montanha ou observar da Baía de Todos os Santos vai ver um novo aspecto nos arcos”, afirmou.

O investimento é de R$ 3,5 milhões, com recursos da prefeitura, e as obras serão executadas em 12 meses pela empresa RC Restaurações e Construções Eireli. As intervenções serão feitas na fachada e no interior das estruturas.  ACM Neto assino ordem de serviço (Foto: Betto JR/CORREIO) Mais negócios

Segundo o vice-prefeito e secretário de Infraestrutura e Obras Públicas (Seinfra), Bruno Reis, o projeto vai aproveitar melhor os espaços dos 17 arcos e revitalizar o local, o que deve ajudar a impulsionar os negócios e o turismo na região.

“A obra será executada em duas etapas, vamos iniciar pela parte de baixo abrindo novos ambientes de trabalho, e à medida que formos avançando, vamos transferindo essas pessoas para a parte de baixo, por isso, ela tem 1 ano de duração. Será um local lindo para quem trabalha na região e também será um dos pontos de maior visitação em nossa cidade”, disse.

Em nota, o Iphan informou que essa é a primeira grande intervenção realizada nos arcos e que o projeto foi discutido com os moradores e artífices, em negociação mediada pela Defensoria Pública da União, o que levou à adequação para execução da obra em duas etapas, permitindo a permanência da população na região. A solução sugerida pela própria comunidade.

“O projeto consiste em obra completa dos Arcos da Montanha, incluindo requalificação da infraestrutura interna e restauração das fachadas e da estrutura dos arcos em si. Entre as melhorias estão a implantação de sanitários, pisos e demais elementos, permitindo a continuidade e melhoria dos usos comerciais na região”, diz a nota.

O projeto original prevê que os imóveis ganhem mezaninos, cozinhas, escadas, áreas comerciais e industriais. Quatro dos arcos foram descaracterizados e vão ganhar intervenções mais radicais: sacadas e varandas. Dos 17 arcos existentes, dois são fechados e nunca foram ocupados. A estrutura deve ser recuperada, especialmente com sustentação e conserto de eventuais rachaduras e fissuras.

Já os outros 15 arcos terão toda a parte elétrica, hidráulica e sanitária reformada (só para dar uma ideia, hoje, a maioria dos arcos tem instalações improvisadas, feitas pelos próprios ocupantes). A ideia é criar melhores condições de habitabilidade e salubridade nos espaços internos.

Na prática, a reforma será completa, desde o piso até o teto. Enquanto o prefeito explicava os detalhes do projeto, seu Tatá observava o vai e vem. “Na época, a gente tinha mais clientes e o movimento era maior porque tinha vário tipos de negócios na Ladeira. A gente espera é a reforma ajude também nesse sentido. Os guias turísticos sempre passam com os grupos por aqui. Agora, terão um motivo a mais”, diz. Alguns arcos ganharão sacadas e varandas (Foto: Betto JR/CORREIO) Arcos da Montanha As obras de recuperação dos Arcos da Ladeira da Montanha serão divididas em duas etapas, para não prejudicar o dia a dia dos artífices. Esse é o ponto que mais preocupa o comerciante Evandro Barreto, 53, que há 30 anos trabalha na região. O dinheiro que ele ganha é a principal fonte de renda da família de três filhos, três netos e da esposa.

“A primeira ideia era retirar a gente do local para fazer a reforma, mas a gente ficou com medo de não poder voltar. Vamos ficar em uma estrutura e vamos voltar à medida que as reformas forem sendo concluídas. A gente estava precisando dessa atenção. Espero que a obra fique boa”, contou.

O prefeito também falou sobre os boatos de que os trabalhadores perderiam os pontos de comércio depois da reforma. Ele classificou os comentários como ações de “aves de mau agouro”, e garantiu que isso não vai acontecer.

“Tivemos a preocupação desde o princípio de assegurar que os empresários que estão nos arcos, há muitos anos esquecidos e abandonados, tivessem a permanecia assegurada depois das intervenções. Como sempre aparece uma ou outra ave de mau agouro para tentar tirar proveito político, mas temos compromisso com a população”, afirmou.

Os arcos foram construídos no século XIX, para sustentar a Ladeira da Montanha, e são tombados pelo Iphan. Eles foram erguidos com a melhor tecnologia da época e em um momento áureo daquela região da cidade. 

Seu Tatá, que desde 1963 trabalha na Ladeira da Conceição da Praia, conta com isso e disse que os arcos, que há séculos sustentam a Ladeira da Montanha, são também os pilares da memória da cidade. “Tanta coisa já aconteceu aqui, meu filho. É muita história”, concluiu.