Arte e educação para os jovens do Beiru

Anderson DC, artista visual, leva arte e educação para bairro popular e promove exposição

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  • Roberto Midlej

Publicado em 15 de setembro de 2021 às 06:08

- Atualizado há 10 meses

. Crédito: fotos divulgação

Em 2016, o artista visual baiano Anderson AC, 42 anos, foi convidado para realizar uma exposição individual em Estrasburgo, na França. Passou dois meses e ali e observou como a rotina da cidade funcionava e o Estado estava presente na vida dos cidadãos. "Ali, a dinâmica cultural da periferia era outra. Não era uma cidade grande, de 300 mil habitantes, mas eu notava como a educação era valorizada, como as crianças realmente frequentavam a escola e as creches realmente funcionavam", lembra-se.

Voltou para Salvador com aquela impressão na cabeça e percebeu que a realidade das crianças do Beiru - bairro que tem um sexto da população de Estrasburgo - tinham carências. Notou também o interesse delas e dos outros moradores por arte: ele tinha um ateliê ali e percebeu que as pessoas paravam para observá-lo trabalhar. Sabia que podia fazer algo por aquela comunidade e esperou o momento. Uma das crianças que estuda na Pinacoteca Realizou, em fevereiro deste ano uma experiência: montou um estúdio fotográfico e recebeu ali moradores dispostos a serem fotografados. Cerca de 40 pessoas acabaram participando daquelas sessões e algumas delas inspiraram quadros que Anderson pintou. Ele criou também oficinas de artes para crianças e adolescentes, que produziram suas obras. Agora, as criações de Anderson e daqueles meninos e meninas podem ser conhecidas na exposição E o Sol é Para Todos?, na Pinacoteca do Beiru, como Anderson batizou o local. Também é possível fazer um tour no site pinacotecadobeiru.art/expo360/.

Os meninos tiveram aulas práticas e teóricas de arte, com o próprio Anderson. "Foram duas semanas no curso, em que conheceram história da arte, a produção artística desde a pré-história, nas antigas civilizações... fizemos também um recorte eurocêntrico, a partir de Roma e Grécia", lembra o artista.

Anderson comprou o imóvel na mão de um tio, que facilitou o pagamento para ele. Mas, ainda assim, era difícil arcar com a manutenção. A reforma no imóvel, que lhe permitiu oferecer a oficina, foi possível graças à Lei Aldir Blanc, que o contemplou com R$ 80 mil. Mas o dinheiro não foi suficiente para a manutenção do projeto.

Por isso, Anderson lançou uma campanha de financiamento coletivo no site Vakinha.com.br, para um ciclo de atividades que será realizado  entre os dias 10 e 12 de outubro, para celebrar o Dia das Crianças. O objetivo é arrecadar R$ 6,5 mil.

Nos três dias, serão promovidas atividades como exibição de filmes, contação de histórias e oficina de máscaras africanas. Meninos e meninas também vão aprender a confeccionar bonecas abayomi, feitas a partir de retalhos de tecido. Elas são uma tradição trazida da África por negros escravizados.

Anderson pretende despertar naquelas crianças e jovens o mesmo interesse que ele criou em artes. Lembra de quando o pai, Antônio, chegava da gráfica onde trabalhava com revistas ou livros para mostrar ao filho. "Minha família não tinha artistas, mas eu me interessava pela parte gráfica. Lembro do cheiro da tinta até hoje", diz o artista. Os quadros de Anderson na exposição A arte contemporânea e a paisagem urbana também lhe chamaram a atenção ainda cedo, quando andava pela cidade, acompanhado o tio, que trabalhava no Mercado Modelo e o levava de vez quando com ele. Gostava de observar as lojas de discos e as capas dos vinis, cujo design lhe atraíam.

A cultura do rock, presente nos anos 80, fizeram aumentar seu interesse pela arte. Na época, prestava atenção às apresentações de grupos punk. Aqueles artistas promoviam também intervenções visuais, pintavam paredes, pichavam... "Minha caminhada para as artes plásticas então foi muito natural", diz Anderson.