‘Arte é reação’, diz autor de livro com pseudônimo de Eduardo Cunha

Durante a Flica, o escritor paulista Ricardo Lísias falou sobre temas como os limites da criação literária e a polarização

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  • Laura Fernades

Publicado em 6 de outubro de 2017 às 17:07

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Processado pelo deputado cassado e preso Eduardo Cunha, o escritor paulista Ricardo Lísias não negou, diante da plateia cheia, que ofendeu o político em seu livro Eduardo Cunha (Pseudônimo). “Agredi, ri da cara dele, mas a arte é isso. Arte é reação”, justificou o autor na Festa Literária Internacional de Cachoeira (Flica), nesta sexta (6), durante a mesa Intervenções, Agitações e Desvarios.

Convidado ao lado da poeta, performer e produtora cultural baiana Daniela Galdino, para a mesa mediada por Wesley Correia, Lísias falou sobre temas como os limites e o poder da criação literária diante da polarização que o Brasil vive hoje. “A gente vive um tempo um pouco problemático, diante de tanta polarização, tanta raiva, tanto ódio. A gente não pode sentir medo, não se pode deixar abalar. Não se pode entrar no jogo”, defendeu Lísias.

O autor destacou, ainda, que a arte parece ter virado um alvo, mas “os artistas não devem se tomar de ódio, mas devem reagir no interior de sua arte”. “A reação será poderosa, porque a arte é algo poderoso. As pessoas vêm xingar, destruir e parece que a única maneira de enfrentar a arte é com violência. Mas a gente não vai responder com violência, porque é alimentar o ódio. Vai responder com poesia. Historicamente, no final, os artistas vão se sair melhor”, garantiu.

A poeta Daniela Galdino, por outro lado, reforçou que o momento é delicado e precisa de diálogo e sensibilidade. “Vivemos em tempos de polarizações que nos ameaçam, ao ponto de eu acordar e já ficar pensando na ameaça do dia. Já foi a Reforma da Previdência, Reforma do Ensino Médio, a PEC... Fico pensando em qual o próximo nome que vai figurar na estatística do feminicídio, da LGBT fobia, do racismo. A ideologia racista é uma forma de desumanizar o outro. O que devo fazer em um mundo como este?”, questionou a escritora baiana que recitou o poema Cântico Negro, de José Régio.

“Tenho três caminhos”, continuou Daniela: “sucumbir a tudo isso e entrar no processo de enlouquecimento; aderir a tudo isso, numa posição confortável; e combater. A minha forma de combate tem nome, se chama literatura, se chama poesia, e é a partir dela que combato e dialogo. Essa é minha forma de dizer que não vou sucumbir, não vou enlouquecer, nem aderir a toda essa orquestra de violência que todos os dias retira o que há de mais humano entre nós: a sensibilidade”, defendeu.