Artista plástica, professora e índia: conheça Arissana Pataxó

Baiana foi a primeira indígena a concorrer a um dos maiores prêmios de arte contemporânea do Brasil

  • Foto do(a) author(a) Giuliana Mancini
  • Giuliana Mancini

Publicado em 26 de junho de 2019 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Stefan Schmeling/Reprodução Diversos

Se muita gente sofre, no começo da vida adulta, para descobrir o rumo que quer seguir na carreira, para Arissana Pataxó, 35 anos, isso veio naturalmente. 

Aos 19 anos, ela já dava aulas na Escola Indígena Pataxó da aldeia urbana Coroa Vermelha, entre Santa Cruz Cabrália e Porto Seguro, no litoral Sul da Bahia. “Trabalhava com alfabetização de séries do primeiro ao terceiro ano”, lembra. Também sempre teve um lado artístico aflorado, “como toda criança”, como afirma. “A diferença é que não parei de desenhar, pintar”.

Hoje em dia, Arissana, além de professora, é um dos nomes que mais despontam na arte indígena. Inclusive, foi a primeira índia a concorrer ao Prêmio Pipa, uma das maiores premiações de arte contemporânea do Brasil. “Eu recebi a notificação por e-mail, dizendo que eu tinha sido indicada. Até tomei um susto. Eu nem sabia o que significava, era a primeira vez que estava ouvido falar  dessa premiação. Aí fui pesquisar. E vi que a participação era através de uma indicação, feita por um comitê de cerca de 30 curadores ”, recorda. A artista plástica concorreu em 2016, na categoria Online - em que o público vota, pelo próprio site do Pipa, qual artista quer que ganhe. A baiana foi votada 3.686 vezes, faturando a segunda colocação - o vencedor foi Jaider Esbell, com 3.789. “Nós dois, ambos artistas indígenas. Acho que foi a primeira vez que isso aconteceu”, comemora. (Foto: Acervo Pessoal) Trajetória Aos 21 anos, Arissana deixou, temporariamente, a escola onde dava aula em Coroa Vermelha, para se mudar para Salvador - vinha cursar Artes Plásticas na Escola de Belas Artes da Ufba.

Na capital, percebeu um estranhamento de muitos colegas, que não entendiam por que ‘frequentava shopping’,  ‘era educada e tinha etiqueta’...  “O pessoal desconhece nossa realidade. Algumas pessoas chegavam a pensar que não existia mais indígenas na Bahia”, fala.Durante o curso, começou a integrar exposições, com a primeira, ainda em 2005, na própria Ufba. Depois de se formar, fez mestrado em Estudos Étnicos e Africanos e, no fim de 2011, retornou para Coroa Vermelha. “Sempre foi meu objetivo voltar”, garante.

Atualmente, segue conciliando as duas áreas. No Colégio Estadual Indigena Coroa Vermelha, dá aula de arte e de Patxohã - a ‘língua de guerreiro’. “E faço trabalhos como oficinas de desenho e pintura e exposições”, diz. 

Até o dia 29 de julho, está em cartaz dentro da mostra Vaivém, junto com outros 140 profissionais, no CCBB de São Paulo - projeto que, depois, seguirá para Brasília (setembro/2019), Rio de Janeiro (dezembro/2019) e Belo Horizonte (março/2020). 

Também é uma das pessoas entrevistadas pelo Diversos, livro fotográfico com perfis de 31 artistas na perspectiva da diversidade de gênero, idade, pessoas com deficiência, raça e crenças. E ainda é mãe de Atxinãy (‘minha filha bonitinha’, em pataxó), de 6 anos.

Com acesso gratuito, livro mostra diversidade brasileira Um mosaico da diversidade brasileira - étnica, religiosa, física, geracional e de gênero -, pelas histórias de dezenas de pessoas que se destacam em atividades culturais.

Essa foi a missão do livro Diversos, que traz perfis de 31 entrevistados, nascidos no Brasil ou radicados no país. A ideia é mostrar como as diferenças formam uma complexidade ideal para a evolução da coletividade.  (Foto: Divulgação) Arissana faz parte, assim como os conterrâneos e cantores Carlinhos Brown e Margareth Menezes. Há também a atriz Maitê Shneider, que luta pela inclusão de pessoas trans no mercado de trabalho; o grafiteiro Thiago Mundano; a cineasta Beatriz Seigner; o escritor André Fischer, criador do MixBrasil, entre outros.

A obra tem roteiro e produção de textos assinada por Jeferson Souza. Para ele, vai além de ser ‘só’ um livro, funcionando como um posicionamento. “O critério principal para se chegar ao conjunto de personagens foi a empatia e o entusiasmo pela causa”.

Iniciativa da Rede Educare e realizada com patrocínio de Novelis, líder mundial em laminados e reciclagem de alumínio, Diversos não tem venda física. Universidades e ONGs receberam distribuição de 800 exemplares. Mas quem quiser pode ser conferir todo o material, gratuitamente, em seu site oficial.