As cifras da ousadia

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  • D
  • Da Redação

Publicado em 11 de agosto de 2018 às 05:00

- Atualizado há um ano

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Vi por esses dias uma lista feita pelo jornal inglês The Guardian mostrando que, na atual janela de transferências do futebol mundial, oito dos 15 jogadores mais caros são brasileiros.

Não sei se mais alguém chegará à mesma conclusão, mas a primeira coisa que me veio à mente diante da informação é que, nesta imensa crise em que afundamos, nos mais diversos setores da vida e do jogo - o que dá mais ou menos no mesmo -, as únicas coisas valorizadas do Brasil são jogadores de futebol e ministros do Supremo Tribunal Federal.

Há, entretanto, uma diferença brutal entre a bolsa chuteira e bolsa toga. Até onde se sabe, os jogadores são valorizados pelo dinheiro alheio. Os ministros, por sua vez, se autovalorizam (existe isso?) com o seu dinheiro e o meu, o que é tão somente um carrinho por trás em todos nós – sem bola, registre-se.

Pior ainda é saber que quando os ministros elevam o próprio passe, sobe também a grana que somos obrigados a destinar à toda a laia de corruptos que esses dias começaram a pedir nossos votos – depois os mesmos caras de pau dirão que não têm dinheiro para Educação e Saúde -, mas, derivo.

Como eu ia dizendo, além da turma do STF, a impressão é que nesses tempos sombrios do país, apenas os jogadores seguem brilhando, mesmo que a Seleção Brasileira não faça grande coisa há um bom tempo.  

Alisson, por exemplo, foi comprado pelo Liverpool por nada menos que R$ 312 milhões, tornando-se o goleiro mais caro da história até um dia desses, quando o Chelsea resolveu derramar mais dinheiro ainda num arqueiro espanhol.   

O mesmo Chelsea também pagou a bolada de R$ 241 milhões pelo meia Jorginho, que fez sucesso na Itália sem nunca ter jogado numa equipe brasileira. Ele, inclusive, já atua pela seleção italiana.

Fred custou ao Manchester United R$ 209 milhões e talvez agora, com as partidas do Campeonato Inglês, a gente consiga entender a magia que fez Tite levá-lo para a Rússia e  mantê-lo por lá ainda que estivesse contundido. Mistério.

Com Vinicius Júnior, o Flamengo se deu bem, já que matou nada menos que R$ 192 milhões do Real Madrid. Agora, o jovem vai ter que mostrar serviço no meio das cobras criadas, pois Cristiano Ronaldo foi embora e tem muita gente querendo ocupar o lugar de estrela maior da companhia.

Na lista dos oito brasileiros mais caros do momento, figuram ainda Richarlison, comprado pelo Everton, Fabinho, que agora é do Liverpool, e Malcom, contratado pelo Barcelona. Fechando a escalação, vem Arthur, que custou R$ 170 milhões ao Barça e foi o mais “barato” entre esses aí, mas, pra mim, é o que dará mais retorno em campo.

No fim das contas, a soma do que se pagou somente por estes oito brasileiros bateu em R$ 1,7 bilhão. Eu até queria fugir do assunto, mas a coincidência não permite: valor igualzinho, R$ 1,7 bilhão, é o montante de dinheiro público que vai financiar as campanhas eleitorais por aqui este ano.

Mais uma prova de que os poderosos do Brasil, no Executivo, no Legislativo e no Judiciário, são mais ousados que qualquer jogador arisco. Pior: nós é que bancamos a ousadia deles.*Victor Uchôa é jornalista e escreve aos sábados