As cores da resistência: comunidade local pinta casas da Ladeira da Preguiça

A ação é também um ato de resistência contra a especulação imobiliária

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  • Kalven Figueiredo

Publicado em 9 de março de 2019 às 16:45

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Marina Silva/CORREIO

(Foto: Marina Silva/CORREIO) A manhã deste sábado (9) no Beco da Califórnia, localizado na Ladeira da Preguiça, em Salvador, foi mais movimentada que o comum. Um grupo de aproximadamente 20 pessoas - entre moradores, voluntários e membros do Centro Cultural que Ladeira é Essa? - se levantaram, mais uma vez, para dar novas cores a essa história marcada pelo abandono e  pela especulação imobiliária. A ação renovou seis das 13 casas que compõem o beco. No local, vivem pelo menos dez famílias.

Presente desde a primeira ação de pintura na Ladeira da Preguiça, que contemplou o Beco da Califórnia e outras casas da região, a estudante Suzane Varela, 28 anos, moradora da região há 15, relata que ações como essa são mais que necessárias para enfrentar o abandono e o interesse dos poderosos no espaço, que fica no Centro de Salvador, próximo à Conceição da Praia.

“A importância de manter esse cuidado e essa pintura aqui é para dizer: ‘Vocês estão especulando nosso espaço, mas a gente está firme e vamos nos manter resistentes. E este é um movimento, antes de tudo, de resistência também”, explica Suzane, que retocou a pintura de sua casa, mais ou menos cinco anos após a primeira ação do coletivo organizador.  

A estudante ainda denuncia que, dentro do beco existem três casas e dois terrenos baldios que estão abandonados há cerca de dez anos. “Esses espaços pertencem a um empresário, especulador imobiliário, e a ação dele é a gentrificação às avessas. Ele compra as casa e deixa em estado de degradação para o local perder o valor e os outros moradores que resistem aqui sejam obrigados a sair, ou vivam em um lugar degradado”, afirma. (Foto: Marina Silva/CORREIO) Surgido há seis anos, o Centro Cultural que Ladeira é Essa? É um dos pilares da resistência que, junto a outros coletivos irmãos, realizam ações pontuais, como a deste sábado (9), para divulgar a luta dos moradores da região e ajudar na manutenção dos imóveis.“O Centro surge com a necessidade de ser um mecanismo de defesa para a comunidade da Ladeira da Preguiça contra a especulação imobiliária”, afirma o idealizador e gestor do Centro, Marcelo Teles, 34, também morador da Preguiça. Ele ainda lembra que o apoio que recebe de outros coletivos - Museus Street Arte de Salvador (Musas), Coletivo de Entidades Negras e a Articulação do Centro Antigo - é fundamental para continuar promovendo ações de luta para defesa da comunidade. Isto porque essas iniciativas vão na contramão da fama de região marginalizada, mostrando um outro lado da história.

A ação sempre aconteceu na região, mas, como explica Marcelo, não era de forma contínua. “Este ano, nós pretendemos realizar semanalmente de forma que outra regiões do bairro e nossos 13 bairros parceiros também sejam cobertos pela ação de pintura”, revela.  

A estudante de Arquitetura e Urbanismo Camila Figueiredo, 24, conheceu a iniciativa através do Coletivo de Entidades Negras e, há dois anos, acompanha as atividades promovidas pelo centro comunitário da região.“A pintura e todas as outras atividades que ajudamos a desenvolver é um mecanismo de desenvolver o espírito coletivo, potencializar essa construção conjunta da comunidade, além de ser uma forma que encontramos de ajudar na resistência desses moradores”, pontua.  (Foto: Marina Silva/CORREIO) *Com a supervisão da chefe de reportagem Perla Ribeiro