As letras de Odair José estão em cena na peça Vou Tirar Você Deste Lugar

Espetáculo musical retrata fatos nacionais e mistura ficções inspirados nas letras do compositor e cantor

  • Foto do(a) author(a) Vanessa Brunt
  • Vanessa Brunt

Publicado em 7 de setembro de 2018 às 06:45

- Atualizado há um ano

. Crédito: (Foto: Sergio Martins/Divulgação)

Polêmico e atual. Essas poderiam ser as palavras-chave para definir o espetáculo Eu Vou Tirar Você Deste Lugar, baseado nas letras do cantor e compositor Odair José, conhecido como cronista das duras realidades ou, ainda, como o Bob Dylan da Central do Brasil. O musical, que leva o público ao ano de 1923, chega ao Teatro Sesc Casa do Comércio com apresentações de hoje até domingo, sempre às 20h. Os ingressos ficam por R$ 20 e R$ 10. Logo após, na próxima semana, dias 14 e 15, o cantor Odair realiza shows no mesmo local.  Assassinato de prostituta dá início à trama no palco (Foto: Sergio Martins/Divulgação) O palco, no circuito teatral, retrata a cidade de São Paulo em meio ao real escândalo moralista que ocorreu em 23. O caso do assassinato da prostituta Nenê Romano, morta por um jovem e renomado advogado, filho de família tradicional, é o principal mote para destrinchar a trama, que traz discussões de temas como machismo, homofobia, racismo e tradicionalismo.“Odair questionava o patriarcado. Ele trazia as marginalizações e os preconceitos sociais para o centro. E é em torno dessas agonias que a peça caminha”, afirma Sérgio Maggio, diretor e dramaturgo da obra, que tem patrocínio do Programa Petrobras Distribuidora de Cultura.Maggio ainda afirma o quanto a ideia é de fazer um espetáculo sobre a atualidade. “Vamos usar esse passado para mostrar o quanto essas tensões ainda estão, infelizmente, vivas”, pontua. A canção de Odair que dá título à montagem, inclusive, surgiu, justamente, através de um questionamento sobre os maus-tratos às prostitutas. “Ele sempre teve muita empatia e é isso o que precisamos pra salvar qualquer coisa”, pondera o diretor. Relembre letras de Odair José: CENSURA E BIOGRAFIA A montagem segue até o ano de 1973, com o Brasil amordaçado no auge da ditadura militar. “É nesse contexto que surge a história de um jovem que enfrenta a força patriarcal para realizar o sonho de ser um cantor de rock´n´roll. Tensões políticas e jogos de costumes conduzem a narrativa de uma comédia musical formalmente inspirada em gêneros populares”, conta Sérgio Maggio, autor do livro Conversas de Cafetinas (Prêmio Jabuti 2010).“Vivemos essa era de novos tipos de ditaduras, seja na arte ou na vida, por preconceitos que foram implantados lá atrás. Não tem como não apresentar essa realidade e não conectar ao agora”, diz o diretor.Apesar de não ser uma biografia fiel do artista homenageado, a peça traz muito da história de Odair. “Ele saiu de casa para correr atrás dos seus sonhos. Trazemos um personagem totalmente inspirado nessa força de vontade e com as visões de mundo principais que seguiram o grande compositor”, explica o dramaturgo, que ainda relembra o quanto as letras do artista são ‘todas extremamente íntimas, biográficas’. “Não tem como não retratar muito de quem ele é, já que todos os detalhes são baseados nas suas composições”, relata.A partir de um roteiro inédito e ficcional, 20 canções (de um repertório que beira 400 músicas) costuram a narrativa não-biográfica, que teve roteiro musical supervisionado por Odair José. “Estou muito feliz em saber que a minha obra serviu a um teatro de qualidade”, exalta o cantor goiano. A atriz Watusi, primeira brasileira e negra a estrelar um show no mítico Moulin Rouge (em Paris), canta na peça (Foto: Sergio Martins/Divulgação) Em cena, estão intérpretes de três gerações de musicais brasileiros: Watusi (primeira brasileira e negra a estrelar um show no mítico Moulin Rouge, em Paris), Jones Schneider (de O Tocador da Viola Envenenada), Luiz Filipe Ferreira (O Fole Roncou – Uma História do Forró! e O Tocador da Viola Envenenada), Camila Guerra (OperAta), Gabriela Corrêa (L, O Musical), Rodrigo Mármore (Á Margem do Abrigo), Tainá Baldez (L, O Musical) e Renato Milan (do projeto Garçons que Cantam).INTERAÇÃO O desafio de criação era compor uma montagem que fosse esteticamente popular como as mensagens das letras de Odair José, mas que guardasse em si um conteúdo de protesto e indignação social, que fez do cantor e compositor um dos mais censurados pela ditadura militar. Para isso, Sérgio Maggio mergulhou numa pesquisa sobre os gêneros populares, que, no Brasil, foram condenados pelo preconceito intelectual por alcançar a larga audiência, não iniciada em arte. Os pejorativamente acusados de popularesco. O espetáculo promete, porém, apesar das densas temáticas, trazer leveza ao quebrar a quarta parede com as cantorias. “O público canta junto e acaba ficando aquela sensação de show, de intimidade...”, exclama o diretor. Durante a temporada de Salvador, haverá, em todas as sessões, acessibilidade para pessoas com surdez (libras) e estimulo à coleta de lixo eletrônico. Após a sessão de sábado, artistas da peça promovem o painel Yes, Nós Temos Musical Brasileiro!, além da oficina Dramaturgia para Musical."A ideia é trocar ideias para que todos saiam, de alguma forma, do lugar", conclui Maggio.SERVIÇO Teatro Sesc Casa do Comércio (PITUBA). De hoje até domingo, às 20h. Ingresso: R$ 20 | R$ 10.