As pedras da democracia

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  • Da Redação

Publicado em 6 de abril de 2019 às 05:00

- Atualizado há um ano

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Para alguns pode até não parecer, mas o fato é que, no domingo passado, o Vitória viveu um dia histórico. Em meio a uma gestão ruinosa e envolto por resultados vexatórios, o clube conseguiu ao menos um breve respiro graças à participação efetiva dos seus sócios, que mostraram como talhar pedras para, pouco a pouco, esculpir uma democracia sólida.

Em assembleia na Toca do Leão, os sócios rubro-negros resolveram fazer uma pontual mudança no estatuto para antecipar as eleições deste ano, o que, por óbvio, abrevia o sofrimento de qualquer torcedor que (ainda) vê Ricardo David e seus asseclas no comando do Vitória.

O detalhe é que alguns espertos tentaram empurrar goela abaixo dos sócios (que estão aturdidos com a situação do clube) uma manobra para que essa extemporânea eleição fosse realizada em turno único. Como? Assim: se quatro candidatos se alinhassem para a disputa e um deles, em primeiro turno, tivesse 26% dos votos, seria eleito.

Um parêntese para as palavras do meu amigo e mestre Humberto Sampaio: “Se não houvesse segundo turno, era capaz de Paulo Maluf ganhar eleição majoritária em São Paulo até hoje”. Fecha.

Atentos ao que se tentava impor, a maioria dos sócios rubro-negros presentes na assembleia rejeitou tal emenda. Assim, o próximo presidente do Vitória terá que ser escolhido pela maioria absoluta do colégio eleitoral, como em qualquer eleição que se preze – e se respeita o resultado.

O que parece uma coisa pequena, de letra miúda em contrato, é, na verdade,  uma prova de que agora, dentro da Toca do Leão, não são mais uns poucos que determinam o que acontece para que todos baixem a cabeça e digam amém – ainda que muita gente goste de se colocar nessa posição.

A democracia mostrou sua força e sua coerência, pois, se também era desejo de alguns que outras mudanças estatutárias fossem votadas no domingo, prevaleceram os votos de quem quer analisar essas mudanças mais adiante.

Agora, é obrigação dos sócios rubro-negros, além dos membros do próximo Conselho Deliberativo, fiscalizar para que a atualização do estatuto ocorra, sem atraso, no dia 1º de setembro, como estabelecido em ata da assembleia, pois somente com novas normas poderá se evitar que um presidente – seja ele quem for e seja lá de onde venha– conduza o Vitória para o buraco, como fizeram Ivã de Almeida e Ricardo David.

Em menos de 20 dias, novas eleições serão realizadas na Toca do Leão. Já foram muitas delas de 2014 pra cá, sem que nenhum dos presidentes, eleitos direta ou indiretamente, tenham cumprido um mandato na íntegra.

Espera-se que, com o freio de arrumação puxado por seus próprios associados, o clube ganhe estabilidade institucional, o que vai naturalmente refletir na qualidade dos times que vão a campo.  

Pois ali, no campo, o que o Vitória conseguiu de melhor ultimamente foi a incrível façanha de não ganhar nenhuma partida e ainda assim ter chances de ser campeão da Copa do Nordeste.

Este é o típico cenário que só se desenha apesar dos gestores, e não graças a eles. E é esta lógica, que impera há anos na Toca do Leão, que precisa ser invertida.

Victor Uchôa é jornalista e escreve aos sábados