'As pessoas estão cansadas da ditadura da moda', diz modelo de 71 anos

Mercado da moda cresce para os mais velhos em Salvador

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  • Laura Fernades

Publicado em 15 de março de 2020 às 05:30

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Marina Silva/CORREIO

“As pessoas estão cansadas da ditadura da moda”, defende a professora baiana aposentada Maria Helena, 71 anos. Modelo “por acaso”, Leninha, como também é conhecida, já viu seu rosto estampado em outdoor sobre a violência contra a mulher, fez campanhas para mercados, shoppings e chegou a ser figurante na série O Canto da Sereia, com Isis Valverde.

“Sempre fui muito fechada, escabreada e de repente me vi sendo modelo. Tem que fazer? ‘Vumbora’, eu faço”, conta Leninha. Orgulhosa de servir de referência para outras pessoas, só lamenta não conhecer muitas pessoas de sua idade nesse universo, em Salvador.

Na verdade, ela própria entrou nesse universo por acaso, quando foi acompanhar o neto bebê em uma sessão de fotos. Nem seu marido escapou: o administrador e professor aposentado, Lucio Saback, 72, também foi chamado e o casal mergulhou de vez na moda. Já fizeram até campanha juntos.

Apesar disso, Lucio acha que “os mais velhos não têm tido tanto espaço”. “É muito difícil você achar idoso fazendo propaganda. Geralmente são pessoas de 40, 50 anos envelhecidas. Não representam a realidade e é sempre algo relacionado a saúde e doença”, pondera Lucio, que já foi garoto propaganda de laboratórios e clínicas de ortopedia.

Mas seu papel principal, na verdade, é o de Papai Noel. Há onze anos Lucio incorpora o “bom velhinho”, em paralelo às campanhas que têm uma “remuneração baixíssima”. “Não vivo disso. Sou aposentado, graças a Deus. Isso é mais uma curtição. É muito bom estar com o pessoal, que é alto astral”, explica Lucio.

Apesar do mercado ainda embrionário e da “crença limitante de que esse público não pode”, o produtor de elenco Gabriel Bomfim, 25, garante que a procura por modelos 60+ tem crescido. Responsável pela produção do último clipe de Anitta em Salvador, Gabriel critica que “muita gente acha que ser modelo é coisa de gente nova”.

“Essa questão da representatividade está muito em pauta. A galera me pede gente de 50, 60 anos... O mercado tende a crescer e a gente está sempre precisando”, indica. “É um público que acaba sendo mais afetuoso com a gente, chega no horário e é muito comprometido”, elogia.

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