As Verdades, com Lázaro Ramos, mostra três versões de um mesmo crime

Mistura de suspense e drama, filme foi gravado na Bahia e tem direção de José Eduardo Belmonte

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  • Roberto Midlej

Publicado em 1 de julho de 2022 às 06:00

. Crédito: Marcelo Corpanni/divulgação

É injusto que público e crítica não dispensem ao cineasta paulista José Eduardo Belmonte a atenção que deveriam. Um dos mais versáteis criadores do cinema brasileiro atualmente, ele já dirigiu desde uma ótima comédia romântica - Entre Idas e Vindas, de 2016 -, bons filmes de ação - Alemão 1 e 2 - e agora confirma seu talento com um novo thriller dramático, As Verdades, que estreou ontem em Salvador. No filme, Lázaro Ramos interpreta um delegado, Josué, que, numa pequena cidade, depara-se com a investigação da tentativa de assassinato de um poderoso político e ex-delegado, Valmir (ZéCarlos Machado), que foi violentamente atropelado e milagrosamente sobreviveu. Sua noiva, Francisca (Bianca Bin), que já havia tido um romance com Josué, é considerada suspeita. Cícero (Thomás Aquino), um matador de aluguel que admite ser apaixonado por Francisca, também é suspeito. Também estão no elenco as baianas Tânia Toko e Edvana Carvalho.  Bianca Bin e Lázaro Ramos (foto: Taylla de Paula/divulgação) A partir daí, o espectador vai conhecer três versões da história, sendo cada uma contada por um dos suspeitos citados e pela vítima. As versões, embora contraditórias, são todas verossímeis. E o espectador se depara com a pergunta que dá título ao filme e passa a atormentar Josué: afinal, qual é a verdade?Bahia

O longa é o primeiro filme que Lázaro Ramos grava na Bahia desde Ó Paí Ó (2007) e por isso tem um significado especial para ele: "A Bahia continua sendo onde eu recarrego minhas energias, pessoalmente e criativamente. É uma parte do Brasil que eu acho que tem potencial de contar vários gêneros de história". As gravações aconteceram entre Maraú e Itacaré, no sul do Estado.

Belmonte diz que o filme pedia uma paisagem emblemática, "de um país que é lindo, mas que guarda muita dor". "Quando procurei as locações, achei isso nas arquiteturas das cidades que filmei. Somado a isso, sempre que ia à Bahia, achava os lugares que via impressionantemente cinematográficos", justifica.

Outro motivo para Lázaro aceitar atuar em As Verdades foi a oportunidade de trabalhar com Belmonte, que lhe chamava a atenção pela diversidade de gêneros dos filmes que havia dirigido: "Ele vai da comédia para um filme policial como Alemão 2. Fiquei encantado também com o prazer em que ele tem de preparar atores. Ele gosta desse processo de preparação de atores e isso acaba sendo uma influência também para os meus próximos trabalhos", diz Lázaro, que estreou como diretor em longas de ficção em Medida Provisória, ainda em cartaz em Salvador, no circuito Saladearte.

Belmonte aprova a estreia de Lázaro na direção: "É um marco do cinema brasileiro. Pelos aspectos artísticos, pelo modo de fazer e pelos retornos que teve". Não faltam elogios também ao trabalho do baiano na frente das câmeras: "Considero Lázaro o grande ator da sua geração: sensível e um pensador do país e do seu tempo. Nós precisávamos de um grande ator para passar todas as sutilezas que o roteiro pedia".

Rashomon

A história de As Verdades é inspirada no conto Dentro do Bosque, do japonês Ryunosuke Akutagawa (1892-1927). Segundo Belmonte, o filme mantém características do texto original, como a estrutura das versões do crime e os personagens, que, segundo ele, são sempre um enigma. "O conto tem um olhar existencial . Vai além da história de um crime, o autor procura investigar uma cultura, os sentimentos, o tempo", revela Belmonte. A mesma história havia inspirado o clássico Rashomon (1950), de Akira Kurosawa. Edvana Carvalho (foto: Marcelo Corpanni/divulgação) E afinal, o que é a verdade, que tanto se busca no filme? Para Lázaro, trata-se de ficar atento aos fatos e usá-los como direcionamento. "Engraçado ter que falar isso em um período que a gente sofre tanto por fake news (...) Por isso que fatos e informação de qualidade sempre serão um bom norte", defende o ator.  Belmonte diz que a busca pela verdade é um antigo dilema: "O choque entre a objetividade dos fatos e a subjetividade das interpretações é tão antigo quanto a humanidade.  A verdade é como algo que está lá, às vezes a ser descoberto e, por mais que se relativize e/ou oculte, ela sempre se revela, se impõe".

Em cartaz no Cine Metha Glauber Rocha, às 15h20 e 20h30