Ativista morta estava com medo após seu endereço ser descoberto, dizem amigos

Sabrina Bittencourt estava morando na Espanha com os filhos e morreu neste sábado

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  • Da Redação

Publicado em 4 de fevereiro de 2019 às 08:44

- Atualizado há um ano

. Crédito: Reprodução

Amigos da ativista social Sabrina Bittencourt, 38, contaram que, antes de morrer, ela estava preocupada por ter tido o endereço, onde morava com os filhos, descoberto. No sábado (2), ela também denunciou que estava recebendo ameaças.

O jornalista Gilberto Dimenstein publicou, neste domingo (3), no site Catraca Livre outra mensagem que teria recebido de Sabrina, na qual ela acusa Sandro Teixeira, filho de João de Deus, “de ameaçar as testemunhas que denunciaram seu pai, oferecendo pedras preciosas e casas do programa Minha Casa Minha Vida como forma de obter silêncio”.

Na tarde do mesmo sábado, Sabrina disparou mensagens pelo Whatsapp para alguns jornalistas, entre eles os brasileiros Gilberto Dimenstein e Nina Lemos, dizendo sentir-se ameaçada por um homem chamado Paulo Pavesi. De acordo com a reportagem do Uol assinada por Nina Lemos, com colaboração de Talyta Vespa e Luís Lima, “Sabrina estava se sentindo especialmente apavorada porque o endereço onde morava com os filhos havia sido descoberto”. 

Ainda segundo o texto publicado no portal de notícias, ela teria combinado com alguns amigos de localidades diferentes do mundo para publicar fotos como se estivesse nestes lugares. 

Ao meio-dia de sábado, o cineasta Anderson Lago marcou Sabrina com uma foto da dupla em Angola. “A foto que postei é de 2014. Eu troquei o fundo pela imagem da exposição que, de fato, inaugurou ontem na Angola”, contou Anderson. Ele confirmou que a amiga estava em Barcelona e que teria notado movimentações suspeitas em sua conta de WhatsApp. “Ela deixou o celular com o WhatsApp e percebeu que as conversas estavam deslizando ‘sozinhas’. Percebeu que havia sido hackeada e que alguém tinha acesso a todas as conversas e passos dela. Ficou transtornada”, completou.

Morando na Inglaterra, Paulo Pavesi reagiu no Facebook, dizendo que estaria sofrendo um ataque virtual dos “apoiadores de Sabrina” e que vai fazer um pedido à Polícia Federal para que o local do “suposto suicídio” seja investigado. Ele afirma que muitas das denúncias da ativista são mentirosas e pressupõe que ela tenha tirado a própria vida “porque não tinha como provar e sabia que não tinha outra saída”.

Denúncias Ela auxiliou as mulheres que acusaram o guru Prem Baba e coletou as primeiras denúncias de assédio sexual contra o médium João de Deus, morreu na noite deste sábado, segundo confirmou a ONG Vítimas Unidas, que apoia vítimas de abuso sexual, do qual Sabrina fazia parte. Segundo a nota, assinada pelas dirigentes da organização Maria do Carmo Santos e Vana Lopes, Sabrina se suicidou por volta das 21h, em Barcelona, onde vivia atualmente com os filhos e tratava de um câncer no sistema linfático.

“Pedimos a todos que não tentem entrar em contato com nenhum integrante da família, preservando-os de perguntas que sejam dolorosas neste momento tão difícil. A luta de Sabrina jamais será esquecida e continuaremos, com a mesma garra, defendendo as minorias, principalmente as mulheres que são vítimas diárias do machismo”, diz o texto.

No Facebook, onde postou sua última mensagem, às  20h05 deste sábado, Sabrina disse que iria se unir à vereadora do Rio de Janeiro Marielle Franco, assassinada em 14 de março de 2018. Também na rede social, Gabriel Baum, filho mais velho da ativista, escreveu na manhã deste domingo: “Ela só se transformou em outra matéria. Nós seguiremos por ela. Foi isso que minha mãe me ensinou e ninguém vai poder tirar de mim. Não permitam que manchem o nome dela. Ela deu o último passo pra gente poder viver. Eles mataram minha mãe”.

Mórmon Sabrina Bittencourt, que era Doutora Honoris Causa por seu trabalho humanitário pela  Universidad del Centro, no México, fazia parte da força-tarefa Somos Muitas, grupo que deu publicidade, em dezembro do ano passado, a uma série de casos de abuso sexual que teriam sido praticados por João de Deus  contra mulheres que buscavam atendimento espiritual.  Sabrina defendia ainda que o líder espiritual estaria envolvido num esquema de tráfico internacional de bebês e de escravização de mulheres. 

De família mórmon, Sabrina foi abusada desde dos 4 aos 15 anos por integrantes da igreja frequentada pela família. 

Resiliente, Bittencourt se dedicou à militância por vítimas de abuso por  líderes religiosos, dentre eles Prem Baba e João de Deus. Ela é uma das criadoras da plataforma Coame - Combate ao Abuso no Meio Espiritual, ferramenta que concentra denúncias contra cometidas por líderes religiosos. Sabrina estava preparando um dossiê contra outros 13 líderes espirituais.