Atletas aproveitam Lavagem do Bonfim e fazem prova de corrida

Para a aventura, bastavam um tênis confortável e um fone de ouvido

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  • Nilson Marinho

Publicado em 17 de janeiro de 2019 às 19:13

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Nilson Marinho/CORREIO

Enquanto os primeiros fiéis chegavam à Basílica Nossa Senhora da Conceição da Praia, já havia uma turma que se aquecia em frente ao local para cumprir o trajeto até à Colina Sagrada em outro ritmo. Passos mais largos do que os das beatas e com um pique mais acelerado. O grupo era formado por dezenas de pessoas que resolveram chegar até a Basílica Santuário do Nosso Senhor do Bonfim correndo.

Para a aventura, bastavam um tênis confortável, de preferência com amortecedor, para diminuir o impacto, e um fone de ouvido. Eles garantem que ouvir música com um ritmo mais acelerado que os batimentos cardíacos do atleta ajuda a dar um pique extra. Ficou quase impossível acompanhar os passos e o hino em homenagem ao santo dono da festa entoados por aqueles que foram até à Lavagem do Bonfim exclusivamente pela fé.

O gerente administrativo Félix Lima, 68 anos, tem 25 maratonas no currículo. Cheio de experiência em velocidade e resistência, deu a largada às 7h e, 28 minutos e 27 segundos depois, já estava na ladeira que dá acesso à Colina. “A corrida de rua em Salvador tem crescido muito. Muitas academias, muitos jovens. Há 20, 30 anos atrás, corrida era coisa de suburbano. Hoje, a elite está correndo”, acredita. Ele foi o primeiro da sua categoria, entre 65 a 69 anos, a cruzar a linha de chegada - como não se tratava de uma corrida oficial, o grupo considerou que o fim do percurso ficaria no pé da ladeira. À frente de seus competidores consagrou-se como um dos vencedores da Corrida Sagrada edição 2019. 

Mas, claro, lembra, não estava apenas ali para suar camisa e levar troféu para casa. Chegar à Península de Itapagipe e não agradecer, é o mesmo que não ter chegado lá. “A minha fitinha eu deixei amarrada”, afirma. 

O auxiliar de serviços gerais Edmundo Bonfim, 64, fez o percurso correndo pela quarta vez. Ele também largou às 7h. Não chegou em primeiro lugar, mas foi um dos primeiros a completar o trajeto e ganhou uma medalha pelo esforço. “Cheguei bem, cheguei bem”, gabou-se

Novata entre a galera, a analista de sistema Ana Clara Martins, 35, é inexperiente em corridas. Acostumada apenas a dar alguns “trotes” entre o Porto da Barra e o Cristo, sempre com pausas a cada 10 minutos, ela cumpriu os 8 km em outro ritmo. Ao todo, foram 9,2 mil passos e 569 calorias perdidas, ambos marcados pelo seu relógio de pulso.“Foi tranquilo. Nas primeiras horas da manhã não tem tanta gente assim. A movimentação maior acontece sempre quando a procissão sai às ruas”, contou. Se a ida foi tranquila, em contrapartida, a volta não foi tanto assim. Ana teve que enfrentar uma multidão de gente e enfrentar uma multidão formada por quase 2 milhões de pessoas que participaram da festa popular - número que superou as 11 edições anteriores da Lavagem.

Muita oração A festa também reuniu fiéis que foram exclusivamente pela fé, deixando de lado qualquer outro evento além do sermão do Padre Reitor Edson Menezes, que já estava posicionado na janela central da Basílica quando o andor chegou.

“A maioria dos que estão aqui, tirando aqueles que estão bebendo, são fiéis que acreditam e confiam em sua fé”, disse o taxista aposentado Ederivaldo de Almeida, 62, que chegou à Colina duas horas antes da procissão, ao lado da sua esposa, a aposentada Helenice Farias, 60. 

A professora Fátima Machado, 64, veio de Recife só para Lavagem. Preferiu andar a passos lentos por questões físicas, diferente dos outros dois oxagenários do início da matéria. “Eu, que já estou beirando os 65 anos, faço essa caminhada, com uma certa dificuldade mas consigo”, disse.

*Sob a orientação do chefe de reportagem Jorge Gauthier