Automatização dos Portos: Salvador vai testar Porto 4.0

Entre os princípios estão o espelhamento em ambiente virtual das operações e a coleta e análise de dados em tempo real

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  • Murilo Gitel

Publicado em 16 de março de 2019 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Arisson Marinho/ CORREIO

Aumentar a segurança, a eficiência e reduzir os custos de operação dos portos brasileiros são apenas alguns dos objetivos do conceito de indústria 4.0, que ontem foi tema do Seminário Portfólio de Investimentos nos Portos da Bahia – Oportunidades de Outorgas, realizado no Terminal Marítimo de Passageiros de Salvador. 

Na ocasião, a diretora de Gestão e Modernização Portuária da Secretaria Nacional de Portos e Transportes Aquaviários do Ministério da  Infraestrutura, Fernanda Rumblesperger, explicou como funciona a indústria 4.0, um conceito que engloba as principais inovações  tecnológicas dos campos de automação, controle e tecnologia da informação, aplicadas aos processos de manufatura."O porto do  futuro é totalmente automatizado e dotado de sistemas  independentes e, ao mesmo tempo, conectados", projetou a especialista no setor portuário.

Entre os exemplos citados pela representante do Ministério da Infraestrutura, estão sensores de peso para o carregamento de contêineres, utilização de energia renovável para abastecer os navios e leitores OCR (Optical Character Recognition, que em português, pode ser traduzido como Reconhecimento Óptico de Caracteres) para a liberação de caminhões. 

Rumblesperger rechaçou a ideia de que implementar o conceito 4.0 seja caro ou "coisa de filmes futuristas". "É equivocado pensar assim. Hoje os sistemas são modulados, feitos em pequenas entregas. A tecnologia é constantemente atualizada e o custo acaba sendo reduzido", argumentou. Totalmente automatizado, o Porto de Rotterdã, na Holanda, foi mencionado como referência pela especialista. 

Salvador

A representante do governo federal também anunciou um projeto-piloto em parceria com a Codeba no sentido de adotar alguns dos recursos 4.0 no Porto de Salvador. "A Codeba está bem estruturada e tem mecanismos de gestão de qualidade, o que facilita. O nível de complexidade do Porto de Salvador, por exemplo, é menor que o de Santos, até pela localização privilegiada da Baía de Todos os Santos. Muito em breve estaremos com um projeto-piloto aqui", adiantou. 

Entre o final de fevereiro e o início de março, diretores da Codeba participaram de um curso internacional em gestão portuária realizado em Valência, na Espanha. O evento, realizado pelo Programa de Pós-Graduação em Administração da Unisul (PPGA), serviu como ambiente de aprendizado em relação ao que há de mais moderno e inovador na indústria portuária e marinha. 

"Precisamos estar atentos as novidades do mercado para garantir sempre uma melhor efetividade das operações e dos serviços nos portos de Salvador, Aratu-Candeias e Ilhéus", afirmou o diretor-presidente da Codeba, Rondon Brandão do Vale. Além dele, o diretor de Infraestrutura e Gestão Portuária Carlos Henrique Taboada representou a companhia no evento. 

Desafios

Contudo, há uma série de desafios a superar. Rumblesperger citou, entre eles, a necessidade de preparar uma nova mão de obra capaz de lidar com essas inovações. "Além disso serão demandados investimentos privados e boa vontade política governamental." Para reduzir o déficit em relação aos países desenvolvidos, ela estima que o País precisará acelerar a transição para a indústria 4.0 até 2030.

Segundo levantamento da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), a estimativa anual de redução de custos industriais no Brasil, a partir da migração da indústria para o conceito 4.0, será de, no mínimo, R$ 73 bilhões/ano.

O Seminário Portfólio de Investimentos nos Portos da Bahia - Oportunidades de Outorgas foi uma realização do CORREIO e Codeba, com o patrocínio da J. Macêdo e UItracargo, apoio institucional da Braskem e apoio da Diego, Usuport, Associação Comercial da Bahia e Contermas.

SETE PRINCÍPIOS E CARACTERÍSTICAS DA INDÚSTRIA 4.0 PARA OS PORTOS

. Espelhamento, em ambiente virtual, das operações verificadas no ambiente físico do porto;

. Digital twin de terminais;

. Capacidade de coletar e analisar dados em tempo real;

. Amarração automatizada;

. Tecnologia blockchain no controle de carga do aduaneiro;

. Possibilidade de operação à distância, mesmo em caso de sinistro;

. Veículos autônomos com sensores para a movimentação decontêiner.