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Autores baianos recorrem a e-books para ampliar alcance de seus livros


 

Escritores dizem que livros digitais rendem pouco, mas dão visibilidade

  • Roberto Midlej

Publicado em 15/07/2020 às 06:00:00
Atualizado em 21/04/2023 às 09:23:05

Os livros em formato eletrônico estão longe de substituir as publicações em papel, ao contrário do que se imaginava anos atrás. Ainda assim, os e-books são bastante consumidos em determinados nichos e o lançamento de serviços de assinatura como o Kindle Unilimited estimula o consumo de livros em formato digital. De olho em ampliar seu público, autores e editores baianos têm recorrido ao formato.

O escritor Franciel Cruz, 50 anos, autor de Ingresia, está muito feliz com o desempenho nas livrarias virtuais: até o final de junho, seu livro já havia sido baixado por mais de seis mil pessoas. Editado originalmente no formato físico, Ingresia havia se saído melhor que Franciel esperava:“Quando pensei no livro físico, antes do lançamento, a ideia era imprimir uns 300. Mas um pré-lançamento virtual rendeu 408 vendas antecipadas. Decidi, assim, arriscar mil. Se esgotaram. Fiz nova remessa de 700, que se esgotaram também”, diz o autor. Franciel Cruz (foto: Marina Silva/Arquivo Correio) Bem-humorado, Franciel se assume como uma “tecnoanta”, ou seja, alguém que não entende nada de tecnologia. Mas, entusiasmado com os bons números de Ingresia, decidiu vendê-lo em formato digital na Amazon e o disponibilizou também no Unlimited. Mas só fez isso por insistência de um amigo, que lhe garantiu ser importante lançar em formato digital. E alguns de seus potencias leitores diziam que queriam o e-book porque só liam naquele formato: “Gente estranha com gosto esquisito”, brinca Franciel.

Público específico O jornalista baiano Saymon Nascimento, que vive em Cabo Verde, na África, criou a editora Bissau, que já lançou publicações de dois escritores da Bahia: 2+1, de Rogério Menezes, e Você Morre Quando Esquecem Seu Nome, de Flávio VM Costa. Publicados inicialmente apenas em formato físico, acabaram saindo também em formato digital. “Eu precisava chegar em um público específico, que gosta do e-book e que existia antes mesmo da covid. No lançamento de um dos livros da Bissau em Salvador, uma amiga minha disse que queria para uma outra pessoa. Comecei a ficar atento a isso e, daí pra frente, acelerei o processo”, diz Saymon. Saymon Nascimento (divulgação) Mas, como se trata de uma empresa pequena, sem funcionários, ele diz que tem aprendido muita coisa intuitivamente. Contratou um freelancer para converter o livro para formato digital e logo disponibilizou na internet, a R$ 17,90 cada livro, enquanto, nas livrarias, um deles custa R$ 40 e o outro, R$ 50.

Como consumidor de literatura, Saymon se divide entre o digital e o físico: “Depende do uso que vou dar ao livro. Se é para estudo, por exemplo, e vou fazer anotações, prefiro o físico, já que não gosto de fazer anotações no digital, embora isso seja possível”. Por isso, ele acredita que o e-book e o livro são formatos que não se excluem.

O também baiano Paulo Bono, 42, autor do romance Sexy Ugly, lançou o livro fisicamente e, mais tarde, rendeu-se ao digital, há pouco mais de um mês.“Uma das minhas leitoras é portadora de deficiência e me disse que preferia o digital ao físico, porque era mais fácil para ela 'folhear'. Essa foi uma das minhas motivações iniciais”, diz Bono. Paulo Bono (foto: Vinicius Xavier/divulgação) Frete Pessoas que vivem fora do Brasil também pediam a Bono que lançasse o e-book, principalmente por causa do frete. “Um leitor da Itália queria comprar, mas o envio custava três vezes o preço do livro”, diz. O autor resolveu lançar o e-book de forma independente e fez tudo sozinho.

O romance está no serviço de assinatura e pode ser baixado de forma avulsa por R$ 14,90 no Amazon. “Meu objetivo com o e-book não é ganhar dinheiro, mas chegar ao leitor. Recebo um relatório e vejo que as pessoas estão realmente lendo”, comemora o escritor.

Os autores de gerações mais novas, como Maria Luiza Maia, 25, também publicam os e-books, mas acham que o formato físico ainda é predominante.“As pessoas do meu convívio não dispensam o livro impresso. Se por um lado as editoras investem no e-book, por outro, elas também investem em edições impressas caprichadas, de capa dura...”, revela a escritora que se prepara para lançar seu terceiro livro, Tantas que Aqui Passaram, que será lançado nos dois formatos. Maria Luiza Maia (divulgação) Matheus Peleteiro, 24, já publicou seis livros, no papel e eletronicamente. Recentemente, lançou gratuitamente em e-book seu mais recente título, O Último a Sair, Por Favor, Apague a Luz e me Deixe Aqui. Publicado e escrito durante a pandemia, o conto já teve mais de dez mil downloads. E seus livros chegaram a países lusófonos da África, como Moçambique e Angola. “Já recebi um e-mail de um leitor de Angola, falando sobre um livro”, revela. Matheus Peleteiro (divulgação)