Autoridades e artistas lamentam a morte de Mario Cravo Jr.

Daniela Mercury, Leonel Mattos e Bel Borba homenagearam um dos maiores expoentes da Arte Moderna

Autoridades baianas e artistas lamentaram, nesta quarta-feira (1º), a morte de Mario Cravo Júnior, 95 anos. Contemporâneo de Carybé, Rubens Valentin e Jorge Amado, ele era o último artista modernista baiano que estava vivo. O artista plástico baiano morreu na manhã desta quarta (1º), às 10h11, por falência múltipla de órgãos. 

Por meio de nota, o prefeito de Salvador, ACM Neto, e o governador da Bahia, Rui Costa, destacaram a importância dele para a Bahia.  “O mundo perde, hoje, um dos maiores expoentes da Arte Moderna. Escultor, pintor, gravador e desenhista, Mario Cravo Júnior foi responsável por difundir a cultura produzida na Bahia com brilhantismo, ao lado de artistas como Carybé, Carlos Bastos, Jenner e Genaro de Carvalho”, afirmou o prefeito ACM Neto, que também prestou condolências à família do artista.

O governador Rui Costa ressaltou que a arte de Mario Cravo é única. "Escultor, gravador, desenhista e professor, percorreu o mundo, juntou conhecimento e experiências; e voltou à Bahia como professor universitário e diretor de museu, com uma bagagem artística extraordinária. Perdemos um ilustre nome das artes, que se eternizará na memória de todos os baianos”, disse. (Foto: Arisson Marinho/CORREIO) O presidente nacional do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB), Nivaldo Andrade, pontuou que Mario Cravo foi responsável pela consolidação da arte moderna na Bahia: "Um dos temas da minha tese de doutorado foi a integração entre urbanismo, arquitetura e artes plásticas em Salvador entre as décadas de 1940 e 1960. Cravo foi um dos maiores protagonistas desta integração".

A Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (Fecomércio-BA) disse, em nota, que orgulha-se de posssuir em sua sede, a Casa do Comércio, uma das grandiosas obras do artistas: O Cruzeiro, escultura de 16 metros de altura, na lateral externa do edifício, na  Avenida Tancredo Neves. "Em nome da memória de Mário Cravo Júnior, nos comprometemos em preservar esta grande obra".  (Foto: Divulgação) O artista visual Leonel Mattos postou uma homenagem à Mario em seu Instagram: "O grande mestre Mario Cravo , partiu, mas deixou um legado para nossa história!". O artista plástico e escultor Bel Borba também fez uma postagem: "Descanse em paz mestre Mário Cravo Jr".

O fotógrafo, artista plástico e curador artístico Mário Edson falou que, com a morte, "o Brasil, o mundo fica um pouquinho empobrecido": "Mário Cravo foi brilhar no céu", escreveu, também no Facebook.

Para a cantora Daniela Mercury, Mario Cravo Jr. deixa um legado incalculável: "Mario Cravo Jr. dá identidade à cidade de Salvador com suas obras fortes e inquietas. Entre as obras mais importantes estão A Cruz Caída, 108 esculturas no parque de Pituaçu, a Fonte da Rampa do Mercado, a Sereia de Itapuã, Oxalá, Iemanjá e Exu, dos Correios, entre outras. Ele era pai de Mário Cravo Neto, grande amigo, fotógrafo e artista plástico que fez as capas e fotos dos meus álbuns. Obras eternizadas em Feijão com Arroz, Balé Mulato e Sol da liberdade. Pai e filho agora estão juntos olhando e iluminando o mundo". Mario Cravo Neto e Mario Cravo Junior (Foto: Divulgação) Lembranças Nas redes sociais, a arquitera e urbanista Márcia Reis, que é especialista em Conservação da Arquitetura Moderna, contou que teve a honra de conviver com ele na época do projeto da Praça da Sé quando o convidou para desenvolver a Cruz Caída "que se tornou um novo símbolo da nossa cidade": "Uma perda lamentável!", disse. 

O Museu de Arte Moderna da Bahia anunciou, nesta tarde, que dedicará a exposição Acervo do MAM ao artista. A abertura será nesta quinta-feira (2), a partir das 18h. Escultura Alado - Mário Cravo Júnior: A entrada é gratuita e o funcionamento do museu é de terça-feira a domingo, das 13h às 18h (Foto: Divulgação) O médico gaúcho Mário Augusto Amici Neutzling, que foi vizinho do artista baiano por vários anos, também compartilhou lembranças em seu Facebook. Leia trecho do relato:

"Tive o privilégio de morar em cima do seu apartamento, por puro acaso. Muitas vezes eu o via caminhando pelas ruas do bairro do Alto Itaigara, sozinho, já com idade avançada, dirigir-se para tomar um cafezinho ou uma lata de cerveja na banca do Seu Zé, debaixo de uma frondosa Sumaúma. Ele ficava ali com um caderninho de notas, anotando suas ideias e imagens. Eu tinha um respeito muito grande que me impedia de aproximar-me de um homem daquela “estatura” artística e então apenas o contemplava como se contempla um herói. Certo dia me servi de minha pequena Marina, que era uma irresistível bonequinha de um ano e meio, e a usei como “chamariz” para ser notado por ele. Passamos a conversar e isso repetiu-se algumas vezes a ponto dele saber que éramos xarás e batermos papos sobre arte, filosofia e psicanálise. (...) Todas as vezes que eu falava com ele, quinze minutos de escuta me rendiam insights profundos sobre a vida e a arte, que eu ruminava por dias seguidos. Com a morte da esposa, saiu do seu apartamento e foi morar com o filho noutro bairro. Desde então o Alto Itaigara ficou sem sua maior figura. Agora descansou. Caribé, Vinicius, Jorge Amado e tantos daquela geração maravilhosa da Bahia estarão esperando ele com um Caruru no Eliseo. Vai em paz, meu querido! Gratidão pelas belezas que vc deixou para nós".

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