Babalorixá passa por corpo de delito e se revolta: 'não aceitam que houve intolerância'

Ele foi agredido em ataque a terreiro, que aconteceu no sábado (12)

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  • Yasmin Garrido

Publicado em 15 de janeiro de 2019 às 16:12

- Atualizado há um ano

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Três dias. Esse foi o tempo que a delegacia demorou para solicitar ao babalorixá Richelmy Imbiriba, do Terreiro Ilê Axé Ojisé Olodumare, que passasse por um exame de corpo de delito. Ele foi agredido na invasão que o espaço religioso sofreu no sábado (12). 

Além da demora, o babalorixá reclamou também da resistência que os policiais tiveram em alterar o boletim de ocorrência e inserir que o crime foi um caso de intolerância religiosa. “A delegada, mesmo ouvindo todas as ofensas que sofremos, os xingamentos, as provas da intolerância religiosa, ignorou. Ela não quer aceitar que houve crime de intolerância”, afirma o babalorixá, com sentimento de indignação.Segundo o religioso, a postura dos oficiais é um caso de racismo institucional. “Fui à delegacia com os advogados e eles tiveram muita resistência em editar a ocorrência, porque só queriam registrar os danos materiais, o que foi roubado do terreiro”, reclama.

Quando esteve no Institutlo Médico Legal Nina Rodrigues (IMLNR), nesta terça-feira (15), para realizar o exame de corpo de delito, o líder religioso gravou um vídeo e divulgou em suas redes sociais. Ele e um fotógrafo foram agredidos na invasão ao terreiro e levaram pontos no rosto.“O espaço Nina Rodrigues é tão simbólico para a gente. Na década de 30, fomos muito perseguidos. Era crime fazer Candomblé, e os objetos sagrados eram apreendidos e trazidos para cá”, explica.O caso está sob investigação da 33ª Delegacia (Monte Gordo). A Polícia Civil também afirmou que "não há indicativo que relacione a ação criminosa à intolerância religiosa cometida por bandidos".

Ainda de acordo com a Polícia Civil, não há novidades sobre o caso, e as investigações continuam em curso. Dois suspeitos foram identificados nessa segunda-feira (14).

De acordo com o Ministério Público da Bahia (MP-BA), “até o momento, não houve representação protocolada junto ao órgão. Após a conclusão das investigações, o inquérito vai ser encaminhado ao MP”. 

Intolerância Para a coordenadora do Centro de Referência de Combate ao Racismo e à Intolerância Religiosa Nelson Mandela, Nairobi Aguiar, o episódio não pode ser enquadrado apenas como um assalto. Até porque, os bandidos gritaram palavras de ódio ao Candomblé durante a ação. Algumas das frases foram: “Vamos bater nesses macumbeiros”; “Vocês nem deveriam praticar essa macumba aqui”; “Isso não existe, manda ele (orixá) parar”.

Ainda de acordo com a coordenadora do órgão vinculado à Secretaria de Promoção da Igualdade Racial (Sepromi), este é o motivo de haver tanta subnotificação de casos de ataque às religiões de matrizes africanas e contra o povo de santo. “É importante sempre fazer o registro, independente do tipo e da intensidade do crime”, opinou.

Lembre o caso Na noite destinada ao pai dos orixás, Oxalá, no primeiro festejo do ano, seis homens invadiram o local e, no meio da cerimônia, a transformaram em um cenário de violência, pânico e choro.

Eles entraram no templo pela porta principal, foram para o salão em que a festa estava acontecendo e deram ordem de assalto. Algumas pessoas, pouco mais de 20 das 150 que estavam no local, conseguiram fugir para os fundos do terreno, lugar em que passa o Rio Pojuca.

Durante a ação, os bandidos ordenaram que todos deitassem no chão, o que não foi cumprido pelas pessoas que estavam incorporadas pelos orixás. Após levar o celular dos adeptos que estavam deitados, os homens começaram a revistar os orixás e chegaram a chacoalhá-los e apontar armas em suas cabeças, em uma tentativa frustrada de fazer com que eles deitassem ao chão e acordassem.

Na saída, os homens conseguiram levar um carro e acabaram batendo em outros veículos que estavam no local. “Eles levaram inúmeros celulares, um carro, a câmera de um fotógrafo que estava aqui que acabou levando uma coronhada e três pontos na cabeça também, e alianças das pessoas”, narrou o babalorixá.

*Sob supervisão da subeditora Fernanda Varela