Bahia joga por vacina contra rebaixamento

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  • Paulo Leandro

Publicado em 3 de fevereiro de 2021 às 05:00

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Nascimento, doenças, velhice e morte. Entre estes estágios, desejos provisoriamente satisfeitos ou não, o tédio e as três fontes de angústia: as forças da natureza, a fragilidade do corpo e o convívio humano, feito de deslealdade, ganância e traições.

O futilbol, prova da falta de compaixão, é capaz de movimentar milhões de dólares, mas incapaz de socorrer desamparados, comprar seringas, vacinas e cilindros de oxigênio a fim de alinhar-se àqueles dos quais extrai nababesco tesouro. 

Não bastassem tantas tormentas dos tempos antes normais, temos agora a enfrentar uma pandemia e, mais além, uma malta ignorante, jamais vista, neste país, a apoiar o projeto Extermínio Tático e, de quebra, agora, uma maldição a rondar: o temor do rebaixamento.

Não sei se Dado Cavalcanti leu A Arte de Viver ou A vida feliz, mas nem precisa mais, ao ensinar, estoicamente, ao grupo de jogadores: há dois males para a humanidade, o passado e o futuro.

Pois acertou em cheio o professor, no principal item da preparação para o jogo de hoje, contra o Fluminense do Rio: não há ontem, nem amanhã, apenas o tempo presente para se viver e jogar.

Soube Dado, provavelmente manifestado em intuição certeira, concentrar no agora toda a tricolor enérgeia – origem grega para força, axé, dinamismo, energia, tesão e por aí vai...

Na Odisseia contra outro grande tricolor, exibe o Esquadrão as cicatrizes no rosto de seu arqueiro, Douglas, a ser louvado como herói nos novos hinos homéricos, por ter oferecido a vida para evitar a queda da cidadela diante do Vasco.

O lance no qual recebe no rosto imolado a sola da chuteira do bruto adversário justificaria o sururu – briga generalizada –, pois o pavilhão tricolor fora ali ultrajado pela violência de quem ergue o pé como aríete.

Estivessem em campo homens como Roberto Rebouças ou Beijoca e o jogo não teria seguimento até ser capturado o agressor e supliciado com a mesma trava da chuteira com a qual feriu o valente “quíper” do Bahia: a Douglas, nossa reverência e merthiolates!

Pelo amor declarado da bola por pés colombianos, o craque Índio Ramírez, alvo de calúnia e difamação por racismo não comprovado, está na condição de Ulisses do Bahia, dada a categoria já demonstrada, fazendo desabar os zagueiros no jeito de corpo.

É dele a condução da vitória desejada contra o Pó-de-arroz, assim como pode a torcida esperar o melhor de Gilberto, devido a sua visão de águia, em alça de mira no chute a gol, mesmo experimentando de longa distância, a surpreender o guarda-valas troiano.

Não são poucos os motivos para apostar em três pontos na conta do Bahia, louvando-se a atitude acertada do presidente, ao despertar o time, em pedagógico puxão de orelhas, ferindo-lhe os brios para mostrar ser capacitado, desmentindo esta errante coluna.

Seria um motivo a menos de dor e sofrimento para os bahias sob efeitos de um mundo tão entristecedor a ponto de o barco dos presentes de Iemanjá navegar sob a bandeira do luto – negra, sem o rubro.

Manter-se na Série A, em certame com tantos jogadores e treinadores infectados, informações imprecisas sobre efeitos dos contágios, é uma alegria, em ressalva de solidariedade com os torcedores sofridos de todos os clubes deste Brasil pandêmico.

Paulo Leandro é jornalista e professor Doutor em Cultura e Sociedade.