Bahia perde valor de produção no ranking nacional

A estiagem é apontada como a principal vilã

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  • Thais Borges

Publicado em 21 de setembro de 2017 às 18:58

- Atualizado há um ano

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Se a produção de frutas está em alta na Bahia, o balanço da safra de 2015-2016 não foi tão animador para as lavouras temporárias. Foi graças à queda na produção culturas como cereais, leguminosas e oleaginosas que o estado perdeu participação no valor total da produção agrícola nacional passando de 6,5% para 4,9%. 

Mesmo assim, a Bahia continuou como o sétimo estado em valor da produção - o que pode ser atribuído, principalmente, ao crescimento da fruticultura, que equilibrou um pouco as coisas. Os números fazem parte da Pesquisa da Produção Agrícola Municipal (PAM) de 2016, divulgada nesta quinta-feira (21) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

“A gente sofreu bastante com o efeito da estiagem, principalmente no final do ano de 2015, que afetou o início do plantio de diversas culturas”, explicou o supervisor de agropecuária da Bahia do IBGE, Luís Alberto Pacheco. A área colhida com lavouras no estado chegou a diminuir 10,2% - foi de 4,8 mil hectares para 4,4 mil hectares. 

Ao todo, o valor da produção agrícola baiana recuou 5,1% - ou seja, ficou em R$ 15,7 bilhões. As lavouras temporárias – essas que precisam ser plantadas todo ano – tiveram queda média de 12,6¨no valor de produção. 

“Esse balanço foi exatamente o que a gente já tinha recebido, na prática, dos nossos produtores. Foi a queda de segmentos importantes, como a soja, o algodão e o milho. E tivemos queda em outras regiões do estado como o Baixo Sul, que normalmente não sofre com a estiagem, e afetou o cacau”, diz o vice-presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado da Bahia (Faeb), Humberto Miranda. 

São Desidério Uma das principais consequências da seca na produção foi praticamente personificada por São Desidério, no Extremo-Oeste da Bahia. Entre 2015 e 2016, a produção de algodão diminuiu 26,6% na Bahia devido à seca. 

Assim, São Desidério, que sempre se destacou como o principal produtor agrícola do país (muito disso por conta do algodão), caiu drasticamente (27,3%). Foi parar na 11º posição. Formosa do Rio Preto também caiu da 8ª para a 17ª posição. Barreiras e Luís Eduardo Magalhães, respectivamente o 17º e o 20º maiores, nem entraram para os 20 principais. 

Ao CORREIO, o secretário de meio ambiente de São Desidério, Joacir Carvalho, afirmou que o que afetou o município foi o clima e a degradação do meio ambiente. Ele diz que os caminhos para reverter o resultado ruim ainda estão sendo debatidos “Estamos discutindo que medidas tomaremos para melhorar a situação. O resultado não foi satisfatório, impactou a vida da cidade. Vamos discutir com todas as partes do governo para encontrar a melhor solução”. 

Para completar, a Bahia deixou de figurar entre os principais produtores de soja, na safra de 2016. Foram colhidas 3,3 milhões de toneladas de soja – um recuo de 27,8% em comparação ao ano passado. Somando todos os prejuízos, o estado teve um rombo de cerca de R$ 9 bilhões, como informou o titular da Secretaria da Agricultura, Pecuária, Irrigação, Pesca e Aquicultura do Estado (Seagri), Vitor Bonfim, ao CORREIO, em janeiro, durante o especial Vozes da Seca. 

Em nota enviada nesta quinta, a Seagri destacou que a Bahia passa por um período de seca prolongada, iniciado em 2011, e continua até hoje. Segundo o órgão, a estiagem voltou a se acentuar entre 2015 e 2016, afetando, principalmente, regiões fora do semiárido, como o Oeste baiano e a região cacaueira, no Sul. 

“No Oeste baiano, principal polo de produção de grãos, onde se produz a totalidade da soja baiana, 97% do algodão e cerca de 75% do milho produzido no estado, a safra de 2016 sofreu forte influência do fenômeno ‘El Niño’, considerado de maior intensidade em relação a outros anos. Como efeito do déficit hídrico, registrou-se forte retração nas produtividades de soja e milho e de algodão”, dizem, através da assessoria. 

Só o Extremo-Oeste representou boa parte do prejuízo da safra de 2015/2016. Juntos, os municípios de Baianópolis, Formosa do Rio Preto, Riachão das Neves, Barreiras, Luís Eduardo Magalhães, São Desidério, Correntina, Jaborandi e Cocos, amargaram perdas de R$ 1 bilhão, somente em 2016.

Futuro diferente No entanto, os resultados futuros devem ser diferentes. A safra de 2016/2017 já teve índices bem melhores, de acordo com o assessor de agronegócios da Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia (Aiba), Luiz Stahlke. A entidade tem cerca de 1,3 mil associados com produção média de três mil hectares nas cidades do Extremo-Oeste. 

“Já superamos tudo isso (de 2015/2016). Nessa safra atual, a gente bateu alguns recordes no algodão e na soja. Na soja, tivemos um aumento e produção de 66% em relação ao ano anterior e o algodão superou a média histórica de produtividade que era de 270 arrobas. Estamos ultrapassando 300 arrobas, o que representa, em média mais de 40%”, afirma Stahlke. Segundo ele, o lucro já deve ser R$ 1 bilhão a mais do que nos anos em que a safra fica estável, com resultados de R$ 4 bilhões. 

Isso já se reflete no fluxo no Terminal Portuário de Cotegipe – principal escoador da soja. De acordo com o diretor-executivo do terminal, Sérgio Farias, em 2017, mais de cinco milhões de toneladas devem ser exportadas por Cotegipe. "Com relação ao aumento de soja, sim, de fato, este ano teremos um recorde, algo como um crescimento de 45% em relação a 2016, mas temos que entender que 2016 foi um ano ruim, com quebra de safra". 

De acordo com a Seagri, com a normalidade climática em 2017 nas principais regiões produtoras, “a safra baiana de grãos em 2017 deverá alcançar cerca 8,1 milhões de toneladas, equiparando-se a 2015 considerada, até então, a maior de todos os tempos”. 

*Colaborou Raquel Saraiva