Bahia tem cerca de 30 festas literárias em um ano

Três estreiam em novembro: Fliu, em Uauá, Flin, em Cajazeiras, e Flican, em Canudos

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  • Laura Fernades

Publicado em 9 de novembro de 2019 às 06:00

- Atualizado há um ano

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Flica, Flipelô, Flin, Flican, Fliu... As feiras e festas literárias não param de crescer na Bahia e acompanhar as siglas das “Fli’s” pode até virar um trava-língua. Para se ter uma ideia, no último ano foram realizados cerca de 30 eventos do tipo no estado, segundo dados da Fundação Pedro Calmon, e só este mês acontece a estreia de três deles: a Festa Literária de Uauá (Fliu), a Feira Literária de Canudos (Flican) e o Festival Literário Nacional (Flin), em Cajazeiras.

As três novas Fli’s acontecem nas próximas semanas com nomes que transitam pela literatura e por outras linguagens artísticas. Entre eles, estão os cantores Lázaro Ramos, MV Bill, Lirinha, Luedji Luna, Siba, Juliana Ribeiro e Bule-Bule, além da jornalista e humorista Maíra Azevedo, a Tia Má, e os escritores Daniel Munduruku, Lívia Natália e Ryane Leão.

“Vejo o fenômeno das Fli’s como um movimento positivo, embora careça sempre de planejamento e amadurecimento em relação ao conceito da festa. Esses eventos, além de aquecer a economia da região onde são realizados, proporcionam ao público um contato mais próximo com autores, artistas de outras linguagens e seus trabalhos”, destaca o jornalista Tom Correia, curador do Flin, que acontece de terça a sexta-feira, em Cajazeiras. Tom Correia é curador do Flin e ex-curador da Flica (Foto: Divulgação) Também curador da Festa Literária Internacional de Cachoeira (Flica), em 2017 e 2018, Tom ressalta que as Fli’s viraram uma espécie de filão a ser explorado e as cidades do interior que estão fazendo suas próprias festas “bebem muito na Flica, que é a maior do Norte e Nordeste”. “Desse burburinho, muitas festas literárias vão permanecer e outras não, por conta das dificuldades de captação de recurso”, pondera.

Alguns cuidados são importantes para a perenidade desses eventos, em sua opinião, como uma curadoria que pense em nomes representativos locais e nacionais e leve em conta não só a técnica, mas questões subjetivas que dão “liga na mesa”. “Ter uma unidade conceitual é uma preocupação forte. É um quebra-cabeça interessante de montar”, defende.

Descentralização Cada festa literária tem sua característica. O Flin, por exemplo, chama a atenção por levar sua programação para longe do tradicional centro da cidade: o populoso bairro de Cazajeiras. O ator e escritor Lázaro Ramos é quem marca a abertura do evento na terça- feira (12), às 10h, em um bate-papo com a cantora Luedji Luna. Juntos na mesa O Violão e a Palavra, os baianos de projeção nacional vão falar sobre sua relação com a música e a literatura.

“Isso [a descentralização] fez com que eu movesse o mundo para estar aí”, revela Lázaro Ramos. “Vai ser uma visita rápida, mas acho importantíssimo. Ainda mais Cajazeiras, que conheço por causa de minha família e do tempo em que morava em Salvador e frequentava muito. Conheço essa realidade e sei como um evento desse faz diferença na vida das pessoas”, elogia Lázaro (leia na página ao lado).

A narrativa do Flin também não está restrita aos nomes famosos e inclui artistas locais, como os grafiteiros Nikol e Enderson Araújo. “Às vezes se tem uma ideia simplista do bairro. Muita  gente pensa em Cazajeiras como um local repleto de problemas estruturais, mas esquece que tem um potencial artístico e cultural muito forte. Não só na literatura, mas na costura com o grafite, o quadrinho e o cinema”, destaca Tom Correia. Lirinha está na Fliu, na quinta-feira (14), às 19h30 (Foto: Caroline Bittencourt/Divulgação) A principal descentralização, porém, não está na capital, afinal as Fli’s ocupam cada vez mais o interior. A cidade de Uauá, por exemplo, a cerca de 430 km de Salvador, terá sua primeira festa literária esse ano. Programada para acontecer de quinta (14) a sábado (16), a Fliu reúne autores e artistas conectados com a cultura do sertão, como Lirinha, Josyara, Juliana Ribeiro, Bule Bule e Nelson Maca.

“As festas literárias estão chegando para fortalecer mais o pensamento cultural de cada localidade”, comemora o músico e cordelista Maviael Melo, curador da Fliu. Para ele, levar as festas literárias para o interior foi possível com a criação dos territórios de identidade, que permitiram o repasse de verbas do governo para cada localidade.

“Há alguns anos, houve uma preocupação em descentralizar os recursos para a cultura, que eram restritos às capitais. Para quem não tinha nada, são recursos que vão dando a possibilidade de levar outras informações culturais para essas comunidades”, elogia o curador da Fliu, cujo tema ressalta a importância da política e da arte para a reflexão e a resistência. 

Rede O boom das Fli’s é importante, mas “o número ainda é pequeno para um estado que tem mais de 400 municípios”, pondera o curador da Feira Literária de Canudos (Flican), o professor Luiz Neiva. Ao mesmo tempo em que é importante celebrar o crescimento das Fli’s, Neiva alerta para a necessidade da implantação de normas que organizem esses eventos.

O objetivo não é engessar as feiras, mas ajudá-las no processo de busca por recursos, “para que não fiquem dependendo só da prefeitura ou do Governo do Estado”, defende Neiva. Por isso, na terça-feira, será lançada a Rede Colaborativa de Festas e Feiras Literárias da Bahia, durante a abertura do Flin. Representantes de governos, prefeituras, universidades e escritores estarão presentes.“Acho que é importante ter um certo ordenamento para não ficar a feira pela feira”, reforça Neiva.O objetivo da Flican, por exemplo, é preservar a história e a memória da Guerra de Canudos com palestras, conferências, exposições fotográficas e exibição de filmes. “Mas não fica somente aí, em tematizar a história. É um momento de celebração do livro, da literatura, das artes, da diversidade cultural”, resume.

‘Eu achava que a literatura era apenas uma obrigação’, diz Lázaro Ramos

Programação do I Festival Literário Nacional (Flin)

Terça-feira (12) 10h  Lázaro Ramos e Luedji Luna 14h  Nikol, Quel e Lee27 14h30  Humor: Na Rédea Curta 15h  Joel Zito Araújo, Larissa Fulana de Tal e Tuca Siqueira 19h  Show: Luedji Luna

Quarta-feira (13) 10h30  MV Bill e Paulo Rogério 14h30  Humor: João Seu Pimenta 15h30  Shiko e Hugo Canuto 19h  Show: Panteras Negras 20h  Show: MV Bill

Quinta-feira (14) 9h  Lívia Suárez (La Frida Bike) e Bell Rocha 10h30  Jarid Arraes e Paloma Franca Amorim 14h  Canela Fina 14h   Sandro Sussuarana, RAPadura Xique-Chico, Blenda Santos 15h  Mel Duarte, Lívia Natália e Ryane Leão 19h  Regina Navarro Lins e Amara Moira 20h30  Show: Larissa Luz

Sexta-feira (15) 10h30  Tia Má 12h  Show: Bambeia

Serviço Flin Onde: Ginásio Poliesportivo de Cajazeiras Quando: De terça a sexta Entrada gratuita Clique para a programação completa

Programação Festa Literária de Uauá (Fliu) Onde: Uauá (a cerca de 430 km de Salvador) Quando: De quinta-feira (12) a sábado (16) Convidados: Marcos Canudos, Lirinha, Juliana Ribeiro, Jo- syara, Daniel Munduruku, Pola Ribeiro, Siba, Nelson Maca, Emiliano José, Bule Bule, Maviael Melo, Celo Costa Entrada gratuita Clique para a programação completa

Programação Feira Literária de Canudos (Flican) Onde: Canudos (a cerca de 400 km de Salvador) Quando: De 21 a 24 de novembro Convidados: Neojiba, Leopoldo Bernucci, Bião de Ca- nudos, Ester Figueiredo, Luitgarde Barros, Fábio Paes, Gereba, Zé Poeta, José Américo Amorim (Poeta) Entrada gratuita Clique para a programação completa