Bahia tem redução no número de doadores de medula óssea; veja como se cadastrar

Estado realiza alguns tipos de transplante, mas apenas em dois hospitais

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  • Fernanda Varela

Publicado em 25 de março de 2019 às 04:00

- Atualizado há um ano

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O transplante de medula óssea assusta pelo nome, mas é um processo simples. Para se tornar um doador, é mais fácil ainda: basta ceder 5 ml de sangue, o equivalente a uma colher de chá, e manter os dados atualizados no site do Registro Nacional de Doadores de Medula Óssea (Redome). Basta um tubo destes de amostra de sangue para cadastrar o doador (Foto: Pedro Moraes/GOV BA) Apesar de ser um procedimento simples, o estado tem tido uma redução no número de cadastrados nos últimos anos. Desde que atingiu 26.668 cadastrados, em 2015, o número diminuiu: 25.355 em 2016, 18.337 em 2017 e 17.152 no ano passado. O Hemoba explicou, através da sua assessoria de comunicação, que não considera o número como uma baixa porque tem, atuamente, um teto de 20 mil inscritos por ano.

Na Bahia, são 168.120 pessoas cadastradas. De acordo com a coordenadora de captação do local, Iara Matos, para se tornar um deles, basta comparecer a um dos 25 postos da Fundação de Hematologia e Hemoterapia do Estado da Bahia (Hemoba), com documento de identificação, e realizar o cadastro. Após a coleta, em até dois meses a amostra passa por uma análise e fica no sistema em busca de algum receptor.

A boa notícia é que, em 2019, o estado já é o 3º com maior número de novos membros, com 2.674, atrás apenas de São Paulo (11.488) e Paraná (3.711). 

Para além da redução no número de inscritos, a Bahia também tem limitações quando o assunto é transplante de medula óssea. De acordo com a Secretaria da Saúde do Estado da Bahia (Sesab), apenas dois hospitais em toda a Bahia realizam o procedimento: o Hospital Universitário Professor Edgard Santos (Hupes), conhecido como Hospital das Clínicas, pela rede pública, e o Hospital São Rafael, que realiza o procedimento pela rede particular. 

Além de serem poucas unidades de saúde, as duas têm limitações e só realizam transplantes Autólogos (quando o paciente doa a medula para ele mesmo), ou Alogênico de Aparentados (o paciente recebe doação de um parente). No estado, nenhum hospital faz o procedimento Alogênico de Não Aparentados (entre doadores sem têm parentesco). Gráfico do Redome mostra que Bahia apresentou redução de doadores desde 2015 (Foto: Divulgação) Coordenador do Centro de Transplante de Medula Óssea do Hospital das Clínicas e do Hospital São Rafael, o professor de hematologia da Universidade Federal da Bahia (Ufba), Marco Aurélio Salvino, explica que, apesar da Bahia realizar alguns tipos de transplante, muitas vezes precisa encaminhar os pacientes para outros estados por falta de leitos. “A gente ainda encaminha muitos pacientes para fora do estado porque temos um grande problema, que é a baixa disponibilidade de leitos. Na rede pública ainda é pior. Então, para que não façamos uma fila de pacientes esperando leitos, acabamos encaminhando, para não acumular e não prejudicar o tratamento”, explica.Os baianos que não podem ser atendidos vão para algum hospital vinculado ao Redome, em São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Distrito Federal, Ceará, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Paraná ou Porto Alegre.

No caso do tratamento pela rede pública, o tratamento é totalmente pago pelo Sistema único de Saúde. A Coordenadora do Sistema estadual de Transplantes, Rita de Cássia Martins Pinto, explica que “o Serviço Social da Instituição onde se encontra o doador cadastrado organiza o processo de localização do melhor Centro Transplantador fora do estado e se reporta ao Tratamento Fora do Domicílio (TFD) para que a compra das passagens e diárias sejam efetivadas”.

A Bahia é 3º estado com maior número de novos cadastrados em 2019, 2.674, atrás apenas de São Paulo (11.488) e Paraná (3.711). Segundo Salvino, o transplante de medula é utilizado no tratamento de mais de 80 doenças, sendo as mais comuns são mieloma múltiplo, no caso do Autólogo, e leucemia mielóide aguda, nos Alogênicos. No estado, 60% dos transplantes são Autólogos. (Infográfico: Editoria de Arte do CORREIO) Tipos de doação No Brasil, são 4,8 milhões de doadores cadastrados, para uma média de 850 pacientes que buscam um doador. No entanto, o número não é alto. Isso porque, o transplante de medula exige total compatibilidade entre doador e receptor, para que o material não seja rejeitado. 

Quando se trata de um anônimo, a chance de ser 100% compatível é de 0,001% - 1 a cada 100 mil. Já a de um irmão (mesmo pai e mesma mãe) é de 25%. Os pais são descartados por serem 50% compatíveis, já que doaram metade da carga genética dos filhos. 

De acordo com Décio Lerner, diretor do Centro de Transplante de Medula Óssea  do Instituto Nacional de Câncer (Inca), a doação pode ser de duas formas: em centro cirúrgico (coleta das células diretamente de dentro da medula óssea) ou por aférese (através de uma máquina de doação de sangue).

Segundo ele, na primeira opção, o doador é anestesiado e, com uma agulha, o médico faz perfurações na região da bacia, retirando o material. Não há corte na pele. Depois, o paciente recebe a doação pela veia, em uma bolsa semelhante à de doação de sangue - enquanto a bolsa comum de sangue tem 350 ml, a de medula varia de 500 ml a um litro.

O doador recebe alta em 24h e a medula se regenera totalmente em 15 dias.

Já no segundo método, o doador toma um remédio por 5 dias para estimular a multiplicação das células da medula, que migram e podem ser colhidas pela veia do braço.  “A escolha do método é feita pelos médicos e varia, por exemplo, de acordo com o peso do dador ou do receptor. Quando um receptor é obeso e o doador é magrinho, a preferência é por aférese, porque não podemos tirar um volume muito grande direto da medula do paciente, na bacia. E precisaria de bastante material. Então, optamos pela máquina, que consegue tirar uma quantidade maior de medula. Os dois métodos são eficazes”, explica.

O especialista diz, ainda, que a palavra do doador também é levada em conta. “A maioria respeita o que dizem os médicos, mas se o paciente disser que só doará de uma das formas, ele é respeitado e dá a palavra final”. 

No caso da aférese, o risco para o doador é nulo. Já na opção do centro cirúrgico, segundo Lerner, é baixíssimo. “Só não é zero porque pode haver alguma alergia ou problema com a anestesia, mas é muito raro, porque existem cuidados prévios”.

Segundo ele, os processos não provocam dor. No máximo, um incômodo local, que pode ser tratado facilmente com analgésicos.

O que precisa para doar?

– Ter entre 18 e 55 anos de idade. – Estar em bom estado geral de saúde. – Não ter doença infecciosa ou incapacitante. – Não apresentar doença neoplásica (câncer), hematológica (do sangue) ou do sistema imunológico. – Algumas complicações de saúde não são impeditivas para doação, sendo analisado caso a caso.

Doenças que impedem cadastro e doação

AIDS / HIV -Pessoas diagnosticadas com HIV (AIDS) não poderão realizar o cadastro.

HEPATITE O cadastro será permitido nos seguintes casos: – Vacinação para prevenção de Hepatite – Histórico de tratamento completo de Hepatite A

Não será permitido o cadastro em casos de: – Diagnóstico das Hepatites B e C – Portadores do vírus das Hepatites B e C (conhecido como infecção crônica)

CÂNCER – Histórico de lesões pré-cancerosas – Câncer de pele localizado (células basais ou células escamosas) – Melanoma in situ curado – Câncer cervical in situ curado – Câncer de mama curado – Câncer de bexiga curado

DOENÇAS AUTOIMUNES O cadastro só será permitido nos seguintes casos: – Tireóide de Hashimoto e Doença de Graves tratadas com sucesso e situação clínica estável

Não será permitido o cadastro em casos de: – Artrite Reumatóide – Lupus – Fibromialgia – Esclerose Múltipla – Psoriase – Vitiligo – Síndrome de Guillain-Barre – Púrpura – Síndrome Antifosfolipidica – Sindrome de Sjogren – Doença de Crohn – Espondilite Anquilosante

EPILEPSIA O cadastro é permitido nos casos da doença controlada, com ausência de convulsões no último ano.

DOENÇAS SEXUALMENTE TRANSMISSIVEIS O cadastro é permitido em casos de doenças sexualmente transmissíveis, como Herpes, HPV, Clamídia e Sífilis.

DIABETES Pessoas diagnosticadas dom Diabetes deverão consultar o seu médico para analisar a atual situação clínica: – Geralmente, diabetes bem controlada, seja por dieta ou medicamento, será permitido o cadastro.

– Nos casos de Diabetes em que é necessário o uso de insulina ou outra medicação injetável para tratar a própria doença ou doenças renais, cardíacas, do nervo ou dos olhos (relacionadas com a Diabetes), o cadastro não será permitido.