Baiana Pitty estreia nova turnê na Concha Acústica após dois anos

Com momentos intimistas, o show desta sexta (24) traz referências à Salvador e ao primeiro disco dela, Admirável Chip Novo

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  • Naiana Ribeiro

Publicado em 24 de agosto de 2018 às 06:17

- Atualizado há um ano

. Crédito: Maria Laura Moura/Divulgação

Quinze anos após sair de Salvador, a baiana Pitty, 40 anos, volta à terra natal nesta sexta-feira (24) com a sua nova turnê, Matriz. O trabalho une influências de vários gêneros que fazem parte da bagagem cantora e compositora. “É uma ponte entre meu quartinho dos fundos com violão de nylon, em Salvador, até os dias atuais, usando programação e beats nas músicas novas”, resume, em entrevista ao CORREIO.

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Quem for ao Festival de Inverno Bahia, em Vitória da Conquista, sábado (25) também poderá presenciar um pouco dessa nova fase da roqueira, que apresenta uma versão menor do show. Baiana ficou mais de dois anos longe da estrada e se diz renovada (Foto: Mauricio Nahas/Divulgação) Com muitos momentos intimistas e cenário composto por desenhos de Eva Uviedo, a apresentação na Concha traz ainda referências do primeiro disco de Pitty, Admirável Chip Novo (2003), e de outros projetos da sua carreira. A abertura da noite ficará por conta de Larissa Luz. “Esse show foi pensado de forma a trazer às pessoas para o começo de tudo, para as ruas de Salvador, para a simplicidade de uma banda tocando, mas de forma atual e sem soar nostálgico. Se chama Matriz porque se propõe a entender essa conexão entre uma menina compondo suas primeiras músicas em Salvador até essa relação com eletrônico e outros estilos musicais, e novas parcerias”, completa a artista, que está ansiosa para apresentação.

Confira especial do CORREIO sobre Admirável Chip Novo, álbum de estreia de Pitty

No repertório, estarão os singles mais recentes Te Conecta, Na Pele, com participação de Elza Soares, e Contramão, com Emmily Barreto e Tássia Reis, além de sucessos da carreira. “Voltar a tocar aqui é muito especial para mim, por toda história, toda bagagem que isso traz. Eu sinto uma conexão maior com o público por conta da vivência, por ter passado toda minha vida e me construído nessa cidade como pessoa e como artista”, afirma Pitty. 

Ainda sem previsão de lançamento, o novo álbum dela será de estúdio e terá algumas canções lançadas ao longo da turnê. Nas canções inéditas, Pitty fala da capital baiana de forma mais evidente. “Após mais de uma década morando fora, a herança das ruas, cores e sons de Salvador é ainda mais forte e tem aflorado muito nas minhas músicas. Talvez seja o disco mais livre que a gente já fez, com colaborações, gente diferente, feito em diversos lugares e circunstâncias. Vai ser bem plural nesse sentido. Tenho gravado cada música de um jeito”, garante. 

A turnê antes do álbum, ela explica, faz parte desse novo ciclo experimental. “Queria inverter um pouco a lógica e a gente tava louco pra cair na estrada. Hoje em dia, mais do que nunca, não existe regra. Acho que a tecnologia e as redes cada vez mais possibilitam inventar novas formas de fazer as coisas”, pontua. Confira fotos da turnê de Maria Laura Moura/@mahmoura.

Transformação Muita coisa mudou desde que ela saiu de Salvador. Nesses anos, a cantora entrou para história do rock nacional: atravessou uma cena extremamente machista, precisou reafirmar-se enquanto mulher roqueira e sair da sua zona de conforto. Há dois anos, a cantora Pitty deu à luz sua primeira filha, Madalena, um momento que, de tão transformador, lhe deu repertório para produzir o documentário sobre maternidade e carreira Do Ventre à Volta. “Ainda estou elaborando e descobrindo isso. Pensando de forma pragmática, influencia na falta de tempo! (risos). A correria anda maior por ter que encaixar tudo”, pontua. Pitty e Madalena (Foto: Reprodução/Instagram) Apesar das mudanças – hoje ela é uma estrela nacional - a essência permanece. Com uma voz potente, irreverência, estilo único e personalidade forte, a baiana continua ensinando às novas gerações a não julgar o próximo e busca, em todos os seus projetos, lutar contra padrões e preconceitos. Ela virou um símbolo feminista não só na cena local como nacional. “Isso tudo está muito entranhado em cada célula do meu corpo. Está marcado, é uma coisa que eu carrego. Está na minha matriz, na formação, no andar nas ruas, no ser mulher em Salvador, no ser roqueira em Salvador. Hoje, mais do que nunca, eu posso sentir a Bahia que carrego em cada centímetro do meu corpo e mente. Ver de fora traz essa oportunidade, poder olhar sem opressão”. 

Em tempos de retrocessos e ondas conservadoras na arte, Pitty considera essencial seu papel enquanto agente de transformação:“Tenho que contribuir com questionamentos e reflexões, propor e pensar junto. Meu papel também é de não se contentar, de trazer uma inquietude saudável e necessária para que continuemos batalhando pelo nosso lugar”. (Foto: Mauricio Nahas/Divulgação) ServiçoO quê: Turnê Matriz, com Pitty e abertura de Larissa LuzQuando: 24 de agosto (sexta), 18hOnde: Concha Acústica do Teatro Castro AlvesQuanto: Arquibancada – 2º lote: R$ 100 (inteira) e R$ 50 (meia) | Camarote – 2º lote: R$ 200 (inteira) e R$ 100 (meia)Vendas: Ingressos para o espetáculo podem ser adquiridos na bilheteria do Teatro Castro Alves, nos SACs do Shopping Barra e do Shopping Bela Vista ou pelos canais da Ingresso Rápido.

Mais perguntas que fizemos à Pitty. Larissa Luz vai abrir seu show aqui na Concha. Qual a sua relação com ela? Acho Larissa uma potência. Adoro o trabalho dela, as composições, o texto, a postura. A gente tem um monte de coisa diferente sonoramente, e tem a intersecção estética, ideológica. Isso é massa, porque a gente sai dessas amarras, de que isso é rock, isso não é, isso é pesado, isso não é. Música e sentimento vão além disso, independente de usar beats ou guitarra, o peso e a intensidade estão na essência. Larissa tem esse peso. Adoro cantar com ela, rola uma onda muito boa juntas.

A turnê Matriz tem a ver com autoconhecimento? Sim. Há pouco tempo Rafa Ramos (produtor) pintou aqui em casa e trouxe a demo de 18 músicas que eu mandei pra ele lá em 2002. Fiquei de cara quando ouvi, não lembrava um monte de coisa. Tinha várias coisas só voz e violão, tinha sample de Pink Floyd numa música, tinha outra que era só beat e voz e eu rimando, e tinha um reggae. Aí caiu a ficha, de que na real o que eu tenho feito e essa busca de hoje já existia lá atrás. É a mesma essência, com outras ferramentas, porque o mundo e a gente vai mudando. Mas eu entendi que estava tudo ali na Matriz. Aí pensei o palco e a estética para esse conceito; o bom e velho pano de fundo revisitado com uma linguagem atual, uma banda de rock tocando mas sem medo de usar beats...

Leia aqui entrevista completa com Pitty no aniversário do seu primeiro disco