Baianas produzem 1º documentário sobre mulheres na capoeira

A iniciativa é do grupo de estudos e intervenção Maria Felipas; saiba como ajudar

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  • Kalven Figueiredo

Publicado em 30 de janeiro de 2019 às 18:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Julia Kan / Divulgação

Para dar mais visibilidade às mulheres da capoeira e suas lutas, o grupo de estudos e intervenção Maria Felipas idealizou o documentário Mulheres da Pá Virada. A iniciativa tem o objetivo de retratar a história de 12 mulheres baianas que certamente deixaram sua contribuição para a capoeira. “A ideia surgiu a partir de nossas lutas. [...] Nós mulheres já passamos por situações de opressão, de violência e de silenciamento. Então percebemos que estamos em um momento que essas coisas não sejam mais cabíveis. Nós entendemos que esse doc é estratégico para o empoderamento da mulher na capoeira de agora”, avalia a pesquisadora e contramestra Lilu. 

O projeto foi contemplado no Prêmio Capoeira Viva ano II, através da Fundação Gregório de Mattos com apoio da Prefeitura de Salvador. No entanto a quantia viabilizada foi para realização de um curta que inicialmente teria por volta de 20 minutos. No entanto durante o processo de produção, o coletivo sentiu a necessidade de dar visibilidade a mais mulheres e dobrar a quantidade inicial, que era de seis mulheres, para 12. Além de remunerar melhor a equipe responsável e as mulheres que participam do documentário. 

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Um filme com esta temática é pioneiro, já que, segundo as pesquisadoras do coletivo, não há um documentário que retrate as mulheres da capoeira como o foco principal da obra. “Embora existam alguns materiais que abordem o tema como o livro, A Mulher Entrou na Roda”, de Mestra Bel (Izabel Cordeiro); curtas no YouTube e trabalhos acadêmicos. Documentários sobre este tema ainda não são uma realidade”, avalia a contramestra Lilu.

A pesquisadora lembra que embora a mulher sempre tenha marcado presença na roda, nas mais diversas configurações da roda de capoeira, ela sempre foi alvo de preconceito dentro e fora da roda. Isso porque nas primeiras configurações de roda de capoeira, a mulher que participasse daquela expressão cultural seria considerada vadia. “A mulher sempre fez parte da roda, há muito tempo atrás como mulheres que eram consideradas vadias. Desde os formatos mais antigos em que não era organizados ritualmente como nos dias de hoje, mulheres como Maria Chicão e Maria Felipa sempre estiveram presentes. Elas ‘botaram pra lenhar’ em termos de enfrentamento ao sistema de forma camuflada e inteligente como a capoeira sempre fez. Como uma oportunidade do oprimido, inteligentemente, driblar esse sistema”, reflete. Ela ainda lembra que além do preconceito externo, dentro das rodas as mulheres eram subestimadas e colocadas em uma posição de fragilidade e espera para ter o seu momento. O que só torna a luta da mulher na capoeira mais difícil, isso porque além da pressão social precisa lidar com a falta de oportunidade e invisibilidade nas rodas de capoeira.

Um indicativo de invisibilidade que motiva o trabalho do Grupo de estudos é o número de mestras de capoeira que é muito inferior ao de mestres, segundo a contramestra Lilu. “Por isso trabalhamos com os conceitos de invisibilidade e protagonismo, no documentário”, afirma. 

A pesquisadora ainda avalia que apesar da mulher estar cada vez mais presente nas rodas, e as rodas femininas e feministas de capoeira crescerem a cada dia o preconceito ainda existe.  “Até hoje eu vejo a escola colocar o balé para meninas, o futebol para meninos e a capoeira fica ali para as meninas ‘mais danadinhas’. Isso é, para mim, um jeito de nossa sociedade ainda manter esse preconceito”, aponta. 

Por isso, a produção de um documentário como esse é tão importante para a comunidade de mulheres da capoeira. Para a viabilização do projeto, que agora contará com o dobro de mulheres entrevistadas, o coletivo abriu uma vaquinha online no Catarse que permanecerá aberta para doações até o final de março deste ano. Os interessados poderão colaborar com qualquer quantia acima de R$10 reais através do site. Para que o projeto seja viabilizado elas precisam de mais R$20 mil.