BaianaSystem lança o disco OxeAxeExu e conversa sobre o Carnaval; ouça

Saiba mais na entrevista com Russo Passapusso e Roberto Barreto

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  • Laura Fernades

Publicado em 12 de fevereiro de 2021 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Ilustração: Cristiano Rafael (Criss)/Divulgação
Capa de OxeAxeExu, disco que terá três lançamentos: 12/02, 05/03 e 26/03 por Arte: Cartaxo

O figurino de Carnaval do grupo BaianaSystem seria uma roupa de laboratório, mas aquela ideia de 2020 não se concretizou e não passou de uma premonição sobre o futuro da festa. Símbolo que hoje está associado à pandemia, a roupa seria usada no ano passado para fazer uma provocação sobre o laboratório social que é a folia momesca e seu mar de gente.

Passado um ano, as pessoas foram obrigadas a ficar em casa e o trio Navio Pirata ficou à deriva. Não vai ter live, decidiu o grupo, porque o Carnaval quem faz é o folião e sem a experiência ao vivo a festa não tem sentido, explicam o cantor Russo Passapusso e o guitarrista Roberto Barreto. Porém, para não quebrar a tradição, o grupo lança nesta sexta-feira (12) de Carnaval a primeira parte do novo disco OxeAxeExu.

Dividido em três atos, com os outros lançamentos em 05 e 26 de março, o álbum abre caminho para uma nova travessia, dessa vez virtual. O primeiro disco, composto por sete músicas, é também o primeiro ato que leva o nome de Navio Pirata. A música de abertura, Reza Forte, reforça em sua letra que só mesmo “folha de arruda, pé de coelho e sal grosso” para atravessar esses mares agitados.

“A gente estava na energia do disco O Futuro Não Demora, com tudo acontecendo, e de repente parou. Foi um choque absurdo. A gente ia fazer show com Gil em Londres, estava voando”, lembra Russo, sobre o sucesso do grupo no ano em que chegou a ser questionado sobre o tamanho e a segurança de sua pipoca. “Da última vez foi impressionante esse mar de gente, essa travessia”, reforça Beto.

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À deriva Como se fosse mais uma premonição do que estava por vir, o Navio Pirata ficou à deriva pela primeira vez na festa do ano passado e parou, literalmente, em Ondina. Agora que está começando mais um Carnaval, o grupo revive a memória do que passou e volta a ser questionado com a frase clássica “Como serão os futuros carnavais?”. Russo e Beto não sabem a resposta, mas entendem que é a oportunidade de viver algo novo.

“O Carnaval deu um vácuo na gente. A gente percebeu que realmente paramos no Carnaval e vai ser muito interessante para as pessoas verem o Baiana, que tem uma interação e uma vivência tão forte com esse laboratório social, apresentar esse trabalho”, destaca Russo, sobre a experiência inversa de criar primeiro um disco e só depois apresentá-lo ao vivo.

Como a folia momesca só faz sentido “quando existe a experiência” em si, na opinião de Beto, o novo disco será lançado no meio da festa. “Por isso que o Navio Pirata volta a navegar na sexta-feira de Carnaval. Foi a única maneira que a gente entendeu que conseguiria comunicar algo, mesmo que imageticamente, virtualmente”, resume o guitarrista, sobre o trabalho que mostra o Navio Pirata partindo da África em direção à América Latina.

Tanzânia? Quando se tocou que a conexão virtual fortalecida com a pandemia permitia o contato com qualquer lugar do mundo, Russo pensou “Por que não a Tanzânia?”. Foi o que o Baiana fez: entrou em contato com artistas do país que fica no leste da África e os trouxe para o novo disco produzido por Daniel Ganjaman. Estão lá o cantor Makaveli e o DJ Jay Mitta, ambos da cidade de Dar es Salaam.

Além deles, OxeAxeExu conta com a participação do rapper BNegão, da cantora Céu e de Dona Ritinha, rezadeira do sertão da Paraíba. “A gente estava, em tempo real, mandando imagens, trocando emoções e falando com eles. Então, esse navio imagético ficou fazendo essa travessia constantemente para dizer, hoje, que nosso Carnaval é essa mensagem na garrafa”, explica Beto.

A capa de OxeAxeExu já começa com a ideia de “luto e luta”, em uma bandeira preta feita por Cartaxo a partir da obra The New Brazilian Flag #2, do artista Raul Mourão. Ao contrário de O Futuro Não Demora (2019), mais esperançoso, no novo trabalho impera a realidade, o simbolismo, “a força de tudo o que estava acontecendo”, explica Russo, sobre o mundo que vivemos hoje.

Em Reza Forte, por exemplo, que ganhou um clipe gravado durante cinco dias com o ator Fábio Lago e BNegão, a letra diz que o “mundo é perigoso” e que “no mundo cão do dinheiro eu vou sem medo de errar”. Já em Nauliza, a letra feita com Makaveli e Jay Mitta diz que “No clima não subestime na crise não vá pro crime/(...) Pobre tem que ajudar pobre/Do rico já tem quem cobre”.

“Não queremos fazer um trabalho fora da realidade, principalmente nesse momento”, justifica Russo. Portanto, na impossibilidade de aglomerar e na ausência de uma live – já que o grupo só faria se pudesse testar ou vacinar pelo menos 100 pessoas para registrar o encontro real entre elas –, os fãs podem escutar o disco que está sendo feito em tempo real. A segunda parte ainda está sendo gravada.

Em outras palavras, o Baiana “não vai parar”. “Vamos continuar lembrando do calor humano, vamos continuar com essas memórias afetivas na cabeça. Foi o material emocional que moveu a gente. Sem ele, a gente não teria possibilidade de estar jogado em um navio que a gente não sabe onde vai parar. Tem que acreditar e continuar”, diz.